Rio - Eleita deputada federal com mais de 300 mil votos, Clarissa Garotinho (PR) nem aterrissou em Brasília, mas já está decidida a impedir que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) assuma a presidência da Câmara. “Com ele, o Mensalão será fichinha.” Aos 32 anos, com duas passagens pela Alerj, a filha mais velha de Anthony Garotinho sente-se credenciada para ser prefeita do Rio, em 2016. A saudade do pai, derrotado nas eleições para o governo do Rio, poderá ser amenizada pela possível presença dele em um ministério — ela diz que Garotinho foi sondado para assumir a pasta dos Transportes. Para a futura deputada federal, o Congresso tem temas mais importantes para discutir do que aborto e liberação das drogas.
O DIA: A senhora concorre à prefeitura em 2016?
CLARISSA GAROTINHO: A eleição me credencia, porque fui a deputada mais votada em sete zonas eleitorais na cidade do Rio e a quarta mais votada na capital. Mas essa decisão tem que ser tomada lá na frente. Nunca escondi meu desejo de disputar a eleição e ser prefeita. Mas isto tem que ser construído. Ninguém pode ser candidato de si.
Quem a senhora terá ao seu lado? O PRB do senador Marcelo Crivella?
Acabei de me eleger deputada federal... vocês não dão trégua. É preciso esperar. Há tempo ainda.
Por que não deu certo a chapa de oposição ao PMDB na disputa pela presidência da Alerj?
Para montar uma chapa na Alerj, precisaríamos do PT, do PRB e do Psol, que tem cinco deputados. Mas quando o Psol descartou, tornou praticamente inviável a sustentação da chapa.
Na última semana a senhora, Garotinho, Crivella e representantes do PR e PRB se reuniram. Era para tratar de Alerj?
Resolvemos deixar que a bancada decida sobre o melhor a fazer para o partido depois da desistência do Psol. O fato é que não haverá adesão ao governo, mesmo numa chapa conjunta com o PMDB. Somos a segunda maior bancada. Com o bloco (união de PR e PRB, que, somados dão 11 parlamentares), ganhamos ainda mais força para a eleição da mesa diretora. Precisamos ver o espaço na Alerj.
E na Câmara Federal, como o PR vai votar para a presidência da Casa?
A única certeza é que não vou votar no Eduardo Cunha (PMDB). O chamo de o chantageador-geral da República.
Por quê?
Se ele for o presidente, a Câmara vai se transformar na casa do varejo, porque os interesses individuais vão prevalecer.
Não é sempre assim?
Uma coisa é garantir governabilidade com os partidos que são da base, contribuindo com o governo e ocupando ministérios. Outra é, a cada votação, ter que ir no varejo. Acho que isto vai acontecer em grande escala se Eduardo Cunha virar presidente: os interesses individuais vão sempre prevalecer. É ruim porque não se pensa o Brasil. Situações como essa, por exemplo, culminaram no mensalão. Eu receio que, sendo ele o eleito, o mensalão será fichinha.
Com a pasta de Transportes, o PR está bem representado em Brasília?
Eu acho que o PR é da base do governo e tem que contribuir na medida em que o governo entender que pode contribuir. Quem foi eleita para governar o Brasil foi a presidente Dilma Rousseff (PT). Ela é quem deve decidir.
Garotinho é um bom nome para o ministério?
O nome dele está sendo cotado, como o de outros no partido. É uma decisão que ele vai tomar, fazendo análises pessoais, junto a presidente e ao partido. Ele tem experiência, é ex-governador e tem boas relações com Dilma.
Cogitado pelo partido ou pela presidenta?
Pela presidente e pelo partido. Não foi nenhum convite formal, mas ministros que trabalham na articulação política sugeriram o nome dele e o de outros.
Depois da derrota, isto dá um gás ao Garotinho?
Meu pai é o político com mais força emocional que conheço. Sua força e seu otimismo nos servem de motivação. Isto independe de ir ou não para o ministério. Tivemos uma eleição totalmente atípica, onde o poder econômico foi alto e as forças populares estiveram divididas. Garotinho teve pouco tempo de televisão e poucos recursos. Mesmo sem estrutura (financeira) ele teve 1,5 milhão de votos.
Mas Crivella teve menos tempo de TV e dinheiro...
Assim como Garotinho, Crivella tem eleitorado consolidado e, naquele momento, o de Crivella foi maior. Houve ainda coisas estranhas, como a diferença do que foi apresentado nas pesquisas e o resultado das urnas. Ou os institutos erraram muito — e aí temos de fechar a porta do Ibope — ou alguma coisa está errada na urna eletrônica.
Não confia na urna?
Não é absurdo questionar. Nos países com urna eletrônica há mecanismo de auditoria. Eu sinto que existe a desconfiança cada vez maior da população sobre o processo eleitoral. Por isso, é preciso agir com mais transparência. Vou brigar para que, além do voto eletrônico, tenhamos o impresso.
Como votaria em temas como aborto e descriminalização do uso de drogas?
Sou radicalmente contra o aborto. Quando se está esperando uma criança, aquela vida não é extensão do corpo da mulher, é um novo ser. Sou a favor dos princípios da vida. Imagina o que é fazer um aborto pelo SUS, onde as pessoas não conseguem marcar cirurgia, nem atendimento básico. Há preservativos à disposição da sociedade. Cabe às pessoas se prevenirem.
E sobre o uso de drogas?
Não sou a favor de tratar o usuário como traficante. Mas não sou a favor de liberar as drogas. Por que este é um debate urgente? Vamos esperar para ver como será o resultado nos países vizinhos que autorizaram o uso da maconha. Não é isto que vai resolver a questão da violência. Vamos, depois, legalizar a cocaína? Legalizar não vai acabar com o tráfico.
Votaria na criminalização da homofobia e pelo casamento civil entre pessoas do mesmo sexo?
União civil já existe, mas casamento é sacramento.
Casamento está no Código Civil, deputada.
Casamento civil é a união civil. Você não pode obrigar um padre nem um pastor a fazer casamento, porque isto é sacramento da igreja, e ela tem o direito de defender seus valores.
A proposta no Congresso regula o Código Civil.
Não posso falar sobre o projeto porque não li.
E homofobia?
Crime é crime. Você não pode cometer crime contra ninguém. Mas também não pode haver privilégios.
É a favor da redução da maioridade penal?
No meu partido, muita gente defende. Mas reduzindo para 16 anos, o tráfico usará os de 14. Antes de se falar nisso, é preciso discutir a reforma do sistema prisional.