Por marcelle.bappersi

Brasília - Com mais de um ano de investigação dividida em 18 fases, a Operação Lava Jato trouxe à tona o que seria até aqui o maior esquema de corrupção investigado na história do Brasil. Empresários e políticos de peso estão presos ou são alvos de denúncia num arranjo que envolve as maiores empreiteiras do Brasil e um símbolo empresarial entre os brasileiros, a Petrobras. Tudo isso, entretanto, corre o risco de virar um grande nada por “vícios de origem”, como diz o deputado federal Aluisio Mendes (PSDC-MA).

A CPI da Petrobras investiga os casos de corrupção que envolvem recursos da petroleira brasileiraLuis Macedo/Câmara dos Deputados

Mendes, que é agente da Polícia Federal e foi secretário de Segurança Pública do Maranhão, diz que o episódio da escuta encontrada na cela 5 da custódia da Superintendência da Polícia Federal no Paraná tem potencial para colocar tudo a perder. Ele cita exemplos recentes de operações que tiveram repercussão midiática, mas acabaram enterradas por “vícios de origem”, como a Satiagraha e a Castelo de Areia.

“Um vício de origem nessas operações ensejou uma decisão do Supremo que anulou essas operações. A sociedade brasileira não vai admitir que isso aconteça com a operação Lava Jato”, diz ele. “Corremos o risco sim de, no futuro, ter essa operação anulada”. O alerta é dado na semana em que a CPI da Petrobras, braço parlamentar que vai a reboque da investigação policial pretende fazer acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. A previsão é que ambos participem de uma acareação na Comissão nesta terça-feira (25), a partir das 14h.

A suposta escuta ilegal teria justamente captado os diálogos de ambos no período em que os dois dividiram, para estranhamento de muitos, a cela 5 da custódia da Superintendência da Polícia Federal no Paraná. Não é usual que presos alvos de uma mesma operação fiquem numa mesma cela para evitar que eles combinem versões durante os interrogatórios.

Uma sindicância feita para apurar a presença do grampo na cela é alvo de críticas. “Foi mais do que uma fraude, foi uma ação criminosa. Quando você instaura um procedimento e de maneira criminosa aponta um resultado para ela sabendo que as provas dizem o contrário, acredito que até um crime foi cometido aí”, diz Mendes. Uma segunda sindicância está em vias de ser concluída e poderia justamente contradizer aquilo que foi apurado na primeira.

A primeira sindicância investigativa, classificada como “criminosa” por Mendes, concluí que “o aparelho de interceptação ambiental encontrado no forro da cela 5 da custódia da Polícia Federal no Estado do Paraná estava inoperante e teria sido colocado naquele local em outro momento investigativo e com autorização judicial”. Ainda, que “Youssef e sua defesa difundiram o fato de maneira irresponsável na convicção de tumultuar e ocasionar alguma espécie de nulidade formal para a operação Lava Jato”.

Contradições

Mendes é autor do requerimento para tomada de depoimento de Dalmey Fernando Werlang, agente da Polícia Federal, supostamente responsável pela instalação do grampo na cela de Youssef. Mendes diz haver “fatos contundentes” que poderiam questionar a primeira sindicância. “Uma segunda sindicância foi instaurada justamente para apurar a confecção da primeira sindicância. Então a própria Polícia Federal entendeu que é necessário abrir uma segunda investigação para apurar o feito da primeira sindicância”, diz Mendes.

Agencia Brasil/reproduçãoGrampo na cela de Alberto Youssef foi investigado em sindicância

Em sessão fechada realizada na CPI da Petrobras, Werlang disse aos deputados que foi o responsável pela instalação do grampo e o teria feito supostamente fruto de um pedido direto de Rosalvo Franco, superintendente da Polícia Federal no Paraná, Igor Romário de Paula, delegado regional de Combate ao Crime Organizado, e Marcio Adriano Anselmo, delegado da Polícia Federal que preside o Inquérito Policial referente a Operação Lava Jato.

Todos eles rejeitam essa afirmação na sindicância realizada para investigar o grampo. De acordo com a primeira investigação, tão criticada por Mendes, o grampo encontrado por companheiros de cela de Youssef estaria inoperante e teria sido instalado no local no ano de 2008, com autorização do Juiz Federal Odilon de Oliveira “com a finalidade de acompanhar as conversas do preso Luiz Fernando da Costa, vulgo Fernandinho Beira-Mar”.

Werlang alegou na CPI que ele mesmo foi o responsável pelo grampo instalado na cela de Beira-Mar depois que policiais do Paraná teriam alegado dificuldades em fazer funcionar um dispositivo para escuta ambiental, tendo ele mesmo montado o aparelho. Ao ser perguntado se o grampo montado por ele para a escuta de Beira-Mar seria o mesmo encontrado na cela de Youssef, Werlang afirmou ser “impossível” tratar-se do mesmo equipamento.

O agente afirmou aos deputados que o equipamento encontrado na cela de Youssef foi adquirido pela Diretoria de Inteligência Policial e encaminhado para a Superintendência da Polícia Federal no Paraná “meses depois” de Beira-Mar ter deixado a carceragem. A fala dele vai ao encontro do que disse o delegado José Alberto de Freitas Iegas em depoimento no mesmo dia na CPI da Petrobras. “Só esse fato já torna essa sindicância totalmente inócua, ela carece de veracidade”, diz Mendes.

Iegas afirmou aos deputados que consultou dados dos arquivos da diretoria de inteligência da Polícia Federal. Segundo ele, o aparelho encontrado na cela de Youssef teria sido encaminhado para a Superintendência do Paraná em setembro de 2008. De acordo a fala de Iegas à CPI, os arquivos apontavam que Beira-Mar ficou custodiado no local do dia 28 de março de 2008 a 3 de abril do mesmo ano. Ou seja, o equipamento encontrado por Youssef não poderia ser o mesmo que aquele montado por Werlang para captação de Beira-Mar.

Requerimentos convocando Igor Romário de Paula, Rosalvo Franco, Marcio Anselmo e Maurício Moscardi Grillo, responsável pela primeira sindicância, já foram aprovados na CPI da Petrobras.

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