Por bferreira

Rio - A entrada do ex-governador gaúcho Tarso Genro (PT) na política fluminense para criar uma frente de partidos de esquerda e centro-esquerda dará o tom do encontro que o PT do Rio de Janeiro realiza amanhã. Chamada de “A saída é pela esquerda”, a frente é encabeçada por dois outros petistas — o senador Lindbergh Farias e o deputado Alessandro Molon — e espera reunir hoje à noite integrantes de partidos como o Psol e o PCdoB.

Tarso Genro desperta preocupação nas lideranças fluminensesABr

Principal articulador da frente, Genro vê sua proposta enfrentar resistências junto ao presidente do PT do Rio, Washington Quaquá, que trabalha para aprovar resolução para manter a aliança do PT com o PMDB nas eleições municipais de 2016.

Qual é o objetivo do encontro de hoje?

— O encontro é convocado por lideranças do PT do Rio para discutir a conjuntura nacional e para avaliar a possibilidade de termos candidato próprio, no Rio.

Qual é a tônica da Frente?

— A visão que nos preside é mais crescimento econômico, mais distribuição de renda, taxas de juros menores, não ao financiamento empresarial das campanhas, e mais participação da cidadania nas grandes decisões públicas .

Por que o Rio de Janeiro?

— Entendo a importância do Estado e sobretudo a importância do arco político que se formou, no segundo turno, para eleger Dilma. Não sou líder de nenhum movimento, não sou uma liderança nacional, mas me permito dialogar com todos os setores da esquerda e do centro democrático e progressista, em busca de soluções para o meu país, como fiz ao longo da minha vida. Não sou candidato a nada, nem no Rio nem no Rio Grande.

Como o sr. vê as críticas de Quaquá à Frente?

— Encaro as críticas do presidente Quaquá como normais, pois o PT do Rio participa dos governos do PMDB, o que leva a relações de dependência política muito fortes. Isso não pode impedir que as pessoas discutam, defendam candidatura própria. Mas as críticas do presidente estão mal endereçadas. Eu não tenho liderança política no Rio, apenas sou um colaborador e debatedor de temas nacionais e regionais, dentro do partido, na academia, na sociedade civil. O que me preocupa é que estas críticas possam ser tomadas pela nossa militância – não por mim que sou “china velha”, como dizemos aqui no nosso Rio Grande – como uma vedação ao debate. Isso lembra o Maranhão, e não é nada bom. O partido lá terminou. Eu, atualmente, defendo que o PT no Rio tenha candidatura própria, mas nem sei se isso é a opinião de quem vai no debate hoje.

Ex-governador do RS desperta preocupação nas lideranças fluminenses

Embora negue a pretensão de concorrer à prefeitura do Rio no ano que vem, o ex-governador gaúcho tem despertado preocupação nas lideranças fluminenses. Apesar -- e por -- isso, dizem eles que têm maioria no partido para garantir o apoio à manutenção da aliança com o PMDB no estado, alvo assumido de Tarso Genro.

Entretanto, hoje, durante evento promovido pelo gaúcho ao lado do senador Lindberg Farias e do deputado federal Alessandro Molon, será distribuindo documento no qual o presidente regional da sigla, Washington Quaquá, afirma que o PT do Rio busca se posicionar à esquerda bem antes de sua chegada. E, apesar das provocações, chama ao diálogo.

No texto, que também será lido amanhã durante o congresso estadual e em junho, no nacional, Quaquá admite crise na legenda e defende a manutenção da aliança com o PMDB fluminense nas eleições do ano que vem por, segundo diz, ser Eduardo Paes "a principal figura" peemedebista. Para sua sucessão, Paes quer seu 'supersecretário' Pedro Paulo Carvalho, com quem mantém ritmo de campanha, nas agendas da prefeitura.

Quaquá lembra ainda que o partido do governador Pezão não é "monolítico" e que o prefeito se engajou na campanha de reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT). "Mas mais do que isso", escreve, "queremos também Pezão, (Sergio) Cabral, (Jorge) Picciani e mesmo Eduardo Cunha apoiando nosso candidato presidencial em 2018."

A afirmação tenta conter não apenas o discurso de rompimento de Tarso Genro, mas evitar ruído nos entendimentos entre os partidos. Peemedebistas, como o próprio governador Pezão, têm defendido publicamente que Paes encabece a disputa presidencial. "Cada um deles é uma entidade diferente e separada, para garantir uma pauta de governabilidade" do governo Dilma, explica Quaquá.

Lula abençoa as tratativas do PT com o PMDB. Ele mesmo já veio ao Rio por três vezes desde o início do ano para conversar com Pezão, Paes, Cabral e Pedro Paulo.

Embora seja pragmático na defesa da aliança com o PMDB, o presidente do PT do Rio admite que o partido "vive uma crise", que classifica como "de muitas dimensões: política, ideológica, teórica, orgânica, diretiva, de imagem e de identidade."

Para ele, nestas horas "surgem sempre candidatos a salvador da pátria", referindo-se a Genro. "Não é todo gaúcho e em qualquer circunstância que pode amarrar os cavalos no nosso obelisco. Tem que ter sinergia com a história e com as lutas e a alma do povo", diz, mais uma vez se referindo à revolução de 1930 promovida pelo gaúcho Getúlio Vargas e, depois, por seu conterrâneo Leonel Brizola.

"Fico abismado como o PT se autoflagela e tem vergonha de si mesmo. Temos erros, que não são poucos mas que são comuns a qualquer obra humana. Mas temos acertos que perdemos a capacidade de defender. Nenhum outro partido mudou tão profunda e intensamente a vida de tantos brasileiros", diz.

E encerra afirmando: "Estamos dispostos a dialogar com tarso ou qualquer outro dirigente ou quadro de massa do PT de qualquer estado que venha ao Rio ou para o Rio. Mas tirando o Lula, não há ninguém no país que tenha cavalo pra amarrar no nosso obelisco!"

Tarso, a quem Quaquá chama de exilado do Sul, traz equilíbrio entre Lulistas dentro da sigla fluminense. Na interpretação de interlocutores do partido, o Rio, onde tradicionalmente o PT serve de objeto de barganha nos acordos nacionais, pode se tornar com Genro, segundo este entendimento, foco de resistência e até de reformulação da legenda. A conferir.

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