Por bferreira

Brasília - Seis meses após a quarta derrota consecutiva para o PT em eleições presidenciais, as fissuras no PSDB estão cada vez mais visíveis e expõem um isolamento do candidato derrotado e senador Aécio Neves (MG). Suas decisões têm desagradado tucanos célebres, gerando manifestações contrárias principalmente em São Paulo, reduto histórico do partido.

O governador Geraldo Alckmin tem se manifestado seguidamente contra as propostas defendidas pelo colega de partido Aécio NevesLevy Ribeiro/Agência O Dia

De lá, o governador Geraldo Alckmin tem manifestado insatisfação com opiniões do senador, expondo a disputa pelo controle político da legenda pela definição de quem será o candidato em 2018.Ontem, o paulista condenou o apoio do mineiro ao fim da reeleição.

Em debate no Congresso sobre a reforma política, Aécio foi taxativo e disse que o mecanismo da reeleição, bandeira defendida e aprovada com o aval do PSDB, fez mal ao Brasil. Em 1997, Fernando Henrique Cardoso, então presidente, comandou os esforços para a aprovação do texto que permitiu a possibilidade de eleitos a cargos executivos concorrerem por mais uma vez.

Alckmin, duas vezes reeleito, rebateu a ideia do senador mineiro em entrevista ao jornal ‘O Globo’. “Acho que é cedo para chegar a essa conclusão. Nós somos muito mudancistas. É um tal de mudar a Constituição todo dia”, afirmou ele, que venceu em 2014 no primeiro turno e saiu fortalecido, visto que foi em São Paulo a vitória de maior margem do PSDB sobre a presidenta Dilma Rousseff (PT).

Alckmin não foi o único entre os tucanos a se insurgir contra Aécio, o presidente nacional do PSDB. O ex-líder do governo FHC na Câmara Arnaldo Madeira disse na terça-feira estar assistindo ao PSDB assumir posições contraditórias com sua história. “Como você explica que há 18 anos apoiou a reeleição e agora, sem que o assunto estivesse na ordem do dia, você acaba com ela”? declarou o ex-deputado.

Aécio foi voz solitária também na defesa do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, nos meses de março e de abril. Embalado pelas manifestações antipetistas que cobraram uma posição dele pela saída da presidenta, o senador se animou com a possibilidade de um processo, mas foi tolhido publicamente por Alckmin, FHC e pelo senador José Serra (SP). Na avaliação de lideranças tucanas, o fim da reeleição, se aprovado, poderá fazer o PSDB se unir de novo, com um acordo entre Aécio Neves e Geraldo Alckmin para a eleição de 2018.

Adversários se unem contra a redução da maioridade

Como feito durante a votação do “distritão” nos debates da reforma política , PT e PSDB tentam costurar um acordo para frear os planos do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ): desta vez, para evitar a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. O governador de São Paulo Geraldo Alckmin disse ontem que é contra a proposta e defendeu “convergência dos partidos” para que não se aprove aquilo que chamou de “medida radical”.

Em meio aos acordos e indecisões, um grupo suprapartidário de deputados se movimenta para tentar impedir uma discussão sobre uma Proposta de Emenda à Constituição, e sim de projetos de lei engavetados. O PSDB ainda vai decidir qual posição assumir no debate sobre a redução da maioridade.

Na terça-feira, a bancada decide se apoia a redução para 16 anos para qualquer tipo de delito, defendida por Cunha, ou só para aqueles que cometerem crimes hediondos, e o aumento do tempo de internação para casos de crimes graves, ideia defendida por Geraldo Alckmin. A presidenta Dilma Rousseff já se manifestou no Facebook a favor do aumento da pena de adultos que cooptem jovens para a prática de atos criminosos.

O deputado Hugo Leal (Pros-RJ) é dos que organiza a frente parlamentar para tentar segurar Eduardo Cunha. “Tem que se fazer algo, mas, primeiro, a Casa precisava fazer um debate sobre a renovação do Estatuto da Criança e Adolescente”, argumentou.

Hugo Leal lembrou que há uma Comissão Especial criada pela atual legislatura para falar só sobre o ECA, mas que ainda não teve membros indicados. “Isso não é assunto do governo. Existe articulação para tirar os projetos da gaveta e colocá-los em pauta”, afirmou.

Cunha diz que respeitará comissão

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está ao lado de aliados viajando pelo exterior, mas usou ontem o Twitter para dizer que “só irá levar para votação a proposta que sair da Comissão Especial” que analisa a questão da maioridade penal.

Mas, no caso da reforma política, há duas semanas, o presidente da Casa descartou os trabalhos da Comissão Especial criada para debater o tema por não concordar com as conclusões do relatório.
Cunha destacou na rede social que a proposta de redução da maioridade penal tem 22 anos e todos a ignoravam. “O assunto só está sendo debatido por todos, inclusive o governo, porque anunciamos a votação”.

No domingo passado, o parlamentar usou o mesmo Twitter para anunciar que iria colocar o tema em votação na Câmara. Ainda de acordo com Cunha, em resposta a articulação dos deputados, propostas e projetos de lei como os do senador Aloysio Nunes e do governador Geraldo Alckmin poderão ser levadas a voto no plenário. “Agora, como anunciamos a votação, estão buscando outras propostas para o tema, o que é bom. O Congresso cumpre o seu papel de defender a agenda da sociedade”, disse.

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