Rio - Acharam que só iria ter novidade de política regional depois do Carnaval, certo? Eu também. Mas permitam-me uma saideira antes da folia. O presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, não vai apenas defender na convenção nacional de seu partido, em junho, o apoio à candidatura ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) a presidente. Picciani vai também brigar pelo rompimento da aliança nacional com o PT. Sim, é isso mesmo: por ele, Michel Temer não concorre como vice-presidente ao lado de Dilma Rousseff em outubro.
Picciani soltou a bomba ontem à tarde, na entrevista que deu ao programa ‘Jogo do Poder’, que vai ao ar no domingo às 23:15 na CNT. Resumindo muito, o PMDB do Rio iria apoiar Dilma se o PT não lançasse candidato para a sucessão de Sérgio Cabral, no chamado acordo de “reciprocidade” — já que o PT comanda a chapa nacional, com Dilma; o PMDB comandaria a chapa estadual, com o vice-governador Luiz Fernando Pezão, e o PT na aliança.
Vida que segue, hoje o senador petista Lindbergh Farias tem como principal foco de sua pré-campanha atacar o governador Sérgio Cabral. Como se não houvesse amanhã. E como se não tivesse havido um passado de “estamos juntos”, lembram?
“Na medida em que o PT deu esse salto mortal sem rede — não vai chegar ao segundo turno aqui e vai acabar perdendo a eleição nacional por causa do Rio —, a minha posição de presidente é levar o partido a optar por alguém que não tenha candidato. Como o PSDB”, disse Picciani, didático. Noves fora zero, ele contou que já, inclusive, conversou pessoalmente com Aécio há mais ou menos um mês no Rio e que não vai buscar apoio ao mineiro só no PMDB.
“Já estou conversando com diversos partidos da nossa base. E já tem três ou quatro interessados em, na hora em que declararmos apoio, declarar junto”, disse o peemedebista. Só eu reparei que o homem não falou “se declararmos apoio”, mas “na hora em que declararmos apoio”?
Sobre a possibilidade de Cabral desistir de concorrer ao Senado para que a vaga na chapa fique aberta para a negociação com o PSDB, o presidente regional do PMDB foi, novamente, didático: “Eu acho que, se o PSDB ganhar as eleições para presidente no Rio, está a um passo de ganhar a eleição nacionalmente. Isso vale mais do que qualquer vaga ao Senado e a vice.”
Ah, sim, mas e se Cabral não concordar com isso tudo? “Ele vai à convenção e defende (sua posição)”, disse Picciani, que foi curto e claro: “Ele não se mete nas questões diretivas do partido, eu não me evolvo nas questões do governo.”
PSD quer prefeito de Niterói
Se Pezão e Lindbergh forem para o segundo turno, tudo vai depender de Dilma. Se tiver sido eleita ou se estiver forte no segundo turno, o senador vai ser beneficiado. Em bom ‘piccianês’: “Palanque duplo é a gente fortalecer Dilma para fortalecer nosso adversário.” Por essas e por outras, Picciani já parecia estar treinando ontem para partir para cima do PT. “É inegável o atraso em que o Brasil está pela incompetência do governo petista”, disse, depois de afirmar que “o PT do Rio é muito ruim”.
Ao ser lembrado de que o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, é um petista que apoia Pezão, Picciani foi econômico: “O Rodrigo Neves está fazendo o que ele acha certo.” Picciani sabe que Rodrigo já foi ameaçado de expulsão pelo presidente regional do PT, Washington Quaquá, se “passar do limite” — o que é igual a declarar voto em Pezão.
Atento ao imbróglio, o presidente do PSD em Niterói, deputado federal Sergio Zveiter, já mandou recado, dizendo que o partido está de portas abertas para Rodrigo. Zveiter, aliás, abriria mão de seu cargo para oferecê-lo ao prefeito. Rodrigo agradeceu, mas declinou: “Me sinto envaidecido com o convite, mas me sinto honrado e tenho orgulho de pertencer ao PT desde os 14 anos e vou permanecer na legenda.”