Por paulo.lima

Austrália - A presidenta Dilma Rousseff encerrou, neste domingo, sua participação no encontro do G20 – grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia – posicionando-se sobre os desdobramentos da Operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga o desvio de recursos da Petrobras para partidos políticos.

Em uma coletiva de imprensa concedida em Brisbane, na Austrália, a presidenta afirmou considerar que a operação "pode mudar o Brasil para sempre". "Eu acho que isso mudará para sempre as relações entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e as empresas privadas. O fato de nós, neste momento, estarmos com isso de forma absolutamente aberta sendo investigado, é um diferencial imenso", disse a presidente durante a coletiva.

"Há aí uma diferença substantiva, eu acho que isso pode de fato mudar o país para sempre. Em que sentido? No sentido que vai se acabar com a impunidade", afirmou. Na última sexta-feira, a sétima fase da operação Lava Jato levou à prisão de quatro presidentes de grandes empreiteiras, 15 executivos e o ex-diretor de serviços da estatal, Renato Duque.

A presidenta Dilma (à dir.) com Barack Obama (à esq.) e outros chefes de EstadoReuters

Afirmando que os contratos da Petrobras já estão sendo analisados, a presidente no entanto disse não considerar que o escândalo irá afetar a imagem da empresa como um todo, em um momento em que há um temor de que a credibilidade da estatal entre investidores estrangeiros seja afetada.

Citando casos de corrupção ocorridos em outros países, a presidenta disse que “não é monopólio da Petrobras estar sendo investigada por processos internos de corrupção”. “A maioria absoluta dos membros da Petrobras, dos funcionários, não é corrupta. Agora, tem pessoas que praticaram atos de corrupção na Petrobras. Então, não se pode pegar a Petrobras e condenar a empresa, o que nós temos que condenar são pessoas, e pessoas dos dois lados, os corruptos e os corruptores.”

Dilma defendeu ainda que não é possível fazer generalizações sobre o envolvimento de empreiteiras no escândalo. “Eu não acho que dá para se demonizar as empreiteiras do país. São grandes empresas e se A, B, C ou D praticaram atos de corrupção, eu acho que eles pagarão por isso”.

Durante a entrevista, a presidenta disse ainda que, entre os membros do G20, haveria uma “frustração” com o estado da economia global, já que se esperava um crescimento mais robusto em países desenvolvidos e emergentes.

A presidenta voltou a falar que o próximo ano será marcado por “ajustes” na economia brasileira. Embora não tenha entrado em maiores detalhes sobre eventuais cortes, ela sinalizou uma redução de despesas e gastos que “não levam necessariamente à ampliação” de investimentos e do consumo. “Nós vamos fazer ajustes. Nem todos os ajustes são pelo lado de cortar demanda. Os nossos ajustes, alguns deles, são inclusive reduzindo despesas que nós não achamos que sejam legítimas”, disse.

“Você tem no Brasil um conjunto de gastos e despesas que não levam necessariamente à ampliação do investimento, nem à ampliação do consumo. Essas despesas que não levam à ampliação do investimento e do consumo são aquelas que nós consideramos que podem ser cortadas.” Ainda em relação a seu próximo mandato, que se inicia em janeiro, a presidente preferiu não se pronunciar sobre as mudanças aguardadas em seu gabinete e não adiantou nomes de possíveis novos ministros.

Durante o encontro do G20, Dilma também se reuniu com os líderes do grupo Brics – que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Em um comunicado divulgado no último sábado, o grupo voltou a pedir uma reforma no Fundo Monetário Internacional que favoreça países em desenvolvimento, em uma cobrança que foi repetida pela presidente neste domingo.

Dilma também teve um encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em um momento em que as relações entre os dois países ainda estão estão estremecidas após as denúncias de que o governo dos EUA espionou empresas e líderes brasileiros, no ano passado.

Segundo a presidenta, houve “uma conversa bastante informal” com o americano, sem “uma discussão sistemática. Ela disse que os ministérios das Relações Exteriores dos dois países ainda “estudam” uma eventual visita da presidente aos EUA, após o adiamento de uma visita de Estado que faria a Washington no ano passado.

A presidenta se recusou a se posicionar ainda sobre a situação da Ucrânia, onde conflitos com rebeldes separatistas já deixaram 4 mil mortos desde abril. Governos ocidentais acusam a Rússia de apoiar os rebeldes, o que é negado pelo Kremlin. Em março deste ano, a Rússia anexou a seu território a península da Crimeia, que pertencia à Ucrânia.

Segundo Dilma, não é “do interesse do governo brasileiro” se posicionar a respeito do tema. “O Brasil, no caso da Ucrânia, nunca definiu uma posição. Nós nunca nos manifestamos e evitamos sistematicamente nos envolver em assuntos internos. Não é do interesse do governo brasileiro se manifestar a respeito de qualquer problema dentro da Ucrânia, nem de um lado nem de outro”, disse.

Interpol é acionada para prender ‘Baiano’

Dois dos 25 investigados na Operação Lava Jato ainda estão foragidos. Para capturar o lobista Fernando Soares, conhecido como Baiano, a Polícia Federal providencia a inclusão do lobista na lista de procurados da Interpol — o suspeito estaria na Europa, segundo integrantes do PMDB. A informação, no entanto, é refutada por seu advogado, Mário de Oliveira Filho, que diz que seu cliente está em São Paulo. O advogado não informou se Baiano pretende se entregar nem quando o fará.

Baiano seria o responsável por operar o esquema de propina envolvendo a Petrobras, empreiteiras e o PMDB — a assessoria do partido nega envolvimento dos parlamentares com o lobista.

Outro suspeito ainda foragido é Adarico Negromonte Filho, irmão do ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP-BA). Ele seria o operador do Partido Progressista no esquema de cartelização da estatal.
Ambos os procurados têm a prisão preventiva decretada.

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