São Paulo - Ianka Barbosa da Silva e Wagner Luis Silva se casaram em julho de 2013, mas até hoje não têm o álbum do casamento. A festa custou R$ 27 mil e foi planejada de acordo com os desejos de Ianka, com salão perfeito e vestido rodado. Quase dois anos depois, o sonho segue incompleto e virou um pesadelo, conta a noiva. “Até hoje não tenho o álbum que planejava mostrar aos meus futuros filhos.” E ela não está sozinha. A angústia de não ter fotos e vídeos da cerimônia é dividida por centenas de casais em Americana (SP) e região.
Todos contrataram Ademir Lopes, fotógrafo e empresário, que desapareceu após receber parte ou o valor total do serviço de até R$ 5 mil. Segundo a Polícia Civil, ao menos 300 casais de cerimônias ocorridas entre 2012 e 2017 foram prejudicados nas regiões de Americana, Limeira, Nova Odessa, Santa Barbara d’Oeste e Sumaré. Até a publicação desta reportagem, mais de cem boletins de ocorrência foram registrados na Central de Polícia Judiciária de Americana.
O caso foi denunciado por um ex-funcionário da companhia após ficar três meses sem receber o salário e ver o chefe decretar falência em perfil do Facebook. "Os noivos, cinegrafistas e fornecedores são vítimas", explica o cinegrafista Edgar Silva, que hoje coloca os casais prejudicados em contato com freelancers, que podem ter guardado a filmagem de antigos eventos.
“Depois de muito tempo sem pagamento, filmagens e fotos ficaram retidas com terceirizados. Alguns [casais] têm a sorte de encontrar, outros nunca vão ter a lembrança”, conta o ex-funcionário, que ainda briga na Justiça por R$ 20 mil referentes a direitos trabalhistas.
Ianka e o marido reconhecem que tiveram sorte de receber mil fotos e 2h30 de filmagens sem edição. “É alguma coisa pelo menos, mas agora tenho de ir atrás de novos profissionais para editar esse material e tentar transformar isso em um álbum. Não tenho nada do que estava escrito no contrato”. Segundo ela, que pagou R$ 4 mil ao fotógrafo, o contrato prometia a entrega do álbum, duas revistas com 30 fotos e oito DVDs.
'Destruidor de sonhos'
No final de abril, dezenas de casais foram às ruas em Americana usando nariz de palhaço e pedindo justiça. Nas mãos, muitos seguravam cartazes com os dizeres “Ademir, destruidor de sonhos” e “golpista” em frente ao antigo prédio da companhia, que hoje está vazio e com placa de aluga-se. O protesto contou com recém-casados, que lutam para encontrar as filmagens das cerimônias, e casais que ainda estão com casamento marcado.
É o caso de Hellem Moreno e Moisés Tavolone, que irão se casar em novembro de 2015. Os dois pagaram R$ 5 mil ao fotógrafo e agora não sabem como contratarão um novo serviço. “Quero que ele devolva o dinheiro de quem ainda tem o evento. Que ele seja homem e mantenha a palavra do contrato que assinou”, diz Tavolone. Ao saber do golpe, Hellem passou mal e precisou ser levada ao hospital. “Ele está destruindo a vida de muitas pessoas. Só quero o meu dinheiro de volta.”
Segundo a polícia, todos os boletins de ocorrência são registrados com natureza não-criminal, já que o acusado decretou falência no ano passado. Caso seja comprovado que o empresário fechou novos contratos após a declaração, ele poderá ser enquadrado como estelionatário. Se condenado, a pena pode chegar a cinco anos de reclusão. Lopes foi procurado pela reportagem do iG, mas não atendeu aos pedidos de entrevista.
“Ele diz que não fechou contratos depois da falência, mas posso provar que isso é mentira. Fechei meu contrato com ele dia 6 de janeiro de 2015”, diz Francielle Contiero dos Santos, que está com o casamento marcado para outubro.
Para aqueles que ainda têm casamento marcado neste ano, além do prejuízo financeiro, virou um desafio encontrar datas nas agendas de outros profissionais. Em um grupo secreto nas redes sociais, as vítimas trocam desabafos e compartilham informações sobre o caso. "É uma pena o que aconteceu, lamento por mim e por todas. ?#?Justiça?", escreveu Jéssica Boschi, casada desde setembro de 2013 e que ainda espera algum registro da cerimônia.