Por helio.almeida
A economia brasileira cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2013, na comparação com os três últimos meses do ano passado, segundo dado divulgado pelo IBGE nesta quarta-feira. Em valores correntes, o Produto Interno Bruto (PIB) do período foi de R$ 1,11 trilhão. A boa safra de soja e a retomada da produção de caminhões ajudaram a impulsionar o dado, enquanto o déficit nas transações com outros países "roubou" parte desta expansão.
A agropecuária foi a principal responsável pela alta. Os negócios do campo cresceram 9,7% em relação ao final de 2012, maior alta trimestral desde 1998. Mas a subida aconteceu sobre uma base de comparação "fraca", já que no último trimestre do ano passado o setor registrou recuo de 5,2%. Ou seja, parte do crescimento atual é recuperação da queda do período anterior. "Os caminhões tiveram influência forte. Mas a principal questão foi a retomada do investimento, que é a notícia mais positiva do primeiro trimestre", diz Jankiel Santos, economista-chefe do Banco Espírito Santo. Os investimentos são uma outra forma de se olhar o PIB, que é calculado pelo lado da oferta (é tudo que se produz no País), enquanto os investimentos são parte da demanda, ou seja, das compras. No primeiro trimestre, o investimento subiu 4,6%, recuperando queda de 4% em 2012.
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Ainda pelo lado da demanda, enquanto o investimento se expandiu, os outros dois pilares permaneceram estáveis: o consumo das famílias, que cresceu apenas 0,1%, e as despesas do setor público, que tiveram mesmo desempenho do trimestre anterior.
O consumo das famílias é o principal item, responsável pela compra de 62% de tudo que se produz no País, ou seja, do PIB. Após nove anos de expansão, ele continua subindo, mas em ritmo mais modesto. A alta do primeiro trimestre é bem menor que a elevação de 1,2% nos últimos três meses de 2012. "A geração de emprego perdeu um pouco de fôlego, houve inflação forte – que 'come' o dinheiro das pessoas – e o crédito para pessoa física continua aquém do ideal", diz Alessandra.
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A projeção da Tendências – anterior à divulgação do PIB – é que o consumo das famílias cresça 2,8% em 2013, após ter evoluído 3,1% no ano passado. Para a Gradual Investimentos, o dado deve fechar o ano com alta de 2,5%. "Ainda é um dado vigoroso, e nem é tão ruim que o consumo esfrie um pouco, porque ajuda a segurar a inflação", diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual.
Dinheiro que sai
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O PIB poderia ter crescido mais no trimestre, não fosse pelo dinheiro que saiu do Brasil ter superado aquele que entrou no País no período. "Houve o chamado 'vazamento' para o exterior, que 'roubou' um pedaço do crescimento", diz Jankiel.
A principal saída se deu por meio da remessa de lucros e dividendos de empresas que possuem matrizes em outros países. "As subsidiárias enviaram grandes somas para as controladoras, até porque a situação não é das melhores no exterior", afirma Perfeito.
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Além disso, os gastos elevados de brasileiros em viagens ao exterior e o déficit recorde de US$ 5,1 bilhões da balança comercial pesaram para o resultado ruim do chamado "setor externo". As importações cresceram 6,3%; já as exportações caíram 6,4%, segundo o IBGE. "O setor tende a não ajudar durante o resto do ano", diz Perfeito.
Nos últimos quatro trimestres, a economia brasileira cresceu 1,2%. A maioria das instituições financeiras projeta o PIB de 2013 entre 2,1% e 3%. No último Boletim Focus do Banco Central, feito com a coleta de dados do mercado, a média da alta estimada é de 2,93%.
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"Foi uma retomada, mas houve também aumento de produtividade, após problemas climáticos do ano passado", diz a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências. "A soja teve colheita muito boa e foi o destaque", afirma.
De acordo com previsões, a agropecuária deve seguir em expansão ao longo do ano, mas num ritmo menor. Se comparada com o primeiro trimestre de 2012, a produção do início do ano foi 17% maior, mas a Tendências estima que o PIB do campo deve chegar ao final de 2013 registrando alta de 1,6% na comparação com o ano passado todo. "O setor vai seguir contribuindo com o crescimento, mas menos do que no primeiro trimestre", diz Alessandra.
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Os serviços, que têm o maior peso no PIB, cresceram apenas 0,5%. Já a indústria encolheu na comparação com o final do ano passado. A retração foi de 0,3%, puxada pelo extrativismo mineral, que recuou -2,1%. Mas o setor teve uma recuperação na produção de caminhões, que havia ficado praticamente parada em 2012, devido a mudanças nos padrões de emissões de poluentes dos veículos. Com isso, os estoques baixaram e a produção do início de 2013 foi acelerada.