Belo Horizonte - Sob uma forte chuva que cai na manhã desta sexta-feira, em Belo Horizonte, a polícia local recomeçou as buscas pelos restos mortais de Eliza Samudio. Cerca de 30 agentes do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), com apoio da Polícia Militar (MG), começaram a operação por volta das 10h30, no bairro Santa Clara, em Vespasiano, Região Metropolitana de BH. Jorge Luiz Rosa Sales, primo do goleiro Bruno e que relatou onde a modelo estaria enterrada, também está no local ao lado de seu advogado, Nélio Andrade e de todos os delegados que participaram do caso.
Para a realização das buscas, os 30 policiais fecharam a Rua Aranhas e o trabalho acontece ao lado do número 870. Sob a orientação de Jorge, eles utilizam retroescavadeiras, enxadas e pás. Já foram encontrados dois objetos que seriam uma luva de construção e um sapato. No entanto, o delegado Wagner Pinto, chefe do DIHPP, afirmou que ainda não foi encontrado nada de relevante.
Moradores da região afirmaram que o terreno, próximo da residência de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, sempre esteve abandonado. No entanto, afirmaram que não viram algum movimento estranho no período em que o corpo de Eliza Samudio teria sido enterrado no local.
GALERIA: Polícia busca pelo corpo de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno
Jorge viajou na quinta-feira para a capital mineira, escoltado em viaturas descaracterizadas do Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio (Bope). Seu advogado pediu apoio à corporação, porque Jorge diz temer ser morto. O primo de Bruno levou o defensor ao terreno onde o corpo estaria enterrado antes de se apresentar à polícia mineira.
“As informações que ele deu são cabíveis de verificação. Mas isso não muda em nada a situação de quem já foi julgado e condenado”, afirmou o delegado Wagner Pinto, referindo-se aos três condenados pela morte da modelo: Bruno, acusado de ser o mandante do crime; o ex-amigo dele, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão; e Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, condenado pela execução e ocultação do corpo de Eliza.
Nélio Andrade contou que Jorge resolveu falar o que sabia porque entrou para igreja evangélica. “O arrependimento e o apoio de um tio fizeram ele falar. De 0 a 10, ele tem certeza absoluta do que contou. Tenho um nome a zelar, se não acreditasse nele, eu não faria nada”, afirmou o advogado, acrescentando que o rapaz — que cumpriu medida socioeducativa pelo crime quando era menor — não vai entrar em programa de proteção à testemunha.
O terreno fica a cerca de 13 quilômetros de Vespasiano, cidade onde Bola morava e, de acordo com o Ministério Público, local da morte. Jorge afirmou que a vítima não foi esquartejada, como contou anteriormente. “A mão dela foi cortada ainda em vida e decepada com uma faca de açougueiro, depois de morta. O corpo foi enrolado em um lençol e lacrado em um saco preto”, garantiu.
Assistindo ao crime, ele disse que segurava no colo Bruninho, filho do jogador com a modelo, cujo valor da pensão alimentícia originou a desavença. “O menino chorava muito. Parecia que sabia que a mãe estava sendo morta”. O local teria sido indicado por Bola. Jorge afirma que um buraco profundo, cavado por trator, estava aberto. “Tiramos o corpo da mala do EcoSport, da avó de Bruno, e jogamos terra por cima”, garantiu.
Contradições marcam depoimentos do jovem
Ao longo das investigações, Jorge Luiz Rosa Sales mudou sua versão sobre o crime várias vezes. Ele, que chegou a contar com proteção policial por ter fornecido detalhes do crime, sustentou, nos primeiros depoimentos, que o corpo de Eliza teria sido esquartejado e dado como comida a cães da raça rottweiler. O que sobrou teria sido concretado em uma parede.
Depois, afirmou que a modelo foi levada para a casa do jogador na Barra da Tijuca, onde permaneceu por dois dias, até ser levada para o sítio em Esmeraldas (MG). Na quinta, porém, garantiu que ela saiu de hotel direto para Minas, sem passar pela casa do goleiro.
Os depoimentos de Jorge também mostram contradições em relação a presença de Dayanne, ex-mulher de Bruno, no sítio de Esmeraldas. Em entrevista no ano passado, Jorge chegou a insinuar que Bruno sabia desde o início do plano de matar Eliza, ao contrário do que disse na quinta-feira à ‘Rádio Tupi’.
Advogados se surpreendem
Na entrevista à ‘Rádio Tupi’, Jorge alegou que mentiu no primeiro depoimento por orientação do seu ex-advogado, Eliezer de Almeida. O defensor negou e disse que nunca soube dessa nova versão. “Ele nunca me contou essa história. Se eu soubesse, o teria convencido a falar”, alegou Eliezer, que suspeita da veracidade do relato, já que é o quinto de Jorge.
Maria Lúcia, advogada da mãe de Eliza, ficou surpresa: “Se for comprovado que o corpo está lá, como o Jorge confirmou sua participação, deve ser denunciado por ocultação de cadáver. Se for mentira, pode ser por falso testemunho”.
Leonardo Diniz, que defende Macarrão, se recusou a comentar a entrevista, dizendo que as acusações não terão relevância para o processo. “Meu cliente está julgado. Não existe revisão para prejudicar réu”, disse. Já Fernando Magalhães, defensor de Bola, contou que seu cliente reagiu com indiferença.
“Jorge tem questão pessoal contra Bola e há anos tumultua a vida dele. Se fosse verdade, tentaria uma revisão e até anulação do processo, já que não houve esquartejamento nem a qualificação pela forma cruel que o crime teria sido cometido. Caso o corpo apareça, Bola será o principal interessado na perícia que, certamente, o inocentará”, concluiu.