Por bferreira

Rio - Os caminhoneiros concordaram em suspender a greve, que já durava uma semana, após o governo federal aceitar prorrogar o financiamento de caminhões, além de segurar o reajuste do diesel por seis meses. A paralisação pode voltar, caso o governo não cumpra o que foi acordado.

Após reunião com representantes da categoria, o secretário-geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, anunciou as medidas propostas, mas afirmou que elas só seriam mantidas se houvesse interrupção do movimento. Também foram oferecidas a sanção integral da Lei de Caminhoneiros, que prevê isenção de pedágio quando o veículo volta vazio.

Após bloquear estradas, caminhoneiros ganharam prazo de 12 meses para começar o pagamento de crédito para aquisição de caminhõesReuters

Em entrevista na noite de ontem, o ministro explicou que “interessa aos caminhoneiros e ao país que haja a suspensão das manifestações para darmos continuidade ao diálogo”. Entre os pontos, o mais importante, segundo Rossetto, é a sanção da lei que fixa jornada de trabalho de oito horas por dia desses profissionais, com até duas horas extras.

O texto-base foi aprovado em julho do ano passado, mas emendas só foram acatadas pela Câmara no último dia 11. Desde então, a lei estava pronta para ser sancionada por Dilma Rousseff, mas havia a possibilidade de vetos em alguns artigos.

Outra reivindicação, a redução no preço do diesel, foi recusada pela presidenta. Em cerimônia de entrega do Minha Casa, Minha Vida em Feira de Santana (BA), Dilma explicou que o valor estava defasado. “Passamos 2013 e 2104 sob críticas dizendo que governo e a Petrobras tinham que elevar preço. Não elevamos, passamos todo o período de US$100 a US$120 o barril sem mexer significativamente nos preços. E agora também não mexemos, o que fizemos foi recompor a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico)”, disse.

Conforme o ministro, porém, a Petrobras garantiu que o valor do diesel não será reajustado nos próximos seis meses. Com relação ao financiamento pelo programa Pró Caminhoneiro, ele afirmou que haverá carência “ou seja, não pagamento”, por 12 meses.

“Isso beneficia caminhoneiros autônomos e microempresas.”Por fim, Rossetto disse que será instalada mesa de negociação permanente, entre governo, caminhoneiros e empresários. “Um dos temas que ficou acordado é que a categoria vai estabelecer uma tabela referencial de frete”, explicou.

Repasses não serão tão intensos

Economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), André Braz explica que o aumento de preços provocado pela greve dos caminhoneiros pode ter algum impacto na inflação, mas nada muito preocupante, pois tratou-se de uma situação transitória.

“Os aumentos que preocupam são aqueles permanentes. Como os índices de inflação são divulgados a cada 30 dias, e os preços variam bastante neste período, principalmente para essa categoria de alimentos, a alta acaba sendo diluída no mês”, explica.

Segundo o especialista, os consumidores não devem sentir uma alta tão forte nos preços. É pouco provável, por exemplo, que o aumento de 75% no valor da cenoura no atacado seja repassado com essa intensidade na hora da venda nos supermercados e feiras.

“Há produtos que não chegam ao consumidor com essa margem toda, normalmente o repasse é menor. Depende muito das características dele e também da questão da concorrência”, avalia André Braz. Como a greve não vai se estender, será menor o impacto nos supermercados.

Valores voltam ao normal amanhã

A possibilidade de a greve continuar estava tirando o sono dos varejistas. Preços de itens como cenoura e batata inglesa, em função do desabastecimento, dispararam. Mas se as entregas continuassem limitadas, passariam a faltar no mercado produtos como frutas, queijo, ovos e carne.

Até ontem, havia 94 pontos de bloqueio em todo o país, principalmente na Região Sul. Os locais que mais afetam a distribuição para a cidade do Rio são Minas Gerais e Região Serrana, como Itaipava, além de Resende, no Sul Fluminense, onde algumas estradas também estavam interditadas.

Presidente da Associação Comercial dos Produtores e Usuários da Ceasa (Acegri), Waldir de Lemos contou que a cenoura foi comprada ontem por um valor 75% mais alto que na última segunda-feira. “A caixa de 20 quilos do produto que custava R$ 40, hoje foi vendida para nós por R$ 70. A batata inglesa também subiu muito, de R$ 90 para R$ 130 a caixa com 70 quilos. Frutas como mamão e banana também diminuiriam a oferta. Se a greve acabar mesmo amanhã (hoje), na sexta-feira os preços já voltam ao normal. Se continuasse por mais uma semana, as frutas iam começar a ficar mais caras”, alerta.

Presidente da Associação de Supermercados do Rio (Asserj), Aylton Fornari explicou que o setor de hortifrutigranjeiro desses estabelecimentos já tinha sido afetado, mas com o fim da greve, o consumidor vai sentir pouco. “Havia mesmo o risco de de outros produtos como queijo, ovos e carne ficarem mais caros, à medida que o estoque ia diminuindo e a demanda aumentando”, avalia.

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