Por tamara.coimbra

Venezuela - O vice-presidente da Venezuela, Jorge Arreaza, enviou nesta quinta-feira para o celular da mulher do líder oposicionista Leopoldo López, Lilian Tintori, uma mensagem debochada, relata o jornal Folha de S. Paulo na edição desta sexta-feira. "Se os senadores estão aqui, é porque não têm muito trabalho por lá [no Brasil]. Assim, umas horas a mais ou a menos, dá no mesmo", diz o texto enviado a Tintori, que acompanhava os senadores brasileiros, já que Leopoldo López seria o primeiro preso político que a comitiva iria visitar.

O texto irônico dá a impressão que o bloqueio da estrada foi, como suspeitam os senadores, iniciativa do governo. "Se alguma dúvida ainda existia em relação à escalada autoritária da Venezuela, nós voltamos de lá sem dúvida alguma", declarou o senador Aécio Neves (PSDB). Além do Aécio, o grupo era formado pelos senadores Aloysio Nunes (PSDB), Ronaldo Caiado (DEM), Cássio Cunha Lima (PSDB), José Medeiros (PPS), Agripino Maia (DEM), Ricardo Ferraço (PMDB) e Sérgio Petecão (PSD).

Ataques de manifestantes

A comissão com oito senadores relatou dificuldades para deixar o aeroporto de Caracas. Em sua conta no Twitter, Aécio Neves disse que os parlamentares foram “sitiados em via pública” e que a van em que eles estavam foi atacada por manifestantes favoráveis ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Aloysio Nunes relatou que ficaram por quase meia hora tentando sair das cercanias do aeroporto, mas foram impedidos e ainda ouviram "duas justificativas esfarrapadas". Por essa razão, decidiram voltar ao aeroporto e esperar que a situação se resolvesse.

Senadores brasileiros vão à Venezuela e relatam ataques de manifestantesReprodução Twitter

Eles pretendiam deixar o aeroporto e ir diretamente à prisão de Ramo Verde, na cidade dormitório de Los Teques, onde está detido Leopoldo López, em greve de fome há 25 dias, que os senadores brasileiros consideram como preso político. Ledezma, prefeito da grande Caracas, está em prisão domiciliar acusado de participar de uma tentativa de golpe contra o governo. López, dirigente do partido conservador Voluntad Popular também é acusado de "golpismo" e "incitação à violência" nas manifestações de 2014, que resultaram na morte de 43 pessoas.

O acesso dos parlamentares à prisão de Ramo Verde deve ser vetado, assim como ocorreu com outros dirigentes políticos estrangeiros que tentaram visitar López sem acordo prévio com as autoridades da Venezuela. O senador tucano Aécio Neves acusa a presidenta Dilma Rousseff de "omissão" em relação a situação dos opositores presos e disse que faria em Caracas o que o governo não faz.

"Estamos embarcando para a Venezuela numa missão política e talvez também diplomática, fazendo aquilo que o governo brasileiro deveria ter feito há muito tempo, defendendo as liberdades, a democracia, a libertação dos presos políticos e eleições livres na Venezuela", disse Neves em um vídeo amador, que teria sido gravado na manhã desta quinta-feira, em que o senador é visto a bordo do avião da FAB acompanhado de um grupo de senadores.

Itamaraty diz que atos contra parlamentares são 'inaceitáveis'

O governo considerou inaceitáveis os atos hostis de manifestantes venezuelanos contra uma comitiva de senadores brasileiros que viajou nesta quinta-feira à Venezuela para visitar opositores presos e disse que pedirá esclarecimentos sobre o ocorrido ao país vizinho.

"O governo brasileiro lamenta os incidentes que afetaram a visita à Venezuela da Comissão Externa do Senado e prejudicaram o cumprimento da programação prevista naquele país. São inaceitáveis atos hostis de manifestantes contra parlamentares brasileiros", afirmou o Ministério das Relações Exteriores em nota.

Segundo o Itamaraty, o embaixador brasileiro em Caracas recebeu a comitiva no aeroporto de Maiquetía, nos arredores da capital, onde os senadores e demais integrantes da delegação embarcaram num veículo providenciado pela embaixada, e o diplomata seguiu no próprio carro. De acordo com a nota, ambos os veículos ficaram retidos no caminho devido, segundo informações recebidas pelo Itamaraty, a um grande congestionamento "ocasionado pela transferência a Caracas, no mesmo momento, de cidadão venezuelano extraditado pelo governo colombiano".

O governo brasileiro solicitou e recebeu do governo venezuelano a garantia de custódia policial para a delegação durante a viagem ao país, "o que foi feito", segundo o ministério. O Itamaraty informou ainda que o governo brasileiro solicitará por meio dos canais diplomáticos esclarecimentos ao governo venezuelano sobre o ocorrido, "à luz das tradicionais relações de amizade entre os dois países".

Mais cedo, o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), emitiu uma nota classificando de "medieval" o tratamento recebido pela comitiva, e a Câmara dos Deputados aprovou uma moção de repúdio ao ocorrido.

A presidenta Dilma Rousseff tem recebido críticas por manter laços estreitos com Maduro. Em maio, o Senado Federal aprovou uma resolução criticando o governo venezuelano por manter arbitrariamente seus adversários presos.

Com informações do iG e da Reuters

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