Por karilayn.areias

São Paulo - Apesar de estar em funcionamento já há um ano, o Templo de Salomão ainda não pagou as contrapartidas necessárias para que regularize por definitivo sua situação junto à legislação paulistana. Inaugurado com enorme pompa pela Igreja Universal do Reino de Deus, com presença de governadores e até da presidente da República, a construção milionária funciona desde julho de 2014 por meio de alvará temporário.

Imagem aérea do Templo de Salomão%2C localizado no Brás%2C região central da capital paulistaDivulgação

Com validade de seis meses, a licença foi renovada pela terceira vez em 14 de julho, após concessões feitas pela Prefeitura às vésperas da inauguração do templo e, posteriormente, em janeiro. Agora, a Universal tem pouco mais de quatro meses para conseguir o certificado de conclusão da obra, por meio de doação de terrenos para habitação popular, sob o risco de ficar fora de funcionamento para cultos a partir do primeiro mês do ano que vem.

"O processo segue em análise até a Universal se adequar à legislação", diz o governo Fernando Haddad. "É o período limite para a apresentação do certificado de conclusão. Caso isso não ocorra, a igreja terá de encerrar suas atividades de evento."

O imbróglio se arrasta desde a década passada, quando a congregação comprou um grande terreno no Brás, região central da cidade e, por meio de um alvará de reforma, demoliu o que ali restava e iniciou a construção do templo. Com custo estimado em R$ 680 milhões, a maior obra de cunho religioso já feita no Brasil foi, desde o início, irregular.

A partir da inauguração do templo, o Ministério Público de São Paulo reabriu a investigação e iniciou uma grande pressão para que ele fosse regularizado. Ainda no ano passado, a promotoria chegou a falar em demolição da obra caso não ela não atendesse as exigências a tempo – por meio de contrapartidas como compensação financeira e/ou doação de terrenos para habitação popular.

Os problemas foram vários. Em julho de 2014, uma investigação da promotoria levantou a hipótese, após depoimentos de funcionários da construção, de que a obra havia sido feita em área com solo contaminado – parte do material teria sido despejado no terreno da USP Leste. Tanto a Prefeitura quanto a Universal afirmam que esse ponto já foi esclarecido, descartando a acusação.

Concomitantemente, o MP passou a pressionar a igreja por melhorias viárias no entorno do templo, como instalação de semáforos e rebaixamento de guias exigidos pela Secretaria Municipal de Transportes para compensar os impactos gerados pelo edifício à mobilidade da região. Após um ano de tratativas, a medida foi solucionada no final de agosto, depois de o órgão emitir o Termo de Recebimento e Aceitação de Obras e Serviços (Trad), também necessário para a regularização definitiva.

O ponto principal, no entanto, segue se arrastando. Além das obras para melhoria viária, o MP exige do templo outras contrapartidas para compensar suas irregularidades. Inicialmente, foi acordado que a Universal poderia fazê-lo por meio de doação de R$ 96 milhões ou de terreno de 60 mil metros quadrados para construção de moradias populares instalado na jurisdição da subprefeitura da Mooca – que abrange, além do Brás, os bairros Água Rasa, Belém, Mooca, Pari e Tatuapé.

Movimentação na sede da Universal%3A com 100 mil m² de área construída%2C é a maior igreja do BrasilDavid Shalom/iG São Paulo

A aprovação de um polêmico Projeto de Lei na Câmara dos Vereadores, seguido por sanção de Haddad, em 14 de julho, facilitou o processo para a regularização, já que passou a dar a empresas o direito de fazer obras em Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) desde que doassem terrenos para construção de habitação popular na mesma região. A facilitação, no entanto, ainda não ajudou a resolver o problema.

De acordo com a Lei 16.237, o terreno a ser doado deve "estar inserido na Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, em zona de uso onde seja permitida a implantação de Habitação de Interesse Social; estar localizado na Subprefeitura da Sé ou na mesma Subprefeitura do imóvel para o qual foram licenciados os demais usos; não estar ocupado por assentamento de população de baixa renda, como favela ou cortiço, entre outros; possuir área e condições adequadas que possibilitem a construção das HIS requeridas para o licenciamento do empreendimento em ZEIS, considerado o potencial construtivo e as proporções de destinação de HIS estabelecidas no Quadro 04 da Lei n° 16.050, de 2014, referentes às ZEIS 1, 2, 3 e 4".

Consultados pelo iG, os autos do processo que obriga a Universal a compensar a capital paulista mostram que desde março se intensificaram as negociações para a doação de terreno, que, no entanto, têm esbarrado em regras legais. Por meio de seus advogados, a igreja têm proposto seguidamente áreas específicas para doação, mas acaba vendo-as rechaçadas por não se enquadrarem nas exigências municipais.

"Nenhum dos terrenos está em Zeis, conforme mapa que estou anexando", diz um email da Prefeitura enviado à Universal em 22 de abril, após a igreja questionar a respeito da viabilidade de fornecer como compensação três áreas econtradas na Mooca. "Nenhum desses lotes corresponde à descrição (20 m de frente por 80 m de fundo). Também não estão em Zeis", afirma outra mensagem, de 8 de maio, respondendo a uma outra proposta no mesmo bairro.

"Com referência ao procedimento em curso para a concessão das autorizações definitivas de funcionamento do Templo de Salomão, informamos que a Igreja Universal do Reino de Deus, a Prefeitura de São Paulo e o Ministério Público do Estado de São Paulo estão em plena negociação que, temos convicção, resultará em Termo de Ajustamento de Conduta que atenda plenamente ao interesse público", explica, em nota, a congregação. "Contudo, ainda não é possível antecipar em quais condições tal acordo será firmado. Ressaltamos que todas as perguntas formuladas trazem propostas que não foram aceitas por uma das partes envolvidas."

Culto recente no Templo de Salomão%2C na região central de SP%3A regularização segue pendentDivulgação

Já a Prefeitura afirma que uma nova proposta de terreno está atualmente em análise pela Secretaria de Licenciamento, que, posteriormente, a encaminhará à Companhia Metropolitana de Habitação. De acordo com o governo municipal, não há possibilidade de a Universal acertar suas pendências por meio de compensação financeira, como era previsto inicialmente.

"A única alternativa à construção de unidades de Habitação de Interesse Social é a doação de lote, ou lotes, para o Poder Público", garante. "Após a aceitação do terreno por parte da Prefeitura, o processo referente ao Templo de Salomão passará pela fase final de análise."

Fonte IG

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