Rio - Duas das mais importantes figuras da República começam a enfrentar hoje uma temporada que promete fortes emoções. Com o fim do recesso legislativo, tanto a presidenta Dilma Rousseff quanto o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), devem estar se sentindo como passageiros de um carrinho de montanha russa prestes a acelerar. Dilma enfrentará a tal pauta-bomba. O deputado, acusado de cobrar US$ 5 milhões em propina, poderá ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Saber se Cunha fica ou sai da presidência da Casa é algo fundamental para a presidenta.
A expectativa crescente em Brasília é a de que Janot apresentará denúncia contra o deputado no fim desta semana, possivelmente indicando seu afastamento preventivo do cargo. A maioria interpreta esse movimento como uma vitória de Dilma. Existe, porém, uma outra tese que corre nos bastidores do Planalto. Muito menos interessante para ela.
Segundo esta interpretação, um grupo contrário ao governo também se interessa por apear Cunha da presidência da Câmara. Para essa turma, o peemedebista seria um empecilho caso o processo de impeachment se instalasse, tendo como alvo a presidenta e seu vice. Com o impedimento atingindo a chapa, o próximo a assumir seria o presidente da Câmara. Tirar Cunha do caminho e procurar alguém mais confiável para vestir a faixa presidencial seria um dos objetivos dessa turma anti-Dilma.
Essa, por enquanto, é apenas mais uma das várias linhas de especulação nesses tempos confusos. Até porque, mesmo que Janot peça a destituição de Cunha do cargo, a tendência do Superior Tribunal Federal é mantê-lo. Além disso, 22 líderes partidários se manifestaram contra essa tendência. Mas há novas peças no tabuleiro, como a advogada Beatriz Catta Preta, que afirmou ter sofrido ameaças desde que seus clientes começaram a citar o nome do peemedebista como acusado. Prever o desfecho dessas investigações é impossível.
Tudo nesse agosto é tão trepidante como as curvas de uma montanha russa. A ponto de, quem sabe, chegar o momento de Dilma torcer para Cunha manter-se no cargo. Assim, acreditam alguns, o risco de impeachment se manterá como está: quase nulo.
POR TRÁS DA TRIBUNA
Tanto os governadores quanto a presidenta Dilma Rousseff passam por sofrimento semelhante. Nesse momento de arrocho, estão sem dinheiro em caixa para cumprir as promessas que fizeram aos eleitores durante a campanha.
Políticos mais experientes, no entanto, enxergam diferença importante entre a crise nos estados e a crise na União. Um desses observadores é o presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB).
Aos seus interlocutores, ele diz que o governador do Rio está em melhores condições que a presidenta e explica o motivo: “A diferença de Dilma para Pezão é que, apesar de ambos estarem enfrentando dificuldades financeiras, ele tem estabilidade política e ela não”. Picciani não deixa de ter razão.