Rio - À beira de uma crise institucional com o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto procura um substituto para o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas. Ainda sem um líder de governo no Senado, o governo tem tido dificuldade para debelar a crise com a bancada do PMDB, que até bem pouco tempo figurava como fiel aliado na Casa.
A avaliação entre interlocutores do Congresso é de que o ministro Vargas fracassou em sua missão de promover o diálogo entre os dois poderes e acabou colaborando para o agravamento da crise. A prova disso seria que até o senador Renan Calheiros incorporou o espírito da “independência”, como já vinha fazendo o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, desde 2013, quando era líder do partido.
Demonstrando falta de articulação com a base, na terça-feira à noite, enquanto Renan anunciava que devolveria a MP 669, que eleva a carga tributária sobre a folha de pagamento, o Executivo já divulgava a elaboração de um projeto de lei com o mesmo teor da MP. Esqueceu de avisar ao líder do PT, Humberto Costa (PE), que discursou veementemente na tentativa de demover o presidente da Casa da ideia de devolução, mantendo as MPs em tramitação.
“Os dias de Pepe Vargas no ministério estão contados”, disse um parlamentar do partido da presidenta que preferiu não se identificar. Segundo ele, Vargas não encontra respaldo nem mesmo entre vários deputados petistas. “A questão é saber quem vai aceitar cumprir esse papel neste momento de crise”, aponta a fonte.
Na tentativa de reverter a situação, o ministro se movimentou ontem, promovendo o encontro entre Dilma e líderes da base aliada, primeiro com senadores e depois com deputados. No fim do dia, Vargas foi até o presidente do Senado para dar um passo em direção à reconciliação. Voltou ao Planalto para novo encontro com a presidenta Dilma, do qual também participou o vice-presidente Michel Temer.
Falando a jornalistas, Pepe Vargas negou que haja desarticulação “A gente nunca deixou de conversar com o presidente Renan. Ontem de manhã, falei com o presidente Renan”, disse. No entanto, segundo ele, Renan não informou ao governo que devolveria a MP.
O ministro afirmou não enxergar Renan Calheiros como um “adversário” do governo: “O consideramos um parlamentar, um presidente do Senado, que faz parte do partido do vice-presidente da República e que faz parte dos partidos que compõe o nosso governo”.
Rosário de queixas
No encontro com os líderes, a presidenta Dilma ouviu queixas relacionadas à falta de diálogo, que já se verificava em seu primeiro mandato e se aprofundou neste início de governo, com o envio das matérias do ajuste fiscal em forma de MPs, sem o conhecimento prévio nem mesmo da base.
Segundo Humberto Costa, a presidenta prometeu que daqui para a frente será diferente. Dilma assumiu o compromisso de que as medidas provisórias e projetos de lei serão discutidos previamente com os líderes aliados.