Por bferreira
Rio - A aviação comercial brasileira terá um fim de ano conturbado se a paralisação prometida por duas das principais categorias profissionais do setor se concretizar. Aeronautas e aeroviários cogitam entrar em greve a partir das 6h da próxima sexta-feira, dia 20, se não houver acordo trabalhista. Desde a última sexta, quando o indicativo foi aprovado em assembleia, trabalhadores entregam panfletos nos aeroportos orientando a população a remarcar passagens.
Uma reunião marcada para 14h de hoje pode decidir pelo fim da paralisação mesmo antes de ela começar. Os trabalhadores pedem 12% de reajuste; piso para operadores e despachantes de check-in de R$ 1,6 mil; reajuste de 20% nos vales alimentação e refeição; vale refeição para funcionários de meio período; seguro de vida de R$ 20 mil e direito à creche até três anos de idade.
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Diretora do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), Selma Balbino aposta na greve. “Os patrões refutaram nosso plano e ofereceram só 5,65% de reajuste para quem ganha até R$ 10 mil. Acima disso, o aumento seria de R$ 560”, explicou.
Para agravar, Selma ressaltou que os patrões não admitem criar piso para funcionários de check-in e ofereceram apenas 7% de aumento. “É por isso que perdem mais profissionais a cada ano. Ninguém sobrevive com R$ 1.080 de salário”, disse, em referência aos operadores que conduzem caminhões e tratores e precisam ter extrema perícia.
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No caso dos profissionais que lidam diretamente com o público, Selma explicou que como eles precisam falar dois idiomas ou mais, e o salário é baixo, a rotatividade acaba sendo grande. “A média salarial geral de quem atua neste segmento é R$ 2 mil”, disse. O piso da categoria varia de R$ 920 a R$ 1.470 conforme a função.
‘Viajamos todo fim de ano. Corremos o risco de adiar’
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De viagem para o Ceará, o mestre de obras Joaquim Pacífico, 35, vai visitar a família e espera voltar dia 10 de janeiro. Ele mora no Rio desde que o filho de 12 anos foi aceito como jogador mirim do Flamengo, em 2011. “Viajamos à Fortaleza todo fim de ano. Se houver a paralisação, vamos ter que adiar o voo”, disse ontem quando embarcava no Aeroporto Santos Dumont.
O pediatra Mário Bandeira, 48, viaja todo mês e já sofreu devido a paralisação no setor. “Tive o voo cancelado na hora do embarque”, recordou, acrescentando que se sentiu frustrado devido ao contratempo, além de ter que pagar a conta de um dia a mais no hotel.
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Pereira está temeroso com relação à possibilidade de greve. Isto porque a filha está com viagem marcada para Paris dia 31 e não tem a menor intenção de desmarcar. “Os planos são que ela fique os próximos seis meses na França, em intercâmbio. Espero que o sindicato não breque agora. Se ela ficar impedida de ir, vai ficar arrasada”, disse, aflito.
‘Indicativo não passa de pressão por parte dos trabalhadores’
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Para o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA), o indicativo de greve não passa de uma tentativa de pressão por parte dos trabalhadores, principalmente da categoria aeronauta. Isto porque a entidade já teria fechado acordo com parte dos aeroviários de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Amazonas, segundo a assessoria da entidade patronal.
Em nota, o SNEA disse que segue em processo de negociação e que, atendendo a compromisso estabelecido com os representantes da categoria, tem reunião marcada para hoje com os sindicatos coordenados pela Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac), onde espera concluir o processo.
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A entidade ressaltou que o próprio indicativo de greve não foi comunicado oficialmente às instituições patronais, o que inviabilizaria a paralisação, visto que uma iniciativa desse porte deve ser informada às partes envolvidas, conforme determina a legislação.
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