Por tiago.frederico
Após perder a sobrancelha%2C Rosângela teve de fazer a micropigmentação da pele melhorar sua autoestimaReprodução / Facebook

São Paulo - Há seis anos Rosângela Toni, de 57 anos, convive com erupções, feridas e coceira por todo o corpo. Em 2013, começou a perder cabelos e pelos. Hoje Rosângela não tem mais sobrancelhas e tem uma falha de 40% de seu cabelo.

Aluna do curso de Gestão Ambiental da USP Leste, a estudante tenta agora na Justiça garantir seu tratamento médico em uma ação contra a universidade por tê-la exposto a contaminantes químicos causadores de seus problemas.

"Eu tenho um problema chamado atopia de pele, que torna minha pele mais sensível. As crises começaram quando eu passei a frequentar o campus, tinha muita coceira e feridas", conta. A suspeita é que ela tenha desenvolvido uma reação alérgica a um dos contaminantes da terra depositada ilegalmente na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), o óleo ascarel-PCB. A reação ao ascarel é a hipótese levantada também no relatório médico do Hospital das Clínicas.

Até a década de 1980, o ascarel era usado em equipamentos elétricos industriais, como transformadores. Por ser danoso à saúde e considerado cancerígeno, o óleo foi proibido. No entanto, é um dos contaminantes do terreno depositado no campus da USP Leste e investigado pelo Ministério Público.
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A ação da Defensoria Pública pede também uma indenização por danos materiais, morais e estéticos no valor de R$ 100 mil. "Pedimos uma indenização porque todo esse processo causou um impacto na vida dela. O sonho universitário virou um pesadelo", explica o defensor público Rafael Menezes.
Rosângela conta que a perda das sobrancelhas mexeu com sua autoestima. "Eu tinha vergonha de sair na rua, de que as pessoas me olhassem. A gente acaba ficando discriminada."
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Outro problema que tem de enfrentar é a desconcentração durante as aulas, sintoma dos antialérgicos que tem de tomar nos dias em que frequenta o campus da EACH. "Ontem fui lá e já voltei coçando."
Rosangela não desistiu de frequentar a universidade, mas acaba de mudar de curso para Têxtil e Moda. "Não tenho mais condições de frequentar um curso de gestão ambiental em um campus contaminado. Um lugar em que não se respeitam as regras que se ensinam", diz.
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Apesar de tudo, ela considera a USP uma ótima instituição: "o problema foi a gestão desastrosa."
Terra contaminada
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Com atividades desde 2005, o campus da USP Leste, em Ermelino Matarazzo, tem um histórico de problemas em seu terreno. Criado em uma área de várzea do rio Tietê, o terreno estava contaminado com material orgânico, o que produzia, entre outras coisas, o gás inflamável metano.
Relatório de evolução Clínica de Rosângela Toniarquivo pessoal

Na época, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) fez exigências para a universidade de despoluição do solo e controle do gás.

Entre 2010 e 2011, um aterro foi feito na área da universidade com terra de origem desconhecida. O material estaria contaminado por metais pesados e outros contaminantes, como o ascarel.
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Em 2013, a USP foi autuada por não ter cumprido essas exigências e uma parte do campus é interditada por "conter contaminantes com risco à saúde".
No fim de 2013 o campus foi interditado por ter bebedouros com água imprópria para consumo, além de uma epidemia de piolhos e ácaros de pombos nas salas de aula e laboratórios.
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Em janeiro do ano passado, a Justiça decidiu fechar o campus da USP Leste por causa da presença de gás metano no terreno com risco de incêndio. A unidade só voltou a ter aulas emagosto de 2014 após a USP tomar algumas medidas de segurança.
Desde então, o sistema de ventilação do gás metano está em funcionamento e é feito o controle diário de concentração do gás. E a área em que a terra sem certificação está concentrada foi isolada com tapumes.
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"Não basta isolar a área. Todos que estamos aqui já fomos expostos aos contaminantes. Eu mesmo frequento o campus há dez anos", afirma o professor Alberto Tufaile, de 47 anos, que diz também processar a universidade pela exposição a um ambiente de risco.
Segundo a EACH, cerca de 7.000 pessoas passam diariamente pelo campus da unidade.
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Outro lado
Em nota, a USP afirma que foi procurada pela alunas apenas no dia 21 de fevereiro de 2014 e que colocou o Hospital Universitário à disposição da aluna e que não tem registro de que a aluna tenha comparecido ao hospital.
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Segundo Rosângela, a unidade é muito distante de sua casa, na periferia de Guarulhos.
A EACH afirma ainda que professores, alunos e funcionários da EACH têm acompanhado todas as ações realizadas no campus USP Leste em relação às questões ambientais.
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Sobre a terra não certificada depositada no campus, a USP afirma que há um edital aberto para contratar um serviço de investigação ambiental detalhado e avaliação de riscos toxicológicos. A partir desses estudos, a Cetesb irá determinar o que ainda deve ser feito.
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Reportagem de Cristiane Capuchinho, do iG São Paulo.
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