Brasília - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), partiu para cima do governo neste sábado, depois que seu nome foi oficialmente divulgado como um dos investigados da Operação Lava Jato. O deputado descartou a possibilidade de sair do cargo e chamou o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) de “alopragem”. Na noite de sexta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou os nomes de 47 políticos que tiveram inquéritos abertos no escopo da operação, que apura o pagamento de propinas a executivos da petrolífera e a políticos por empreiteiras.
A cúpula do Legislativo foi diretamente afetada, com o envolvimento tanto de Cunha quanto do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que serão investigados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No caso de Renan, há ainda formação de quadrilha.
Cunha é suspeito de receber propina em um contrato de locação de navios firmado entre a Petrobras e as empresas Samsung e Mitsui. A acusação foi feita pelo doleiro Alberto Yousef, que fechou acordo de delação premiada com a Justiça. O depoimento aponta que Cunha teria utilizado a máquina pública quando a propina referente a este contrato parou de jorrar, usando uma representação feita em uma das comissões da Casa para pressionar os envolvidos no pagamento.
Contra ele, também há menções do ex-policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, vulgo Careca, que fazia transporte de dinheiro para membros do PMDB. Em nota divulgada ontem, o presidente da Câmara acusou a PGR de atuar com motivações políticas. “O PGR agiu como aparelho visando à imputação política de indícios como se todos fossem parte da mesma lama”, atacou o parlamentar, que ainda dirigiu acusações diretas ao procurador-geral, Rodrigo Janot. “É lamentável ver que o senhor Janot, talvez para merecer a sua recondução, tenha se prestado a esse papel. O PGR só será reconduzido se for da vontade do Executivo, ou seja, da presidenta Dilma Rousseff e do PT”.
SEM INTERFERÊNCIA
Na tarde de ontem, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que a tese de interferência é inverossímil. “Os depoimentos que ensejaram essas decisões foram coletados por autoridades do Ministério Público no Paraná. Eu influenciei isso? Que poder eu tenho! Se estivéssemos no passado, eu poderia dizer que seria um verdadeiro Luís XIV, ‘o Estado sou eu’”, afirmou.
Calheiros adotou um tom mais moderado ao receber a notícia e informou que “dará todas as explicações à luz do dia”. O parlamentar passou a semana retaliando o governo no Congresso e chegou a devolver uma medida provisória ao Executivo. Em uma das petições da PGR, que acusa membros do PMDB de receber propina de 1% de diversos contratos fechados na estatal, consta que Renan sediava reuniões em sua própria casa para discutir o esquema de propinas. Em juízo, Youssef afirmou que o PMDB entrou no esquema quando Paulo Roberto Costa ficou doente, entre 2005 e 2006, e uma articulação foi iniciada para retirá-lo do cargo. O partido teria entrado em cena para lhe dar suporte político e passou a recolher propinas.