São Paulo - Antônio Ermírio de Moraes acreditava no Brasil. Mais que isso, confiava na capacidade de crescimento do país, independentemente de seus governantes. O presidente de honra do grupo Votorantim, que morreu ontem, aos 86 anos, foi responsável por consolidar o conglomerado como um dos principais da América Latina. Fez parte também da primeira lista de bilionários criada pela Forbes, em 1987, e permaneceu no ranking desde então. Atualmente, tinha fortuna avaliada em US$ 3,9 bilhões (R$ 8,89 bilhões) segundo a publicação.
Engenheiro metalúrgico formado pela Colorado School of Mines (EUA), Antônio Ermírio iniciou sua carreira na Votorantim em 1949. Foi responsável pela instalação da Companhia Brasileira de Alumínio, inaugurada em 1955. Assumiu a liderança da empresa ao lado do irmão, José Ermírio, em 1973, após a morte do pai. A partir daí, o conglomerado começou a se expandir internacionalmente e está presente em mais de 20 países.
Entusiasta do empreendedorismo, Antônio Ermírio orgulhava-se em dizer que o sucesso do grupo não dependia de política. “Se tivesse de avaliar governos, fazer previsões de curto prazo, não teria progredido. Apesar dos sofrimentos, o Brasil sempre sobreviveu a governos ruins”, disse ele em entrevista à Veja, em 2003.
Além dos negócios nos setores metalúrgico, de cimento, papel e celulose, entre outros, Antônio Ermírio dedicou boa parte de sua vida à filantropia. Foi presidente de honra da Beneficência Portuguesa de São Paulo por mais de três décadas. Atuou também na Cruz Vermelha.
Publicou livros e foi colunista da Folha de São Paulo por mais de 15 anos. Suas atividades como escritor foram responsáveis pela conquista da cadeira 23 na Academia Paulista de Letras.
Foi candidato pelo PTB ao governo de São Paulo, em 1986, mas perdeu para Orestes Quércia (PMDB). Em 2002, apoiou José Serra (PSDB) na disputa contra Lula (PT) pela Presidência.
Em nota oficial, a presidenta Dilma Rousseff lamentou a morte do empresário. “Líder nato, Antônio Ermírio sempre acreditou no desenvolvimento do Brasil”.
Já o grupo Votorantim informou que perdeu “um grande líder, que serviu de exemplo e inspiração para seus valores, como ética, respeito e empreendedorismo, e que defendia o papel social da iniciativa privada para a construção de um país melhor e mais justo”.
Saúde frágil impediu de trabalhar
Aos 86 anos, Antônio Ermírio de Moraes morreu em casa, por insuficiência cardíaca, na noite de domingo, no bairro Morumbi, Zona Sul da capital paulista. O empresário deixa a esposa, Maria Regina Costa de Moraes, com quem teve nove filhos.
Em 2001, aos 74 anos, foi diagnosticado com Alzheimer e deixou de aparecer em público. Deixou o conselho de administração do grupo Votorantim e passou para os filhos o comando do conglomerado.
Segundo a revista Forbes, o executivo ainda possuía 25% da companhia. Os outros 75% são divididos entre seus irmãos e seus herdeiros, que, de acordo com a publicação, formam a terceira família mais rica do Brasil.
A biografia escrita pelo amigo de longa data, José Pastore, definia Antônio Ermírio de Moraes como um homem com a visão e a tenacidade necessárias para implementar a disciplina de negócios em um ambiente difícil.