Rio - O mês do desgosto é decisivo não somente para a presidenta Dilma. Do outro lado, os oposicionistas não conseguem definir uma proposta de consenso para superar o momento difícil. A falta de sintonia se acentuou nos últimos dias por motivos como a pauta-bomba que mobiliza o Congresso. Há, no entanto, um problema de origem. O arco-íris ideológico dos que estão contra Dilma torna difícil a convergência. Esticar para além de agosto essa indefinição pode acabar beneficiando o governo.
Não é nada fácil conciliar o saco de gatos da oposição. Vai dos direitistas tresloucados, que pedem golpe militar, até correntes da própria esquerda, como o PSTU, que propõe uma ilusória ofensiva operária para derrubar a presidenta e também o Congresso. Na falta de uma solução que atenda a todas as correntes, o impasse político estende a deterioração da economia, e isso não é bom para ninguém. Aumenta a insatisfação da população com o governo, mas também ameaça a saúde do segmento produtivo. Como diriam os antigos, é aí que a porca torce o rabo.
Representantes do setor industrial brasileiro dão sinais de que já houve prejuízos demais e já é tempo de encerrar a imobilidade política para voltar a trabalhar. A nota conjunta de Firjan e Fiesp não deixa dúvida quanto a isso. “É hora de colocar de lado ambições pessoais ou partidárias e mirar o interesse maior do Brasil”, diz, a certa altura. O texto assinado por Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira e Paulo Skaf destaca que o atual cenário coloca em risco milhares de empresas e milhões de empregos. E o principal: pede a preservação da estabilidade institucional. É o empresariado brasileiro se contrapondo à política.
O descontrole do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não é visto com bons olhos pelos empresários. Ao executar sua vingança contra o governo, através de emendas que podem custar aos cofres públicos a bolada de R$ 106 bilhões (como mostrou neste domingo reportagem de Leandro Resende no DIA), ele ajuda a desestabilizar ainda mais a economia. E faz tudo com o apoio de legendas outrora mais responsáveis, como o PSDB. Essa aposta no “quanto pior, melhor” não agrada aos industriais. Se não encontrar uma solução madura para a crise, a oposição perderá de vez o apoio do setor produtivo. Dilma poderá, então, respirar aliviada.
POR TRÁS DA TRIBUNA
O genial antropólogo Darcy Ribeiro, que foi ministro de João Goulart, vice-governador de Leonel Brizola e senador pelo Rio, nunca se esforçou para parecer recatado aos olhos dos eleitores.
Conhecido mulherengo, ele propalava aos quatro ventos que o ideal era ter três namoradas de cada vez. Explicava que, depois de dez anos, o casamento se torna incestuoso, já que a mulher passa a ser uma “irmãzinha”.
Por isso, após várias uniões, Darcy se dedicou exclusivamente às namoradas.
A solução foi explicada certa vez, no programa Roda Viva, da TV Cultura. “Não só porque a variação é interessante, mas porque não tinha o perigo de casar”.
Um dos entrevistadores atalhou: “Isso é bom para o senhor. Mas para elas também é bom?”
Foi aí que Darcy, então com 75 anos, respondeu: “Ah, meu caro, elas não se queixam não”. A bancada de jornalistas caiu na gargalhada.