Por bferreira

Rio - Dois meses após a Citroën Peugeot anunciar a suspensão dos contratos (lay-off) de 650 funcionários de sua fábrica em Porto Real, no Sul Fluminense, a MAN, fabricante de caminhões pertencente à Volkswagen, também vai adotar a medida em seu parque industrial. A partir do dia 17 de abril, 200 trabalhadores da MAN e do Consórcio Modular (grupo de oito fornecedores que utilizam a estrutura da planta), em Resende, serão temporariamente dispensados.

Fábrica da MAN em Resende vai suspender os contratos de 200 funcionários%2C a partir de 17 abril. Na mesma região%2C Citröen Peugeot também está com quadro reduzidoDivulgação

Assim como ocorreu na Peugeot, esses empregados não serão desligados. Eles farão cursos de qualificação por cinco meses e receberão parte do salário pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador. A outra fatia dos vencimentos será complementada pela empresa, que ainda não definiu quais funcionários serão dispensados.

Em nota, a MAN não especificou quais foram os fatores que motivaram à decisão. A empresa informou apenas que a medida se deve “à fraca demanda dos mercados doméstico e externo.” Entretanto, segundo informações divulgadas pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico do Rio, uma das principais causas para a baixa demanda no início deste ano foi a falta de renovação do Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento que incentivava o financiamento de veículos pesados.

A MAN não divulgou o volume da redução na produção. “Por ser uma empresa de capital aberto, o Grupo MAN não pode divulgar prognósticos de vendas e produção”, informou. O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense estima que a queda será de 20%, de 260 veículos/dia para 210 veículos/dia. “Estávamos tentando segurar essa suspensão desde o início do ano, mas agora o pátio está cheio, e como as vendas caíram, não teve mais jeito”, afirmou o diretor de comunicações do sindicato, Bartolomeu Citeli.

Em 2013, as vendas para o mercado interno ficaram praticamente estáveis na MAN. Foram 49.859 caminhões e ônibus comercializados, somente 400 unidades a mais que em 2012. Já as exportações caíram 12% entre um ano e outro. Foram 7.886 veículos vendidos para o exterior em 2013, contra 9.018 em 2012, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.

Para governo do estado, retração é pontual

O governo do estado classificou a retração nas vendas da MAN como “pontual”. A postura foi a mesma adotada quando a Peugeot anunciou seu lay-off. Em nota, o secretário de estado de Desenvolvimento Econômico do Rio, Júlio Bueno, informou que confia na recuperação do setor e que as recentes medidas de contenção nas montadoras do Sul Fluminense não atrapalham os planos de consolidação de um polo automotivo na região. “Mesmo sabendo que a crise que acomete todo o Brasil inevitavelmente chega ao Rio, estamos confiantes nessa trajetória de crescimento contínuo e sustentável para os próximos anos, no curto, médio e longo prazos”, explica a nota, destacando a vinda da Nissan, da Jaguar Land Rover e da Neobus para o estado. O secretário lembrou que a queda drástica nas importações da Argentina foram um duro golpe para o setor: “Por conta dessa redução nas vendas para a Argentina, várias fábricas de automóveis no Brasil, que tinham parte de suas atividades voltadas para a exportação para aquele país, foram afetadas. Entre elas, a GM e a Fiat, em SP, e a unidade da Peugeot Citroën, de Porto Real”.

Em fevereiro, a Peugeot suspendeu um dos seus turnos de produção. Para sustentar as vendas no país, a montadora está oferecendo descontos expressivos em alguns de seus modelos. O sedã Peugeot 408 está sendo oferecido com um bônus de R$ 8 mil. Já a linha 208 está sendo vendida sem juros, nas versões a partir de R$ 43.610,52. O modelo sai com entrada de 25.074,00 (60% do total) mais 12 parcelas de R$ 1.544,71.

Projeção é pessimista

Em balanço apresentado nesta quarta-feira, a Fenabrave manteve suas expectativas para o setor automotivo em 2014. A entidade prevê que o segmento vai repetir os resultados de 2013, ou, em um cenário mais desfavorável, apresentar queda, de 3,6%.

O presidente da entidade, Flávio Meneghetti, avalia que, com um crescimento mais modesto do PIB do país, o setor não terá tanto fôlego para expansão. A alta da Selic, que chegou a 11% ao ano na quarta-feira, pode influenciar na demanda. "Temos um cenário de retração de crédito por parte dos bancos, taxas mais altas de juros e realinhamento de preços, ainda que abaixo da inflação. Tudo isso gera dúvidas sobre as projeções de resultados para este ano”, afirma Meneghetti.

Segundo balanço divulgado nesta quarta-feira pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), os emplacamentos de caminhões caíram 10,78% entre fevereiro e março deste ano no Brasil. No mês passado, foram licenciados 9.337 unidades deste tipo de veículo.

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