Por tiago.frederico
Brasília - Ao receber nesta quarta-feira o relatório final elaborado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), a presidente Dilma Rousseff precisou interromper o discurso emocionada ao falar das famílias que perderam seus integrantes e que, sem o conhecimento da história da ditadura militar, "sofreram e continuaram sofrendo".

"A ignorância sobre a história não pacifica, pelo contrario, mantém latente a mágoa, o ódio", disse a presidente Dilma ao receber o documento. Ao interromper o discurso, ela foi aplaudida pelos que acompanharam a solenidade.

Presidente Dilma Rousseff chora ao discursar na Comissão Nacional da Verdade em BrasíliaEfe

"Ele encerra uma etapa e a,o mesmo temo, começa uma nova etapa, demarca um novo tempo", disse ela. A presidente destacou que conhecer a verdade não significa "revanchismo", característica alegada pelo então ministro da Defesa, Nelson Jobim, no ano em que a Comissão foi criada.

O relatório final é resultado de dois anos e sete meses de investigações da Comissão Nacional da Verdade (CNV) sobre atos de violação de direitos humanos ocorridos durante os anos de 1946 e 1988. Durante o evento, Dilma disse que o documento deve servir como base para mais investigações e que o governo irá se debruçar sobre o documento para viabilizar as recomendações sugeridas pela CNV.

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No relatório, composto de três volumes, dividido em 18 capítulos e tendo um pouco mais de 4,4 mil páginas, os integrantes da CNV contabilizaram a morte ou o desaparecimento forçado de 434 pessoas durante o regime militar. Os membros da CNV listaram, em detalhes, como ocorria a tortura na Ditadura e afirma que a estrutura de repressão não era ato isolado de poucos, mas uma política instituída pelo Estado.
Durante o pronunciamento sobre a entrega do relatório, o coordenador da CNV, o advogado Pedro Dallari, afirmou que o colegiado fez "o que estava ao nosso alcance e cumprimos o que a lei nos determinou".

"Em que pese as circunstâncias difíceis, em nenhum momento deixou de haver um diálogo respeitoso entre os entes do Estado Brasileiro", disse Dallari, em referência ao ministro da Defesa, Celso Amorim. Isso porque, durante as investigações, em vários momentos as Forças Armadas não disponibilizaram documentos ou informações para a Comissão da Verdade.

Presidenta Dilma Rousseff durante entrega do Relatório Final da Comissão Nacional da VerdadeDivulgação

Nos dois 2 anos e 7 meses de investigações, a CNV colheu aproximadamente 1,2 mil depoimentos em 20 unidades da federação. Ocorreram dezenas de diligências e uma extensa pesquisa documental.

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"Houve assim, uma preocupação metodológica muito rigorosa para que o relatório fosse um documento relevante e consistente para a sociedade brasileira. O relatório não representa o início ou o deste tipo de investigação pela sociedade brasileira", afirmou Dallari.
Apesar de listar mais de 400 vítimas de atos de violação de direitos humanos, Dallari disse que "o hall de vítimas não é definitivo". Para Dallari, caberá, agora, a entidades da sociedade civil e Comissões Estaduais da Verdade "continuar e aprofundar essas investigações".
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Dilma considerou que o relatório, além de esclarecer os fatos para os que sofreram diretamente os efeitos da ditadura, servirá para que os mais jovens, que nasceram após a redemocratização do país possam saber o que ocorreu.
"Agradeço àqueles que, com determinação e coragem, aceitaram testemunhar e contar suas histórias ou a história de parentes, amigos e companheiros, que viveram tempos de morte dor sofrimento e, por isso, grandes perdas. São gestos como esse que constroem a democracia", afirmou.
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"Devemos isso não só a gerações como a minha que sofreu suas terríveis consequências. Devemos isso a maioria da população brasileira que, nascida após o final do regime autoritário, não teve acesso a verdade histórica", explicou a líder.