Segmento aposta também na expansão para o pessoal de alto poder aquisitivo no país
Por thiago.antunes
Rio - De olho no crescimento da nova classe média e do pessoal com alto poder aquisitivo, o setor de artigos de luxo no país aposta as fichas em 2014. Levantamento da empresa de pesquisa de mercado Euromonitor International mostra que nos próximos seis anos o segmento com renda bruta anual acima de US$ 150 mil (R$ 355,5 mil) crescerá 46,3%, chegando a 1,4 milhão de pessoas.
Diante dessas perspectivas, as grifes começam a buscar novas praças para expandir fronteiras. A meta é sair do eixo dos grandes centros. Municípios do interior também são alvos do setor. O objetivo das marcas de luxo é aproveitar a elevação até 2020 para reverter quadro que não acompanhou o crescimento do consumo no país, principalmente entre a população de baixa renda. O chefe de pesquisa para a Indústria do Luxo, na Euromonitor, Fflur Roberts, afirma que o mercado de produtos de alta classe ainda não surfou na onda dos avanços da economia do país.
Para ele, apresentou rendimento bem abaixo do esperado. Roberts explica que isso ocorre pelo fato de as grandes marcas concentrarem lojas e público em três grandes centros: Rio, Brasília e São Paulo. “Outros municípios continuam em grande parte inexplorados”, diz.
O especialista acrescenta que se for levado em conta o tamanho da economia brasileira e os bons resultados de anos anteriores, o mercado de luxo deveria ter melhor desempenho no país. Mas os primeiros passos começam a ser dados em busca de novos horizontes e consumidores. Apesar de o processo ser recente, as grifes de luxo buscam ultrapassar os limites estabelecidos anteriormente.
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“Estamos ainda numa fase de desenvolvimento e iniciando, pela primeira vez, a expansão para mercados fora de São Paulo. Ou seja: há muito ainda a ser feito”, constata Carlos Ferreirinha, presidente da MCF Consultoria. O executivo estima que nos próximos anos o mercado de grifes dará salto considerável. O crescimento, segundo Ferreirinha, vai oscilar entre 16% e 22%, aquecendo o setor que movimenta R$ 22 bilhões no país.
A empresária Beth Accurso, 55 anos, que mora em Ipanema percebeu aumento na quantidade de lojas de luxo no Brasil, principalmente no Rio. Ela cita a inauguração do shopping Village Mall, na Barra, que reúne as principais grifes de renome internacional, como Prada, Burberry e Hermes. “O número de lojas de alto padrão atende a nossa demanda”, afirmou.
Emergentes elevam as vendas
No cenário mundial, o crescimento das vendas de produtos de luxo é puxado por países emergentes, especialmente China, Índia, Indonésia e Malásia. Fflur Roberts, da Euromonitor, atribui a voracidade ao avanço da urbanização, ao desenvolvimento econômico e ao amor geral pelo luxo compartilhado pelos consumidores dessas nações.
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O destaque absoluto vai para a segunda maior economia do planeta. Depois de ultrapassar França e Itália, a China se transformou no terceiro maior mercado consumidor de marcas de luxo, pelo ranking da Euromonitor. E deve ultrapassar o segundo colocado — o Japão — até o fim de 2018, caso se confirme o aumento de 72% nas vendas de artigos de luxo projetado pela empresa de pesquisa de mercado para os próximos cincos anos.
“Ao mesmo tempo, o valor do mercado de luxo na América Latina disparou nos últimos cinco anos, graças à crescente classe média, ao acesso mais amplo ao crédito e à modernização no varejo”, diz Fflur.
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Impostos e tarifas ainda são barreiras
As tarifas cobradas no Brasil são grandes barreiras que as marcas luxuosas terão que que transpor para conseguir se expandir no nos próximos anos. Além disso, as compras dos brasileiros lá fora atrapalham as operações de marcas internacionais por aqui.
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“Mas as barreiras tarifárias e não tarifárias no Brasil diminuem o desenvolvimento das nossas companhias no país e muitos consumidores compram no exterior, em Paris, Miami ou Nova York”, destaca Elisabeth Ponsolle des Portes, presidenta do Comité Colbert, associação integrada por 78 fabricantes franceses de produtos de luxo. Segundo ela, brasileiros representam até 15% da clientela das empresas afiliadas.
Há quem goste mas não se deixe levar pelo impulso para comprar. É o caso da gerente Carla dos Santos, 37. Ela diz estar acostumada a conviver com pessoas com alto poder aquisitivo e que entende a atração dos consumidores por marcas, mas não se encanta pelos nomes. “Mesmo se eu tivesse condições de comprar essas marcas, eu buscaria produtos com preços menores”, diz.