Rio - O desempenho da economia brasileira fechou o ano passado com crescimento que surpreendeu os pessimistas do mercado. Economistas avaliavam que o resultado seria de até 2,28%. Mas com os 2,3% apresentados ontem pelo IBGE, o ‘Superpibinho” — soma das riquezas produzidas — colocou o país em terceiro lugar na lista de índices de crescimento mundial. Ficou atrás apenas dos 7,7% da China e dos 2,8% da Coreia do Sul.
A economia brasileira cresceu mais do que a dos EUA, Reino Unido e África do Sul (1,9%), Japão (1,6%), México (1,1%), Alemanha (0,4%), França (0,3%) e Bélgica (0,2%). O país fechou o ano contabilizando R$ 4,84 trilhões, o que representa renda anual de R$24.065 por pessoa.
Segundo o IBGE, o resultado foi fortemente impulsionado pela produção do setor agropecuário que subiu 7%. Serviços e Indústria cresceram 2% e 1,3%, respectivamente. Em 2012, o PIB registrou alta de apenas 1%.
O resultado do PIB de 2013 revelou estar muito atrelado aos números do agronegócio. Isso, na avaliação de Marco Aurélio Cabral, professor de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), mostra que o país continua dependente dos preços de produtos exportáveis, as chamadas commodities, no mercado externo.
De acordo com o IBGE, o destaque foi a agricultura com a produção de trigo em alta de 30,4%, de soja (24,3%), de milho (13%) e de cana de açúcar (10%). O setor industrial foi puxado pela atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (2,9%). Pelo lado do ramo de serviços, o maior avanço ocorreu com informação (5,3%), transporte, armazenagem e correio (2,9%) e comércio (2,5%).
“Com o crescimento de apenas 1,3%, a indústria mostra que não consegue avançar. Mesmo com as grandes empresas se instalando no país, não há fornecedores que garantam o suporte para elas. Assim, existe a necessidade de comprar componentes lá fora, o que acaba prejudicando o setor industrial”, explica Cabral, ressaltando que país precisa de mais investimentos em obras de infra-estrutura na área de mobilidade urbana e de saneamento básico.
Economista da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite destaca que desde 1996 a agropecuária vem sustentando o PIB brasileiro, frente à baixa participação da indústria no desenvolvimento da economia.
Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o setor vem perdendo participação no PIB há pelo menos três anos. Em 2010, o peso do setor na economia era de 28,1%, e, agora, caiu para 24,9%.
Economistas refazem previsão de crescimento este ano
Na comparação com o quarto trimestre de 2012, o PIB cresceu 1,9%. O resultado do mesmo período de 2013 também surpreendeu economistas que, diante de números pouco mais animadores, refazem as projeções para o crescimento em 2014. Entre expectativas mais ou menos pessimistas, a maioria concorda que o país não deve apresentar grandes saltos de desenvolvimento, fechando, o ano com alta do PIB de 1,4% a 2,5%.
Com peso de 60% na formação do PIB, o setor de serviços deve continuar pressionando positivamente a economia, em função dos salários que crescem a taxa relativamente forte. É o que estima José Márcio Camargo, da Opus Investimento. No entanto, ele destaca que o baixo crescimento da indústria pode derrubar o PIB.
“Não temos capacidade de competir porque os custos com a produção são altos. Percebe-se que, por dentro, o PIB 2013 deixa a desejar”, diz Camargo, que aposta numa taxa de 1,4% este ano.
O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério de Souza, tem grande esperanças de uma recuperação “suada” da indústria.
“O câmbio valorizado e a safra recorde esperada para o ano devem ajudar. A melhoria da taxa de investimentos, que avançou nos últimos dois semestres do ano passado, pode dar força à indústria e nos levar para os 2,5% em 2014”, avalia.
Economista da Confederação Nacional da Indústria, Renato da Fonseca destaca que, desde a crise de 2008, a indústria não conseguiu se recuperar e patina, oscilando entre meses bons e ruins. A situação do setor reflete, segundo Fonseca, anos de políticas econômicas focadas no aumento do consumo das famílias e não tanto no suporte à indústria.