Rio - A última pesquisa do Ibope sobre a sucessão presidencial deixou alguns analistas da oposição completamente perdidos. Eles esperavam que o resultado reforçasse outras sondagens recentes que vinham mostrando tendência de queda de Dilma Rousseff. Mas o que se viu foi recuperação da presidente, que subiu de 37% das intenções de voto em abril para 40% em maio. Enquanto isso, seus principais adversários, embora tenham crescido em relação à pesquisa anterior do mesmo Ibope, repetiram índices que já haviam sido apontados. Aécio Neves passou de 14% para 20% e Eduardo Campos foi de 6% para 11% em maio. Mesmo assim, continuam muito longe e, somados, não impedem a reeleição de Dilma ainda no primeiro turno. Na tentativa de manter o ânimo, os que torcem contra a candidata do PT fizeram uma salada com os números. Deram nó em pingo d’água.
Diante do fosso que foi aberto na disputa direta, eles decidiram esmiuçar outros aspectos da pesquisa. E concluíram que o favoritismo de Dilma é incompatível com o índice de aprovação de seu governo. Seria inexplicável, por exemplo, que a presidente tenha 40% dos votos, quando apenas 35% qualificam de boa e ótima sua administração. Outro número incongruente, segundo analistas alinhados ao PSDB e ao PSB: como pode Dilma se manter à frente, quando 67% querem mudanças no país, com ela ou sem ela no Planalto? Esses resultados, afirmam, mostram grande contradição dos eleitores. Para uns, representam um enigma eleitoral, para outros, trata-se de um paradoxo, pois o desejo de mudança não se reflete em preferência pelos candidatos de oposição.
Perplexos, os críticos do governo desenvolvem teorias engraçadas. Dizem que governadores que se candidataram à reeleição com índices de aprovação abaixo de 40% não tiveram êxito nas últimas décadas. Mas, ao mesmo tempo, lembram que Fernando Henrique Cardoso, com 38% em julho, foi reeleito no fim de 1998, e Lula, com os mesmos 38% em julho, também ganhou novo mandato na eleição de 2006. Ou seja, após a volta da democracia, os dois presidentes que disputaram a reeleição saíram vitoriosos, mesmo enfrentando momentos de desgaste (FHC, com o real mais fraco, e Lula, com os respingos do mensalão). Parecem não ver que a reeleição do presidente da República é a regra, e não a exceção. A teoria da desaprovação valeria se Dilma fosse candidata a um governo de Estado. Mas não é esse o caso. Ela está no poder, tem a caneta na mão e vai dispor de 17 minutos na propaganda eleitoral contra seis minutos de Aécio e dois de Eduardo Campos.
Como aconteceu com FHC e Lula, a presidente, certamente, vai subir nas pesquisas quando começar a campanha oficial, em agosto. Fica claro a cada pesquisa que o desejo de mudança não significa vontade de encerrar o ciclo do PT na Presidência. Nos últimos anos, o padrão de vida das famílias melhorou e o que se cobra são avanços em serviços essenciais como educação, saúde, segurança e mobilidade urbana. Até mesmo as raposas da oposição sabem que Aécio Neves e Eduardo Campos ainda não convenceram os eleitores de que podem governar melhor do que Dilma. Por isso, a presidente continua a liderar a corrida sucessória por ampla margem. Não há paradoxo, nem enigma. Será que Aécio e Campos vão conseguir mudar esse quadro depois da Copa? É muito difícil.
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