Por bferreira
Rio - Se hoje os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque vivem preocupados com os rumos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, não faz muito tempo que eles gozavam de grande prestígio na política carioca e fluminense. Alvos da investigação por envolvimento com o suposto esquema bilionário de corrupção na estatal, ambos foram homenageados na Assembleia Legislativa e na Câmara de Vereadores do Rio, quando seus rostos ainda eram desconhecidos das páginas policiais.
Ex-diretor da Petrobras%2C Renato DuqueDivulgação

Ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Costa já afirmou que “dezenas de políticos” participaram dos supostos esquemas de corrupção que operou na estatal. Em 2010, ele recebeu a Medalha Tiradentes — a mais alta comenda da Alerj — do deputado Dionisio Lins (PP). No mesmo ano, o deputado Gilberto Palmares (PT) pediu o título de Cidadão do Estado do Rio a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, outro investigado. Dois anos antes, Palmares havia solicitado a mesma homenagem para Paulo Roberto Costa.

Agora, diante das denúncias de corrupção, Palmares propôs e conseguiu revogar a homenagem no plenário da Alerj. “Costa é, hoje, réu confesso. Naquele momento, pedi a homenagem como forma de agraciar uma pessoa importante para o Rio. Não tinha noção dessa história toda”, justificou-se.

Já Dionisio Lins descartou pedir a revogação da Medalha — algo que pode ser proposto por qualquer parlamentar ao plenário da Casa. Segundo ele, Costa foi o responsável pela instalação do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj) em Itaboraí, e, por isso, o homenagearia mais uma vez.

O deputado alega que não tem como prever o que as pessoas vão fazer no futuro. “Mas tenho a humildade de dizer que não pediria a cassação. Ele ganhou a medalha. É fato”, declarou.

Paulo Roberto da CostaAntonio Cruz / Agência Brasil

Em 2011, por unanimidade, a Câmara de Vereadores aprovou a entrega da Medalha Pedro Ernesto a Paulo Roberto Costa, por iniciativa dos então vereadores Rubens Andrade (PSB) e Patrícia Amorim (PSDB). Na plateia, o então vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB, ao lado de ministros, assistiu ao investigado pela Lava Jato se emocionar: “Quero agradecer as homenagens recebidas e dizer que sozinho jamais conseguiria chegar até aqui”, disse à época.

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Exército pede de volta comendas oferecidas em 2003
Outro escândalo, o do Mensalão, também provocou debate sobre envolvidos com corrupção e receberam homenagens. José Dirceu e José Genoino, condenados por corrupção ativa e formação de quadrilha, ganharam medalhas de honra do Exército em 2003, dois anos antes das denúncias sobre a compra de votos de deputados.
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Além deles, João Paulo Cunha (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) foram homenageados pelas Forças Armadas, por “relevantes serviços prestados à nação”. Em novembro deste ano, o Ministério Público Federal pediu, no entanto, a cassação das comendas.
A última licitação para confecção de medalhas Tiradentes na Assembleia Legislativa do Rio, em 2013, custou R$ 34 mil para 100 unidades. A média é de R$ 340 por medalha. Na Câmara de Vereadores do Rio, o valor é um pouco menor: cada unidade custa R$ 169,50.
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