Brasília - Tida com uma das testemunhas-chave no esquema de corrupção da Petrobras, a ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Poza, afirma que recebeu ameaças de empreiteiras e teve sua conta de e-mail invadida após ter revelado detalhes sobre as operações das empresas de fachada do doleiro, no âmbito das investigações da Operação Lava Jato.
Em sessões da CPI Mista da Petrobras, por exemplo, Poza revelou que chegou a emitir algo em torno de R$ 7 milhões em notas fiscais frias para as empresas de Alberto Youssef. Nas investigações da Lava Jato, ela confirmou que a M.O. Consultoria Comercial e Laudos Estatísticos Ltda era empresa de fachada e que outras empresas de Youssef, como a RCI Software e Hardware Ltda, a GFD Investimentos LTDA e Empreiteira Rigidez, foram criadas com o intuito de emitir notas fiscais frias para legalizar o pagamento de propina tanto à Youssef, quanto para o ex-diretor de refino e abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Em depoimento prestado à Polícia Federal dia 29 de agosto deste ano, na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, Poza afirmou aos agentes federais que se sentiu ameaçada após ser procurada por um suposto representante da empresa UTC Engenharia, de nome Edson. O representante marcou a reunião em um shopping de São Paulo e a ex-contadora de Youssef gravou a conversa. No depoimento, Poza não revelou quando foi procurada pelo suposto representante da UTC engenharia. A UTC negou qualquer tentativa de influenciar no processo da Lava Jato.
Na conversa, Edson oferece os serviços de advocacia da empresa afirmando “dona Meire, é, nós estamos preocupados com a senhora. Só isso”. Na conversa, Edson afirma que Meire é a “a única mulher dentro desse processo todo” e, em seguida, declara “sabemos que tem uma filha. E são somente vocês duas!”. Durante a conversa, o interlocutor diz: “dona Meire, o importante é não falar demais”. “A senhora pode, sem querer, ir contra grandes empresas, políticos, construtoras, as maiores do país, a senhora entendeu?”, chegou a afirmar Edson, durante a conversa com Meire Poza.
“Eu só não acho correto, sabe? Eu não tenho nenhum envolvimento com os seus clientes. Não tenho. Não tem motivo pra eles quererem pagar a minha conta, doutor, não tem”, respondeu Meire após a oferta de ajuda de serviços advocatícios. “Não, não tô nervosa. Você falou da minha filha. Vocês estão me pressionando. E estão me ameaçando”, esbravejou Poza durante esse encontro. “Não, não existe pressão. Desculpa, dona Meire. Não existe. Por favor. Não pense”, tentou se esquivar Edson.
Durante o depoimento prestado em 29 de agosto, Meire também afirmou que teve sua conta de e-mail invadida. Conforme o depoimento, no dia 27 de agosto, Meire Poza percebeu que os principais dados de seu e-mail foram alterados após notificação de seu provedor de correio eletrônico.
Entre os dados que foram alterados, estava o seu número de telefone. Segundo Meire, foi colocado um número telefônico de identificação de conta de e-mail que “não lhe traz nenhuma informação”. Ainda conforme Poza, a alteração cadastral ocorreu dois dias antes, no dia 25 de agosto deste ano.
As ameaças e alterações na conta de e-mail de Poza chamaram a atenção do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, responsável pelas investigações e, inclusive, embasou a decretação das prisões temporárias e preventivas de executivos ligados ao esquema de corrupção na Petrobras. “Com o poder econômico de que dispõem, o risco de prejudicarem as investigações e a instrução ou de obstruírem o processo através da produção de provas falsas ou da cooptação de testemunhas e mesmo de agentes públicos envolvidos de alguma forma no processo é real e imediato”, afirmou na semana passada o juiz Sérgio Moro.