Por thiago.antunes

Rio - Mais uma vez, a bancada de políticos do Rio tomou conta do noticiário da semana: seja na defesa do governo da presidenta Dilma Rousseff (PT) ou nas denúncias em série contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), os fluminenses têm ajudado a ditar o ritmo da atividade política nacional. É a tônica de um novo momento dos parlamentares do estado, que estão mais cada vez mais próximos do poder.

O eleitorado é grande: são mais de 12 milhões de pessoas, 8,5% do total do país. É, também, complexo: na lista dos deputados federais mais votados, por exemplo, aparecem extremos da representação à esquerda e à direita, como Jean Wyllys (Psol) e Jair Bolsonaro (PP). É um dos ingredientes para a bancada fluminense conquistar um espaço como há tempos não se via em Brasília, e que remete à época em que o Rio era capital e sede do poder da República.

Seja nas defesa da presidenta Dilma Rousseff ou nas denúncias em série contra Eduardo Cunha, políticos do Rio se destacam e ditam o ritmo no cenário nacionalArte%3A O Dia

“Há um protagonismo positivo e um protagonismo desastroso na bancada”, comenta Jandira Feghali, líder do PC do B na Câmara. Ela, que por vezes é chamada até por petistas de ‘verdadeira líder do governo Dilma’ (o posto é ocupado por José Guimarães), é uma das mais fiéis parlamentares na defesa do governo nas disputas com a oposição.

Outro dos destaques do Rio no ano é Leonardo Picciani, alçado ao disputado posto de líder do PMDB, o partido que se confunde entre entre ser da base do governo e impor derrotas políticas importantes à presidenta. Mais próximo do Planalto, Picciani afirmou que uma “extrema violência” foi evitada com a suspensão do rito de impeachment da presidenta, que fora definido por Eduardo Cunha e caiu através de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

“O governo saiu fortalecido. Impeachment não pode ser a bandeira política de que quem perdeu a eleição e não se conforma com o resultado” declarou. “Sem olhar muito para ideologias, é nítido que o Rio conta com bons quadros”.

O recém-chegado Wadih Damous (PT) foi o autor da primeira representação que “paralisou” o processo de impeachment e minimizou o fato de que a oposição planeja colocar um novo pedido de afastamento da petista. “É uma outra idiotice da oposição. Eles se baseiam no Tribunal de Contas da União, um órgão viciado, um playground de políticos fracassados, e que deveria ser extinto”, disparou o petista.

Picciani: ‘Cunha deve se defender’

É considerada “crítica” a situação de Eduardo Cunha na presidência da Câmara. Investigado na Suíça e alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal, o parlamentar está para ser fritado na Comissão de Ética da Casa, graças também à movimentação de parlamentares do Rio: no caso, os algozes do peemedebista foram os deputados Chico Alencar e Jean Wyllys, ambos do Psol, que deram entrada na representação contra o deputado.

Leonardo Picciani nega que haja uma “tropa de choque do PMDB” para tentar salvar a pele de Cunha, ou pelo menos garantir seu mandato. “Não há uma discussão oficial no partido. Precisamos aguardar o desenrolar dos fatos. Ele tem o direito de se defender”, afirmou.

Já Jandira Feghali e Wadih Damous seguem firmes em favor da saída do deputado da presidência da Câmara. “Não há acordo dele com o PT, há uma relação institucional com o governo. O destino dele já está traçado”, afirmou Damous. A deputada do PC do B explicou o fato de nenhum deputado de sua bancada ter assinado a representação contra Cunha. “Não era uma decisão da bancada, era do partido. Nós vamos entrar na luta”, garantiu Jandira.

Historiadora aponta mudanças

Para a pesquisadora da Fundação Getulio Vargas e professora de História da UFRJ Marieta de Moraes Ferreira, há uma diferença histórica fundamental entre os políticos do Rio com destaque. Segundo ela, figuras públicas flumineses de grande projeção nacional haviam antes sido importantes lideranças locais. Hoje, isso mudou.

“Antes, o destaque era ‘daqui’ para ‘lá’. Primeiro eram lideranças locais, como os ex-governadores Carlos Lacerda e Leonel Brizola. Agora é o inverso, o protagonismo não é mais aqui: o Eduardo Cunha, por exemplo não tem uma atuação reconhecida aqui, e agora é que está aparecendo”, afirmou.

Marieta destaca que o Rio ainda continua sendo uma vitrine política, não pelo fato de gerar grandes lideranças para o cenário nacional, mas “pelo passado de capital, pela representação para o exterior”. “O Rio tem um eleitorado rebelde e imprevisível”, resumiu.

Você pode gostar