Rio - Convidado como testemunha pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, nesta terça-feira, o ex-gerente de Segurança Empresarial da estatal, Pedro Aramis de Lima Arruda, disse que muitos funcionários são credenciados para ter acesso a qualquer documento da empresa e que é difícil identificar quando alguém dá um "destino indevido" às informações que deveriam ser mantidas em segredo. Arruda fez parte de comissões de investigação sobre irregularidades na Petrobras e confirmou as declarações que fez à Justiça do Paraná, na Operação Lava Jato, afirmando que há indícios de ilegalidades nos contratos.
“A comissão identificou cinco indícios que apontavam para uma probabilidade alta de algo errado. O primeiro foi o valor pago em comissões girando em torno de US$ 130 milhões para uma única empresa. O segundo é que a formalização dos pagamentos estava distribuída para mais de uma empresa. O terceiro que algumas empresas estavam em paraísos fiscais”, explicou.
Ele contou ainda que documentos sigilosos foram identificados na sede da empresa SBM na Holanda. “Não estariam [na Holanda] se não houvesse facilitação por alguém. Mas usamos os instrumentos de que dispúnhamos e não conseguimos identificar o caminho [desde a sede da estatal até a Holanda]”, disse. Os arquivos, segundo ele, foram salvos em um dispositivo como um pendrive e foram enviados por e-mail pessoal ou impressos e remetidos para a empresa.
Arruda participou das investigações sobre pagamentos de propina a funcionários da Petrobras pela empresa holandesa SBM Offshore, denúncias em torno da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos — que teria levado a prejuízo de cerca de US$ 700 milhões — e da averiguação sobre sobrepreço na construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e já havia confirmado que há indícios das denuncias à Justiça do Paraná.
A CPI ainda espera autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para ouvir o dono da empresa UTC, Ricardo Pessoa, que teve a delação premiada homologada na última semana. O empresário é apontado como o coordenador do cartel de empreiteiras que mantinham contratos com a Petrobras. A defesa de Pessoa enviou documento ao colegiado informando que o acordo de colaboração com a justiça é de sigilo e isso impediria que o empresário trouxesse informações para a CPI. Matéria da revista Veja mostrou que ele citou 18 políticos beneficiários de recursos ilegais da UTC durante campanhas eleitorais.
Na sessão desta terça, o deputado Hugo Motta (PMDB-PB) disse que enviou ofício ao juiz federal Sérgio Moro, ao ministro do STF, Teori Zavascki, e ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, para ter acesso ao conteúdo da delação premiada do empresário.
Ainda nesta terça-feira, os parlamentares da comissão devem ouvir os depoimentos do presidente da Federação Nacional das Associações de Aposentados, Pensionistas e Anistiados do Sistema Petrobras, Paulo Teixeira Brandão, e do vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Leite Siqueira.
Na próxima quarta, a comissão realiza acareação entre Pedro Barusco (Serviços) e o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque no dia 8. No dia seguinte, Barusco fica frente a frente com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Com o início do recesso parlamentar, que começa no dia 18 de julho, a CPI fará acareação entre o doleiro Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa.