Por thiago.antunes

Recife - Eduardo Campos, morto no mesmo dia que o avô, o também ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, já virou lenda no Recife, cidade onde nasceu e construiu sua vida política. Nas ruas, não se fala em outro assunto. E pouco importa o que dizem os jornais. Para a maioria dos pernambucanos, simpatizantes ou não de Eduardo Campos, a morte não foi acidente, mas atentado. A família, porém, não acredita nesta hipótese.

“Ele sabia que corria esse risco. A família sabia. Tanto que nunca viajava no mesmo avião que o primogênito, João. Assim como ele também evitava viajar no mesmo avião que o avô Arraes. Político que pensa no povo não pode durar muito porque os poderosos não deixam”, insinuou Múcio Santana, garçom num restaurante de Boa Viagem, bairro nobre do Recife.

Uma faixa de luto foi estendida diante do comitê central da campanha deCampos%2C no Recife %3A para parentes%2C amigos e aliados%2C agora não é o momento para falar em políticErnesto Carriço / Agência O Dia

Querido pelos amigos e respeitado pelos adversários, para os pernambucanos, Eduardo Campos fez como o ex-presidente Getúlio Vargas: deixou a vida para entrar para a história. “Não tem um pernambucano que não desconfie dessa morte. O avião virou uma bola de fogo em pleno ar. Como assim? Era um dos aviões mais modernos do mundo. Tem treta nisso daí”, apostou Marivaldo Gomes, jornaleiro.

A família de Campos não cogitou a hipótese de atentado. Ainda muito abalados com a tragédia, segundo amigos, todos creem que tenha sido mesmo uma fatalidade. A morte de Campos tirou o povo das ruas. Aliados e adversários fecharam comitês e retiraram os cavaletes com propaganda política das esquinas em respeito ao ex-governador.

No comitê central da campanha de Campos, no bairro Parnamirim, tudo fechado. E uma imensa faixa preta em sinal de luto. Na porta, apenas Seu Ricardo, camelô que vende café sempre fresquinho aos socialistas do Recife. 

O velório de Eduardo Campos e de outras três vítimas acontecerá em frente ao Palácio das Princesas%2C sede do governo de PernambucoErnesto Carriço / Agência O Dia

“Eduardo era muito respeitado aqui no Recife. E os que não gostavam dele, respeitam por causa do avô. Igual ao Velho Arraes não tinha, não. Era o homem que parava Pernambuco, querido na capital e no Sertão. O estado está de luto em respeito ao neto do Arraes, um homem sem igual”, disse Ricardo, de 57 anos. Amigo da família e militante do PSB, Artur Cunha diz que Recife só volta a falar de política após o enterro. “Não faz sentido campanha agora.”

Filho mais velho de Campos quer seguir os passos do pai

O segundo filho mais velho do ex-governador Eduardo Campos, João Campos, de 20 anos, disse ontem que o país não pode deixar morrer os ideais de seu pai. Herdeiro político de Eduardo Campos, João seria candidato a deputado federal nestas eleições, mas a pedido do pai deixou para concorrer apenas em 2016 ou 2018, após concluir a faculdade. João era seu companheiro nas campanhas desde pequeno e vinha sendo preparado para entrar na vida política.

“Ele está abatido, mas firme. Disse que perdeu um pai, um líder, mas que não se pode deixar morrer suas bandeiras, seus ideais, que são o futuro do país”, contou Joaquim Pinheiro, primo de Campos.

Morte une clubes de futebol

A tragédia que matou Eduardo Campos fez o que parecia impossível acontecer: unir as torcidas de Sport, Náutico e Santa Cruz, rivais históricos no futebol pernambucano. Campos era torcedor fanático do Náutico, mas sempre tratou com respeito e deferência os demais. A ponto de frequentar a Ilha do Retiro e o Arruda, estádios de Sport e Santa Cruz.

“Eduardo fez muito pelo futebol. Na verdade, fez pelo torcedor, permitindo o acesso do povão ao estádio ao trocar notas fiscais por ingresso”, contou o torcedor do Santa Cruz Robério Miranda, lembrando que o clube homenageou o ex-governador no jogo de ontem, à noite, contra o Santa Rita-AL, com o time entrando em campo com camisetas personalizadas em referência a Campos.

Morte de presidenciável une clubes historicamente rivaisReprodução Internet

“Eduardo Campos sempre ajudou o Santa Cruz quando passamos por nossas maiores dificuldades. E fazia isso sem exibicionismo, sem alarde. Estamos solidários a todos os amigos e parentes neste momento”, disse Antonio Luiz Neto, presidente do Santa Cruz.

O Náutico homenageou seu torcedor ilustre em nota oficial publicada no site do clube. O Sport foi além, exaltando não apenas Campos como todas as vítimas do desastre aéreo. O assessor do ex-governador Carlos Percol era torcedor fanático do clube.

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