Rio - As convenções para lançamento das candidaturas à Presidência da República serão realizadas em junho. A do PT já está marcada para o dia 20. Mas, de acordo com a legislação eleitoral, os candidatos a cargos majoritários podem ser substituídos até 20 dias antes do pleito. Ou seja, até o dia 15 de setembro tudo pode acontecer. Por exemplo, talvez o ex-governador Eduardo Campos se convença que não faz sentido a carismática Marina Silva, a grande surpresa de 2010, ser sua vice, e não a titular da chapa do PSB. Outra possibilidade, que continua no ar apesar de todos os desmentidos, é a substituição de Dilma Rousseff pelo ex-presidente Lula. Por mais que a direção do PT rejeite esta hipótese, cada dia é um dia diferente na vida dos partidos. Como ensinou o mineiro Benedito Valadares, a política é como nuvem. Ganha novas formas a todo momento.
Antes da abertura do encontro nacional do PT no Anhembi em São Paulo, Lula e Dilma sentaram-se para traçar uma estratégia comum e cortar pela raiz a adesão de militantes ao movimento “Volta, Lula”. O ex-presidente voltou a deixar claro que não pensa em concorrer este ano, mas pediu mudanças na estratégia da campanha de reeleição. Recomendou que a propaganda eleitoral não fique limitada ao atual mandato, mas amplie o foco para as realizações dos quase 12 anos de administração petista.
Deve destacar, portanto, os avanços sociais e o desempenho da economia de janeiro de 2003 até hoje. Após a reunião fechada, o ex-presidente participou do ato público que formalizou a pré-candidatura petista. “Foi importante o Rui Falcão (presidente do PT) colocar aqui a Dilma como pré-candidata. Vamos parar de imaginar que existe outro candidato que não a Dilma, os adversários tiram proveito disso”, afirmou Lula. “Dirijo a você, presidente Lula, minhas palavras de respeito e carinho”, agradeceu Dilma.
Diante de tal demonstração de “confiança mútua”, o “Volta, Lula” está descartado? Não é essa a opinião de especialistas. Em entrevista ao jornal “Brasil Econômico”, o cientista político Antonio Lavareda afirma que “Dilma está perdendo sustentação e pode não ser candidata”. Para ele, a candidatura não depende tanto das boas relações entre Lula e Dilma, mas muito mais das pressões dos candidatos aos governos estaduais e às cadeiras na Câmara e no Senado, do PT e da base aliada. Se constatarem que a presidente perdeu, de fato, sustentação a ponto de prejudicar suas campanhas, eles vão forçar a mudança. Neste caso, a volta de Lula seria uma questão de sobrevivência política.
Por enquanto, Dilma se mantém à frente nas pesquisas de opinião. Na sexta-feira passada circulou que a pesquisa Sensus/IstoÉ traria Aécio Neves com 27% e Dilma com 31%, em situação de empate técnico. O resultado foi diferente: Aécio com 23,7% e Dilma com 35%. Mas se confirmou a tendência de queda da presidente e de alta do candidato tucano. A experiência ensina que o pior dos mundos para quem está na frente é a formação de um xis no gráfico de intenções de voto. Se a linha de Aécio continuar a subir e cruzar com a linha da presidente, o quadro será irreversível.
Assim aconteceu, por exemplo, na eleição de 2010, quando Dilma subiu aos poucos até ultrapassar o percentual de José Serra. É um caminho sem volta. Está na hora de Dilma estancar a sangria.