Por bferreira

Brasília - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou ontem os petistas a pedir dinheiro a empresas privadas “de cabeça erguida”. A sugestão foi feita no congresso nacional do PT, em Salvador, durante o lançamento de ferramenta criada pelo partido para receber doações de pessoas físicas e pedir a ajuda da militância.

Lula cobrou dos companheiros de partido que contribuam, mas disse que não devem ter vergonha de pedir, de cabeça erguida, doaçõesReprodução / Agência PT de Notícias

Em discurso a delegados e lideranças petistas, Lula afirmou não ver problema na arrecadação de dinheiro de empresas, apesar de, na votação da reforma política na Câmara dos Deputados, a maior parte da bancada petista ter vontado contra o financiamento privado.

“Não é que com a plataforma a gente nunca mais vai precisar (de doações de empresas). Se precisar, com a mesma cabeça erguida que a gente dá os nossos R$ 10, a gente vai pedir. Mas não podemos depender só disso, temos que depender de nós”, afirmou o ex-presidente.

De acordo com ele, a decisão sobre a forma de arrecadação ainda será tomada. “O partido vai decidir isso na reunião do Diretório Nacional. É necessária a consciência de que o verdadeiro militante precisa ter, como já teve, a obrigação de dar uma pequena contribuição”.

A direção do PT havia decidido em abril que o partido não iria mais receber dinheiro de empresas. A decisão, que deveria ser aprovada no Congresso do partido em Salvador, foi adiada por conta da votação da reforma política ainda estar em curso no Congresso Nacional.

A Câmara aprovou no fim de maio a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que mantém a doação de empresas a partidos. Mas, para a medida valer, precisa ser aprovada em segundo turno na Casa, e referendada em dois turnos no Senado.

Lula voltou a ser ovacionado durante sua fala. Militantes pediram sua “volta” e ouviram do ex-presidente que ele irá viajar pelo Brasil para “ajudar o PT a voltar a ser o que era”. “Vivemos um momento delicado para o PT, mas é também é hora do nosso ressurgimento. É uma questão de honra para nós”, resumiu Lula.

Convocação de assessor gera irritação

O ex-presidente Lula não reagiu bem à convocação de Paulo Okamotto para depor na CPI da Petrobras no Congresso. Na quinta-feira, deputados aprovaram requerimento para que o presidente do Instituto Lula esclareça as doações de R$ 3 milhões feitas pela Camargo Corrêa à entidade. A empresa é uma das investigadas por envolvimento no escândalo de corrupção na Petrobras.

Segundo reportagem do jornal ‘Folha de São Paulo’, Lula telefonou para “cobrar” explicações do vice-presidente Michel Temer, um dos principais líderes do PMDB, sobre a convocação de Okamotto.Temer disse ter sido pego de surpresa pela notícia e garantiu não haver nenhuma operação do PMDB contra o petista.

O presidente da Comissão é Hugo Motta, peemedebista da Paraíba. Outro líder do PMDB, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, negou qualquer envolvimento com a convocação.

Sobrou para bancada petista: Lula, durante o Congresso do PT, disse que faltou articulação aos deputados para impedirem a convocação. Segundo pessoas que participaram da reunião com deputados, Lula afirmou que o instituto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também recebeu dinheiro da empreiteira.

Documentos liberados

O Itamaraty informou ontem que vai liberar os documentos que ligariam o ex-presidente Lula e a empreiteira Odebrecht. Ela é uma das envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras e é investigada pela Operação Lava Jato da Polícia Federal.

A divulgação será feita para rebater denúncia de que Ministério das Relações Exteriores agiu para evitar que documentos que envolvessem Lula e Odebrecht viessem a público. O diretor do Departamento de Comunicação e Documentação (DCD) havia sugerido, em memorando, que os documentos sobre o assunto fossem classificados como secretos depois de reavaliados, de acordo com o conteúdo de cada um deles.

Em nota divulgada ontem, o Itamaraty informou que “o procedimento é regularmente efetuado mediante solicitações específicas do gênero e não implica, necessariamente, reclassificação de sigilo, como efetivamente se observou no caso em questão”.

O texto destaca que o prazo para acesso foi cumprido. “O Ministério das Relações Exteriores reitera o seu comprometimento inequívoco com o respeito e a observância do princípio democrático da transparência de que se imbui a Lei de Acesso à Informação”, diz a nota.

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