São Paulo - Roupinha, banho e tosa tornaram-se produtos e serviços comuns entre muitos brasileiros donos de animais. Para se diferenciar da concorrência, empreendedores têm investido em novidades como creches, diamantes, festas, cerveja, plano de saúde e crematório para atender os pets.
O casal Jessica Yamassaki e Felipe Gonçalves criou em 2012 o Cãotinho, hotel e creche para cachorros. O principal diferencial é a oferta de um aplicativo que permite aos donos dos animais monitorar pela internet o dia a dia do pet fora de casa – uma espécie de babá eletrônica canina. Jessica deixou o emprego de gestora de recursos humanos e migrou para a área na qual o marido já atuava – Felipe tinha um canil e trabalhava com banho e tosa de animais.

As câmeras foram instaladas em vários locais do Cãotinho, para que os donos pudessem matar a saudade dos cachorros mesmo que pelo site da empresa ou por meio de um aplicativo para celular. “Os donos sentem mais saudade do que os cães, por isso as câmeras. Assim eles podem conferir tudo o que está acontecendo e matar a saudade dos bichinhos”, diz Jessica.
Segundo a empreendedora, quem mais procura a creche são pessoas que viajam ou trabalham muito e não querem deixar o animal sozinho. Os serviços variam de R$ 170 (uma vez por semana durante um mês) a R$ 550 (durante toda a semana). “O lucro que tivemos em um ano nos surpreendeu. Imaginávamos que o retorno seria bom, mas não tão rápido”, conta Jessica.
Mesada para filha e para a cachorrinha
A estudante de relações públicas Mariana Vieira Honorato dá um tratamento de rainha à cachorrinha Susi, de raça lhasa apso. Ela tem festas de aniversário todo ano, com bolo e presentes (como caixa de bombons caninos caros e brinquedos importados), além de vestidos, cachecóis, lacinhos, conjunto de sapatos e uma página em uma rede social, feita pela mãe de Mariana.
Entre tantos mimos, chama a atenção o plano de saúde executivo oferecido ao animal, com direito a carteirinha, por R$ 80 mensais. “Quando ela era pequena ficava doente facilmente, nada grave, mas a consulta, que acabava sendo emergencial, tenha um preço elevado. O mesmo ocorria com os remédios. Por isso, optamos pelo plano de saúde, que diminui muito os gastos”, explica Mariana.
O gasto mensal com Susi é de cerca de R$ 250 – mesmo valor que Mariana recebe de mesada da mãe. “Minha mãe preza pela igualdade entre as filhas”, brinca a estudante.
A empresária Carla Zajdenwerg, que já trabalhava com eventos, pegou carona nos novos negócios desse mercado e criou em 2009 a Pet Party, empresa de festas caninas. Os eventos mais pedidos são aniversários e festas em hotéis para cachorros. Mas já teve cliente que encomendou casamento e festa junina. “A Pet Party faz os convites, aluga o espaço, faz a decoração e as lembrancinhas, contrata um adestrador e fica por conta da alimentação dos convidados [cães e humanos]”, diz a empreendedora. O bufê para os animais custa entre R$ 20 e R$ 25 por animal. Como a procura por este tipo de serviço ainda não é tão grande, a dona da empresa diz que é comum a organização de festas de aniversário para pessoas, mas com convidados caninos.
A arquiteta Brunete Fraccaroli chama a cachorrinha Sissi de princesa e oferece ao animal, de 14 anos, tratamento de realeza. A cadelinha faz acupuntura, hidratação, alimenta-se de comida humana (tem como prato preferido peixe com batata), escova os pelos, só usa tigelas de vidro por não gostar de plástico e vai sempre para o escritório de sua dona – local onde tem uma cadeira rosa só para ela.
Brunete, que gasta em média R$ 300 por mês com o animal de estimação, conta que Sissi ganha muitos presentes de amigos. “Ela adora todo mundo que vai em casa. Ama fotógrafos, faz poses e só se mexe depois de a foto ser tirada. Eles ficam encantados”, diz. Entre as lembrancinhas que ganhou estão uma manta rosa, cama de vime, vestidos, um colar de pérolas, pingente de ouro e uma casa de cristais Swarovski com lustre, além de uma festa de aniversário personalizada.
Há serviço até de funerário
Donos criativos e exigentes como Brunete têm desafiado a imaginação dos empresários. O Pet Memorial é um crematório para animais localizado em São Bernardo do Campo, na região da Grande São Paulo. O serviço inclui urnas personalizadas, capelas, salas de velório e serviço de remoção 24 horas. Segundo Pepe Altstut, um dos donos da empresa que tem 11 anos de mercado, os preços do serviço variam de R$ 600 a R$ 3 mil, de acordo com o plano, tipo de cremação e material da urna.
Na mesma linha, o Grupo Altstut trouxe ainda o diamante Brilho Infinito, produzido em laboratório a partir do carbono contido nos pelos e penas de animais. A joia pode ser produzida em diversos tamanhos e nas cores azul, champanhe ou incolor, com valor médio de R$ 3 mil.
Já a Dog Beer fez uma versão para cães de uma das bebidas mais consumidas no Brasil: a cerveja. Idealizado por Marco Melo, o projeto surgiu em 2007, após o empreendedor notar que não havia nenhum tipo de petisco líquido canino no mercado. “A ideia é mostrar que agora os animais e seus donos podem até sair para beber juntos”, conta Melo.
Nos moldes da bebida feita para humanos, a Dog Beer tem como diferencial o sabor carne e não contém álcool nem gás carbônico, componentes que fazem mal aos animais. Fabricado no Centro de Tecnologia de Alimentos e Bebidas do Senai do Rio de Janeiro, o produto tem teores reduzidos de carboidrato, com adição de proteínas, vitaminas do complexo B e sais minerais.
O processo de produção da bebida para animais e semelhante ao da cerveja: cerca de seis horas entre a moagem do lúpulo e o envasamento. De acordo com o empresário, o produto pode ser adquirido em unidades de 355 ml, por um preço médio de R$ 7,90. Com um rótulo que remete às bebidas artesanais comuns, a Dog Beer conta também com uma edição premium.
A reportagem é de Marcela Lima