Por marcelle.bappersi

São Paulo - Já se imaginou com mais peso nas mãos e nos pés? Com a audição ou a visão comprometida? Com dificuldade de escutar? É o que acontece com os alunos do programa ‘Porteiro Amigo do Idoso’. O curso gratuito, que acontece durante três dias por mês em São Paulo, reúne porteiros que recebem aulas teóricas e práticas que têm como objetivo mostrar as dificuldades enfrentadas pelos idosos no dia a dia.

Alunos do programa 'Porteiro Amigo do Idoso' aprendem como é a vida de uma pessoa mais velhaMilena Carvalho / IG

Se em questão de idade a turma é heterogênea – há alunos com 24 anos e outros com até 65 –, a origem de cada um é parecida. A professora do curso, Sandra Guzman, de 44 anos, diz que a maioria dos porteiros vieram do Nordeste do País. Com base em relatos durante as aulas, ela percebe que quando essas pessoas vêm para São Paulo para exercer a profissão e entram em contato com os mais velhos, lembram da mãe e da avó que ficaram na cidade natal. “Eles resgatam vivências, compartilham ideias e fazer uma reflexão. É muito bacana de ver isso”, afirma.

Porteiro há 33 anos, Donisete Matos da Silva, de 59 anos, é um dos alunos do programa. Ele, que trabalha em um prédio na região de Santo Amaro, na zona sul da capital, soube do curso ‘Porteiro Amigo do Idoso’ por meio da imobiliária do condomínio. Silva conta que antes de participar da iniciativa já mantinha uma amizade com o público da terceira idade. “Os idosos do prédio em que eu trabalho são meus amigos e eu sou amigo deles. É por isso que eles me seguram lá há 26 anos.”

O programa, criado pelo Grupo Bradesco Seguros em parceria com o Senac, oferece para a turma de 32 alunos conteúdo teórico e também aulas práticas, nas quais eles sentem como é ser mais velho. Durante o exercício, os estudantes são separados em quatro grupos: idosos, acompanhantes, atendentes e seguranças.

Porteiros usam pesos nas mãos e nos pés e óculos para dificultar a visão durante o trajetoMilena Carvalho / IG

Os que estão na turma da terceira idade recebem óculos para dificultar a visão, pesos nos pés e nas mãos, aparelho auricular e também colocam feijões nos pés, tudo isso para sentir as limitações que a idade pode trazer. Já os acompanhantes os ajudam na locomoção, os seguranças ficam de olho no trajeto e os atendentes são influenciados pela professora a agir com pressa, para mostrar como é a realidade do dia a dia.

Além disso, um dos alunos também usa uma cadeira de rodas. Porteiro há dois anos, Ubiratã Ferreira, de 59 anos, viveu essa experiência e define a iniciativa como alegre e divertida. “Aqui é muito mais fácil de aprender”, comenta.

Gislene Cassemiro Santos, de 35 anos, é uma das quatro mulheres do grupo – e exerce a profissão há sete anos. Ela trabalha em um edifício na região da Penha, na zona leste de São Paulo, no qual 80% dos moradores são idosos.

Para Gislene, a boa relação com esse público gera uma confiança entre as duas partes. “Uma vez uma senhora caiu em frente ao portão e eu fui direto socorrê-la”, relembra. “Preocupada, ofereci água e a partir desse dia nos tornamos amigas. Peguei um vínculo muito grande com ela.”

Samuel Firmino de Almeida, de 29 anos, tem o mesmo pensamento. Porteiro há quase dois anos, o rapaz chegou a apresentar para a classe uma poesia que escreveu sobre a vida de um idoso. “É por isso que eu insisto / O velho aqui aguenta / Lamento por ser tão rápida / A chegada dos meus 80”, diz uma das estrofes.

Apesar de Almeida falar que às vezes não tem paciência, agora, depois do programa, as coisas irão mudar. “Vou aprender a respeitar mais as pessoas idosas e passar isso para os meus filhos, ensinar a forma que eles precisam agir corretamente”, declara.

Fonte: IG

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