Brasília - Delegados da Polícia Federal que comandam a Operação Lava Jato teriam tentado direcionar as investigações a respeito dos grampos encontrados na Superintendência do Paraná. Segundo deputados presentes na sessão desta terça-feira (29) da CPI da Petrobras, o delegado Mario Fanton afirmou que teria sofrido coação de seus colegas no Paraná depois que assumiu a investigação sobre a presença de grampos no local. Um deles localizado dentro da cela de Alberto Youssef e outro colocado no fumódromo da Superintendência.
Conforme o iG revelou, ao menos o grampo do fumódromo é comprovadamente ilegal,segundo despacho do Ministério da Justiça. Fanton foi ouvido em sessão fechada na CPI. Ele foi o responsável por uma investigação sobre supostas falhas na primeira sindicância aberta com o objetivo da apurar a existências dos grampos. De acordo com deputados ouvidos peloiG, ele afirmou que a suposta coação dos colegas teria tido início a partir de suas negativas em seguir as orientações dadas pelos delegados paranaenses.
O que mais chamou atenção de parlamentares ouvidos pela reportagem foi a apresentação de um organograma de investigação. Fanton teria recebido esse organograma como espécie de rotina a obedecer no decorrer das investigações sobre a primeira sindicância instalada para apurar a existência dos grampos.
Além de um caminho de investigação, uma espécie de passo a passo, o organograma teria ainda nomes de delegados que deveriam ser investigados, entre eles, o do deputado federal Fernando Francischini (SDD-PR). Essa seria mais uma face da suposta disputa política que permeia o núcleo da Operação Lava Jato no âmbito da Polícia Federal do Paraná.
Ausência
Causou perplexidade aos parlamentares a ausência da agente Maria Inês Malinowski de Paris Slussarek. Ela é considerada uma testemunha chave no caso. Isso porque, em depoimento à CPI no dia 2 de julho, o agente Dalmey Fernando Werlang afirmou ter sido o responsável pela instalação dos dois grampos, na cela de Youssef e no fumódromo, com o auxílio de Maria Inês.
Ele afirmou aos deputados que o fez supostamente sob demanda de Rosalvo Franco, superintendente da Polícia Federal no Paraná, Igor Romário de Paula, delegado regional de Combate ao Crime Organizado, e Marcio Adriano Anselmo, delegado da Polícia Federal que preside o Inquérito Policial referente a Operação Lava Jato.
“Então, nesta data, quem foi comigo (instalar o grampo na cela 5, ocupada por Youssef, da Superintendência da PF no Paraná)? A agente Maria Inês”, disse Werlang aos deputados. “Eu fui com ela, comuniquei que havia essa demanda, que a gente teria de fazer isso com urgência”, declarou ele aos parlamentares.
Daí a importância da fala de Maria Inês, que seria uma testemunha a poder confirmar a fala de Werlang e ser a segunda pessoa a afirmar que a instalação do grampo na cela de Youssef de fato foi feita em 2014, quando da deflagração da Operação Lava Jato, e não em 2008, para monitorar Fernandinho Beira-Mar, como afirmaram Romário de Paula, Franco e Anselmo na primeira sindicância realizada com o propósito de apurar esses fatos.
A ausência de Maria Inês veio depois de aviso enviado à CPI em email assinado pela delegada Daniele Gossenheimer Rodrigues, delegada-chefe do Núcleo de Inteligência. O NIP era o local em que Werlang trabalhava antes de ser afastado após vir à tona o escândalo da escuta na cela de Youssef. O relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (PT-RJ), manifestou irritação com a ausência da agente.
“Não estamos conseguindo avançar porque não estamos tendo infelizmente a colaboração da Polícia Federal”, reclamou ele na abertura dos trabalhos, antes de a sessão ter sido fechada. “Nos causa profunda estranheza os comunicados entre a Polícia Federal e a secretaria-geral dessa comissão com questões do tipo: em relação a Maria Inês informo que até amanhã encaminharemos o novo período de afastamento da mesma. Como não atende (a CPI) porque a partir de amanhã vai nos enviar um novo atestado? Ela está sendo dispensada por um problema de saúde sem ter um atestado. Há uma previsão deles aqui de que ela vai obter (um atestado)”, afirmou o relator.
“Nunca vi nenhum órgão público justificar a um outro órgão público que soube informalmente que a funcionário vai apresentar uma licença médica. Isso é uma sequência extremamente grave. Não está havendo consideração e respeito com a CPI”, declarou o petista, que pediu duas reuniões emergenciais. Uma com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e outra com o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal para, nas palavras do relator, apurar “chicanas para impedir que a CPI chegue às verdades dos fatos”.
Em nota, o Ministério da Justiça afirmou que está colaborando com a CPI. "O Ministério da Justiça reitera seu compromisso com a prestação de quaisquer informações solicitadas pelo Congresso Nacional e, especificamente, por suas Comissões Parlamentar de Inquérito (CPI), tendo respondido a todos os requerimentos da CPI da Petrobras e enviado as informações disponibilizadas pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça e pela Polícia Federal", diz a nota.
Fonte: IG