Rio - A Polícia Federal concluiu ontem inquérito que investiga participação da empreiteira Andrade Gutierrez na Laja Jato com o indiciamento do presidente da construtora, Otávio Marques de Azevedo, e de mais oito pessoas. O relatório parcial do inquérito foi protocolado no processo eletrônico da Justiça Federal por volta das 19h30 de ontem. Os crimes citados no inquérito são contra a ordem econômica, corrupção ativa e lavagem de dinheiro e fraude à licitação.
Os indiciados são: Otávio Marques de Azevedo, Rogerio Nora de Sá, Flavio Lucio Magalhães, Antônio Pedro Campello de Souza, Paulo Roberto Dalmazzo, Elton Negrão de Azevedo Júnior, Mario Frederico Mendonça Goes, Lucélio Roberto Von Lehsten Goes e Fernando Antonio Falcão Soares. Agora, o Ministério Público Federal (MPF) vai analisar o indiciamento da PF para oferecer ou não uma denúncia à Justiça Federal. Se houver denúncia e o juiz federal Sérgio Moro aceitá-la, os denunciados passarão a ser réus.
Azevedo está detido na carceragem da PF, em Curitiba, desde junho, quando foi preso preventivamente. A primeira fase da operação ocorreu em março do ano passado, com a prisão do doleiro Alberto Youssef, considerado o cabeça do esquema bilionário.
Por meio de nota, a empreiteira Andrade Gutierrez informou que não tem ou teve qualquer relação com os fatos investigados pela Lava Jato. A nota relata que a empresa sempre esteve à disposição das autoridades para colaborar com as investigações para esclarecer as dúvidas. “A empresa reitera que nunca participou de formação de cartel ou fraude em licitações, assim como nunca fez qualquer tipo de pagamento indevido a quem quer que seja. A empresa reafirma ainda que não existem fundamentos ou prova que justifiquem a prisão e o indiciamento de seus executivos e ex-executivos”, diz um trecho da nota.
As empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez foram alvo da 14ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada no dia 19 de junho. Segundo o Ministério Público Federal as empresas tinham esquema “sofisticado” de corrupção ligado à Petrobras, com depósitos no exterior. O inquérito referente à Odebrecht deve sair hoje.
Conclusão da reforma política fica para agosto
Ao entrar em recesso, a Câmara dos Deputados não concluiu dois pontos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata da reforma política.
As propostas até foram aprovadas em dois turnos pelos deputados, mas faltou votar uma emenda que tenta derrubar a doação de empresas aos partidos e outra que quer retomar para 21 anos a idade mínima exigida para se candidatar a deputado federal. O texto-base baixou o limite a 18 anos.
Um impasse sobre um destaque do PT que tratava de financiamento empresarial adiou a votação. Os petistas queriam retirar a palavra “pessoas jurídicas” do artigo que permite financiamento de empresas a partidos políticos. Na prática, inviabilizaria as doações de companhias. Somente a doação de pessoas físicas seria permitida. A reforma política será retomada em 4 de agosto.
Previsões de Calheiros
Se depender das previsões do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o governo federal terá “meses nebulosos” no segundo semestre do ano com “agenda muito pesada”, ao apresentar balanço de atividades em vídeo veiculado pela TV Senado. A declaração foi divulgada sexta-feira à noite, no mesmo dia em que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), informou o seu rompimento com o governo. No pronunciamento, o peemedebista também fez duras críticas ao ajuste fiscal da equipe econômica da presidenta Dilma.
“Não diria que será um agosto ou setembro negro, mas serão meses nebulosos, com a concentração de uma agenda muito pesada. Cabe a todos nós resolvê-la”, afirmou Calheiros, que mantém relação conturbada com o Planalto, desde que viu seu nome integrar a lista de investigados pela Operação Lava Jato.
O senador classificou os resultados do pacote fiscal para reequilibrar as contas públicas como “modestos”. “Ele (o ajuste) é insuficiente, tacanho. Até aqui, quem pagou a conta foi o andar de baixo”, reclamou o senador do PMDB.
O colega de partido — Eduardo Cunha — foi lembrado com elogios. Para o presidente do Senado, Cunha se comportou como bom comandante na cadeira de presidente da Câmara ao implementar ritmo de votações. “Acho que a atuação dele (Cunha), sua independência, colaborou muito para este momento do Congresso”, afirmou Calheiros, ressaltando ter “excelente relação” com o presidente da Câmara, que também é investigado pela Lava Jato.