São Paulo - Dando prosseguimento às investigações do caso de linchamento que culminou na morte da dona de cada Fabiane Maria de Jesus, de 31 anos, a Polícia Civil de Guarujá marcou para a tarde desta quarta-feira, o depoimento de mais duas testemunhas. Eles são moradores do local onde Fabiana foi espancada no último sábado, após um boato ter se espalhado com a ajuda de uma rede social. Segundo o boato, uma suposta sequestradora de crianças estava agindo no bairro Morrinhos.
Também nesta quarta-feira, os policiais apreenderam a bermuda usada, no momento do crime, pelo primeiro homem acusado de participar do espancamento. A peça de roupa seria do eletricista Valmir Dias Barbosa, de 47 anos, e deverá servir como prova para o indiciamento do indivíduo. O eletricista teve a prisão temporária decretada nesta terça-feira e está na carceragem da Delegacia Sede.
Provas
“A apreensão dessa bermuda, somada a confissão e aos reconhecimentos são provas inequívocas da participação dele (no linchamento). Ele afirmou ser usuário de drogas e que com o clamor público foi empurrado pela multidão”, disse o delegado responsável pelo caso, Luiz Ricardo Lara.
De acordo com a polícia, Valmir se recusou a dar dados sobre outros envolvidos no linchamento, mesmo após a polícia lhe oferecer o benefício de ficar em uma cela isolada. Porém, afirmou como certa a participação de pelo menos 100 pessoas no ato. A Polícia Civil, por sua vez, estima que até 1.000 pessoas tenham ido até o bairro ver o linchamento.
Novos suspeitos
De acordo com Lara, mais cinco suspeitos foram identificados com a ajuda das filmagens em poder dos investigadores. A expectativa é que novas prisões sejam feitas ainda nesta quarta. “Continuamos hoje (quarta-feira) com as diligências que acontecem desde a morte da Fabiane. Enquanto algumas equipes vão a campo em busca de testemunhas presenciais, outras equipes analisam as imagens para individualizar as pessoas que aparecem”, afirmou.
De acordo com o advogado da família de Fabiane, Airton Sinto, a ajuda da população local tem sido fundamental para as investigações. “Grande parte dos dados que nos ajudaram a chegar no primeiro suspeito veio dos relatos e das filmagens obtidas com a ajuda dos moradores do Morrinhos. A expectativa é de que nas próximas horas outros suspeitos sejam detidos”.
Quem tiver informações sobre o crime deve ligar para o número de telefone 181. O denunciante não precisa se identificar.
O caso
Fabiane foi atacada por dezenas de pessoas, após a publicação de um retrato falado em uma página no Facebook de uma mulher que realizava rituais de magia negra com crianças sequestradas. A dona de casa faleceu na manhã de segunda-feira, depois de passar dois dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santo Amaro.
Os boatos em torno do retrato falado da suposta sequestradora de bebês circulam por páginas virtuais desde 2012. Fabiane não foi a primeira mulher a ser confundida com a falsa bruxa. Em reportagem de programa da Rede Record, veiculado em novembro de 2012, uma outra mulher alega ter escapado de um linchamento pelo mesmo motivo, na cidade de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, no Rio.
No vídeo, a dona de casa Verônica Silva, hoje com 37 anos, conta que por ter características semelhantes às do retrato falado, foi ameaçada por várias pessoas. “Eles tentaram me bater. Pegaram faca, pegaram tudo”. Verônica chegou a ser levada à delegacia da cidade. Lá o engano foi desfeito e a dona de casa, liberada.
Confusão
O retrato falado atribuído a Fabiane e a Verônica realmente existe, mas havia sido feito por policiais do Rio de Janeiro, da 21ª DP (Bonsucesso), em agosto de 2012. Na ocasião, uma mulher foi acusada de tentar roubar um bebê do colo da mãe em uma rua de Ramos, na Zona Norte da cidade.
Imagens de câmeras de segurança divulgadas na época mostraram uma mulher passando com a filha de 15 dias no colo e sendo seguida pela suspeita. A vítima estava levando o bebê para fazer o teste do pezinho em um posto de saúde. Ao sair da unidade, foi surpreendida pela mulher.
Com informações de Alcione Herzog
