Brasília - Tocadas a toque de caixa durante 2015, as pautas apoiadas pelas bancadas suprapartidárias ruralista, evangélica e de policiais, conhecidas como BBB (boi, bala e bíblia), devem perder a força este ano. Motivo: encampada há um ano pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a agenda conservadora foi atropelada pelas denúncias da Operação Lava Jato e seus desdobramentos no Supremo Tribunal Federal (STF). Além de Cunha, outros 60 parlamentares são alvo das investigações no esquema de corrupção da Petrobras.
Com o avanço da Lava Jato em 2016, a expectativa é que dificilmente o presidente da Câmara consiga imprimir o mesmo ritmo de discussão e votação de temas polêmicos, como o estabelecido ao longo do ano passado.
Aprovada em agosto do ano passado na Câmara, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) reduz a idade penal de 18 para 16 anos nos casos de crimes hediondos, homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte. Das pautas BBB é a única que já chegou ao Senado. Está parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) à espera de votação. Mas a proposta enfrenta resistência no Senado. A maioria dos senadores é favorável ao projeto de lei do senador José Serra (PSDB-SP), que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente), e aumenta o período de internação de menores infratores que cometem crimes hediondos e homicídio doloso de três para dez anos.
Projeto de lei dificulta o acesso ao aborto legal para vítimas de estupro. De autoria de Eduardo Cunha, a proposta condiciona a permissão da interrupção da gravidez à comprovação de um exame de corpo de delito e um comunicado à autoridade policial para comprovar a violência sexual. A proposta também criminaliza anúncio e venda de medicamentos abortivos. Prevê ainda pena de até dez anos de reclusão para quem orientar ou induzir a gestante a fazer um aborto. O projeto foi aprovado no dia 21 de outubro na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e está pronto para ser votado no plenário da Câmara.
Tramitando há 15 anos no Legislativo, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) transfere para o Congresso a responsabilidade sobre a demarcação das terras indígenas. Atualmente, cabe ao Poder Executivo essa definição. A proposta possibilita rever as terras já demarcadas e muda os critérios de novas demarcações, dependentes não mais de decreto do presidente da República, mas de lei nas mãos dos parlamentares. A PEC autoriza também o ingresso e a permanência nas terras indígenas de pesquisadores e religiosos. Aprovada em outubro em comissão especial da Câmara, a proposta precisa agora passar por duas votações na Câmara, antes de seguir para o Senado.
Aprovado no final de outubro de 2015 em comissão especial da Câmara, o projeto de lei reduz de 25 para 21 anos a idade para comprar armas. A proposta autoriza também o acesso a armas de pessoas investigadas e processadas pelos crimes de roubo, tráfico e homicídio, e amplia de três para dez anos o prazo de renovação para o porte de armas. O projeto, que ainda precisa ser apreciado pelo plenário da Câmara, dá direito ao comprador usar a arma em casa e no trabalho. Também são ampliadas o número de categorias que podem ter acesso a armas, incluindo produtores rurais . O projeto de lei praticamente revoga o Estatuto do Desarmamento.
O projeto de lei institui o Estatuto da Família, que restringe a definição de família à união entre “homem e mulher”, com o objetivo de direcionar políticas públicas apenas para este público, deixando de fora casais homossexuais e demais formações familiares. A proposta foi aprovada no início de outubro de 2015 em comissão especial da Câmara e tem o apoio de parlamentares ligados a igrejas. O projeto impõe ao poder público a obrigação de assegurar à entidade familiar uma série de direitos, dentre os quais a efetivação do direito à saúde, alimentação, educação, cultura, esporte, além do lazer, trabalho, cidadania e convivência comunitária.
A proposta de emenda à Constituição permite que as entidades religiosas entrem com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar leis. Hoje, além do presidente da República, governadores, Câmara dos Deputados, Senado e legislativos estaduais, somente o procurador-geral da República, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), partidos políticos e entidades de classe nacional podem fazer tais questionamentos. A proposta foi aprovada em comissão especial da Câmara no início de novembro. Caso a PEC seja aprovada pelo plenário da Câmara e depois, no Senado, as igrejas passam a ter direito a entrar com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), entre outros, no Supremo.