Amazonas - A partir de técnicas de melhoramento genético elaboradas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Estado do Amazonas quer voltar a ser o principal produtor de guaraná natural do país. A estatal desenvolveu duas novas variedades — conhecidas como cultivares —, que pretendem alavancar a produção da semente na região.
Os dois novos exemplares — a BRS Saterê e a BRS Marabitana — possuem alta produtividade e resistência a doenças, permitindo aumentar a produção em 40% numa mesma área, sem desmatar mais a floresta.
“Já desenvolvemos 18 variedades da ‘Paullínia cupana’ (nome científico do guaraná), melhorando a qualidade do produto, tornando-o mais resistente. Acreditamos que em quatro ou cinco anos, a produção nos municípios do Amazonas já será maior”, diz o pesquisador da Embrapa, Firmino José Nascimento Filho, que participou do lançamento das duas variedades, em novembro, na Fazenda Rancho Grande, em Itacoatira (AM).
Até os anos 1980, o Município de Maués, a 260 quilômetros de Manaus, no Amazonas, era líder absoluto na produção de guaraná no país. Porém, o interesse cada vez maior das fábricas de bebidas e da indústria farmacêutica pela cafeína obtida da semente (também conhecida como guaraína) ampliou o uso comercial do grão e animou os agricultores da antiga zona cacaueira.Em menos de dez anos a Bahia se transformou no maior produtor mundial.
Junto com Maués, Urucarã, Presidente Figueiredo e São Sebastião do Atumã são os maiores produtores da região. Em Maués, o principal deles, fica localizada a Fazenda Santa Helena, pertencente a Ambev, e a fábrica que produz o extrato de guaraná, matéria-prima que atende à produção nacional do refrigerante e também é exportada para Portugal e Japão. Na região, com a alta da demanda o quilo do produto está em torno de R$ 22.
Além de refrigerante, matéria-prima é usada até em cosméticos
Gerente-geral de operações da Ambev, que fabrica o guaraná Antarctica, e responsável pela Fazenda Santa Helena, em Maués, Miriam Frota diz que, dos 1.070 hectares da propriedade, apenas 200 hectares são usados para a produção de exemplares da ‘Paullínia cupana’. As mudas são distribuídas gratuitamente para os produtores locais, como o objetivo de estimular o cultivo, garantir a qualidade do produto e elevar a produtividade.
Segundo Miriam, hoje, no Amazonas cada planta produz um quilo de semente torrada.
Com os novos exemplares, a Embrapa espera elevar a produtividade em até um quilo e meio por planta ou 600 quilos por hectare, cinco vezes os atuais registros.
O guaraná é rico em vitaminas e substâncias estimulantes, como cafeína, teofilina e guaranina. Além da indústria do refrigerante, a matéria-prima serve de fonte para produtos energéticos e suplementos dietéticos na forma de chás, cápsulas, xaropes, pó, barra de cereal e no setor de cosméticos.
O consumo de refrigerantes com sabor de guaraná cresce em média 3% ao ano e chega a três bilhões de litros por ano.
No Brasil, único país que exporta o produto, os refrigerantes à base de guaraná competem com aqueles à base de cola. Com isso e com a grande demanda internacional, estimada em 60 mil toneladas por ano, estimulam a aumentar a produção brasileira, atualmente em cinco mil toneladas.
O repórter viajou a convite do Guanará Antarctica