Rio - Marcada por incidentes violentos, a greve dos trabalhadores do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, completa 33 dias hoje. Prefeitura do município, empresários e moradores da região cobram da Petrobras uma intervenção para acabar com o movimento que já deixou duas pessoas baleadase um carro de som do sindicato da categoria e um ônibus incendiados.
Amanhã, às 7h, haverá uma nova assembleia dos operários para decidir pela continuidade ou não da paralisação, que já foi considerada abusiva pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT/RJ), em 27 de fevereiro. Enquanto os trabalhadores pedem 11,5% de reajuste o sindicato patronal oferece 7%.
Comerciantes e moradores dizem que a estatal está sendo omissa nas negociações entre trabalhadores e as empresas que constroem o Comperj. Dizem ainda que as obras estão trazendo mais transtornos do que benefício para a cidade e que a greve só está agravando a situação. “Não entendemos o porquê de a Petrobras até agora não ter feito nada para acabar com a greve”, reclama o auxiliar de escritório Geneci Dantas, 49 anos.
“Já ficou comprovado que Itaboraí não recebeu infraestrutura para receber as obras do Comperj. O trânsito está um caos e a poluição só aumenta. Nós, comerciantes, não estamos faturando como pensam. Achei que minhas vendas fossem crescer em 30%, mas a alta não passou de 5%”, reclama Antônio dos Anjos, 49 anos, proprietário da loja de calçados D'edin Sports. Já o relojoeiro Joari Machado, 62 anos, está satisfeito. “Meu faturamento está 20% maior”, afirma.
Prefeito de Itaboraí, Helil Cardozo (PMDB) disse que entraria em contato com a direção da petroleira para intervir e acabar com a greve. “Vou tentar marcar uma reunião para tratar do assunto ainda esta semana. Quero saber que providências a estatal está tomando? Daqui a pouco teremos mais gente ferida?”, critica Cardozo.
Em nota, a Petrobras informa esperar um desfecho adequado ao movimento e que avaliará, possíveis impactos ao empreendimento, após o fim da greve para implementar medidas mitigadoras, se necessário. Sobre as declarações do prefeito, a assessoria da estatal informou, na sexta-feira, que só se manifestaria amanhã.
Cronograma está atrasado
Prefeito de Itaboraí, Helil Cardozo afirma que apenas 10%, dos mais de 30 mil trabalhadores do Comperj, moram no município. “O Comperj ainda não trouxe emprego a cidade”, diz.
Com o complexo, Helil comenta ainda que a população do município passou de 160 mil habitantes para 220 mil. “Muita gente foi atraída para a cidade, apostando que Itaboraí seria uma grande metrópole. Contudo isso ainda não aconteceu e não deve acontecer mais”, comenta o prefeito, afirmando que a Petrobras não vai mais implantar um polo petroquímico, como projetado inicialmente, e, sim, “somente uma refinaria”.
“Isso muda tudo. Se antes seriam gerados 120 mil empregos, com mais de 500 empresas por conta do polo petroquímico, agora, teremos apenas 500 postos de trabalho com a refinaria”, avalia. De acordo com o prefeito, as obras estão com atraso de três anos. “Pelo cronograma inicial, a conclusão era 2013. Agora, é dezembro de 2016”, destaca Cardozo.
Desde o início das obras do Comperj, Itaboraí passou a receber diversos empreendimentos. Além de prédios comerciais e residenciais, estão sendo erguidos um shopping, com 170 lojas, e um supermercado. Já está em atividade, um Hotel Ibis, da rede internacional Accor, com 200 apartamentos.
Divergência entre trabalhadores e representantes sindicais
Delegado titular da 71ª DP (Itaboraí), Oscar de Sá informa que as investigações estão avançadas para identificar os dois homens armados que invadiram e atearam fogo a um ônibus da Viação Real Brasil, que transportava 13 trabalhadores do complexo. O fato ocorreu na manhã da última quinta-feira, na Estrada do Jacu, via que dá acesso ao Comperj.
“Há uma possível relação entre todos os fatos violentos ocorridos desde o início da greve. Estamos investigando ainda se eles são fruto da briga interna da categoria”, relata Sá. O delegado conta que já tem informações sobre as características físicas dos criminosos. Disse ainda que a dupla usava capacete, impedindo a identificação, e vestia uniforme da empresa Schahin, que desde de outubro de 2013 não atua mais na obra.
Miguel Frunzen, da comissão de empregados do Comperj, eleita por trabalhadores contrários a atuação do Sindicato dos Trabalhadores do Plano da Construção, Montagem e Manutenção Industrial de São Gonçalo, Itaboraí e Região (Sinticom), diz que a entidade está do lado dos patrões. “A postura do Sinticom não é de defender os trabalhadores”, acusa a liderança informal.
Em nota, o Sinticom nega a acusação. Informa ainda que tentará convencer os grevistas a voltarem ao trabalho, já que o TRT julgou a greve abusiva e arbitrou multa diária de R$ 10 mil ao sindicato, em caso de descumprimento. Amanhá há nova assembleia.
Já Almir Ferreira, advogado do Sindicato das Empresas de Engenharia de Montagem e Manutenção Industrial do Estado do Rio (Sindemon), alega que a greve é irregular. “Não foi feita a comunicação da paralisação no prazo necessário nem mesmo a assembleia específica para decidir sobre a greve”.