Rio - O consumo desenfreado é uma das principais características da sociedade atual, que ainda busca na aquisição de bens uma espécie de realização pessoal. O problema é que essa cultura é transmitida às crianças e, se esse pensamento se perpetuar, é possível que não haja recursos naturais suficientes num futuro próximo. Em meio a este cenário, as escolas têm o importante papel de conscientizar os pequenos para os riscos do consumismo.
Instituições de ensino públicas e privadas já incluíram no seu currículo ou nas atividades extraclasse aulas e projetos sobre sustentabilidade e consumo responsável. “Cada vez mais as escolas trabalham com esses temas e conscientizam os alunos que, por sua vez, educam os pais”, explica Edgar Flexa Ribeiro, presidente do Sindicato dos Estabecimentos de Educação Básica do Município do Rio (Sinepe).
O Mopi, por exemplo, adotou práticas diárias, como a substituição de copos plásticos descartáveis por garrafinhas que são distribuídas no início do ano. Já a Escola Parque tem um Plano de Metas Sustentáveis, que propõe o aproveitamento de alimentos da horta e do pomar da escola no lanche dos alunos, e estimula o uso da carona, entre outros.
No Ciep Francisco Cavalcante Pontes de Miranda, em Campo Grande, os alunos criam codornas e cuidam de duas hortas. O professor Lúcio Teixeira, de técnicas agrícolas, diz que o objetivo do projeto é mostrar às crianças que não é preciso comprar alimentos industrializados.
“A ideia é que eles percebam que podem produzir algumas coisas em casa, sem recorrer ao supermercado. Além de ser saudável, é mais gostoso”, afirma o professor.
Já no Colégio Estadual Pandiá Calógeras, em São Gonçalo, o professor de biologia Ricardo Harduim implementou o programa Educação e Mudanças Climáticas, com o projeto Carbono Zero. Para cada tonelada de carbono emitida pela escola na atmosfera, cinco árvores são plantadas pelos alunos.
“Cada um deve se sentir responsável pelos efeitos das suas ações na natureza. O desperdício de comida, por exemplo, é muito prejudicial ao meio ambiente, pois o lixo orgânico aquece 21 vezes mais que gás carbônico. Andar de carro e consumir energia elétrica em exagero também contribuem para a poluição atmosférica”, conta Harduim.
O consultor ambiental Alessandro Azzoni reforça que o consumismo é o principal fator de degradação do meio ambiente. “As pessoas devem começar a consumir somente aquilo que necessitam”, alerta ele.
Publicidade infantil é vista como vilã
A publicidade infantil é vista por muitos como a principal responsável por estimular a cultura do consumo nas crianças. “Ninguém nasce consumista”, afirma a psicóloga Laís Fontenelle, do Instituto Alana. “Até os 12 anos, os pequenos não têm capacidade crítica para lidar com a persuasão, por isso acreditam nas propagandas mais facilmente”.
O consultor ambiental Alessandro Azzoni concorda. “A juventude não tem um parâmetro de saber onde parar, porque sempre é lançado algo novo. Há uma necessidade de compra imposta pelos meios de comunicação”, argumenta.
Por isso, cabe às famílias e escolas transmitir às crianças valores sustentáveis. “Famílias que estimulam o materialismo e escolas que incentivam a competitividade contribuem para jovens consumistas”, alerta Laís.
Para ela, a melhor forma de educar é dando o exemplo. “A coerência é a melhor ferramenta para a transformação. Não adianta a mãe proibir o filho de comprar um brinquedo e sair do shopping com várias sacolas de roupas para ela”, explica a psicóloga.
ATITUDES SUSTENTÁVEIS
QUERO OU PRECISO?
Antes de atender ao pedido dos filhos para comprar algo no supermercado ou loja de brinquedos, os pais devem perguntar às crianças se o produto é mesmo necessário. Uma alternativa para não frustrar os pequenos é combinar antes de sair de casa o que será comprado.
LANCHES SAUDÁVEIS
Alimentos industrializados, além de ser pouco saudáveis, geram muitos resíduos, em função das embalagens. Por isso, o ideal é estimular as crianças a comerem lanches naturais, como frutas, sanduíches e sucos. Para guardar, use potes plásticos, em vez de papel alumínio.
TROCA DE BRINQUEDOS
Crianças enjoam facilmente dos brinquedos, por isso, é importante estimular os pequenos a trocar com os amigos. Assim, todos têm sempre novidades, sem precisar comprar. A ideia também vale para roupas e livros, entre outros.
DOAÇÕES
Se os pais quiserem presentear os filhos com brinquedos ou roupas novas, vale a pena entrar em um acordo para que um objeto antigo seja doado. Desta forma, o armário fica livre de artigos guardados sem utilidade e as crianças ainda aprendem a ser solidárias, desapegadas e menos egoístas.
LAZER AO AR LIVRE
Muitas crianças ligam diversão a gastar dinheiro, já que na maior parte das vezes o lazer acontece nos shoppings centers. Assim, cabe aos pais oferecer alternativas gratuitas e divertidas, como passeio no parque, trilhas, idas à praia ou cachoeira e brincadeiras na praça.
REUTILIZAÇÃO
Com criatividade, muitas embalagens podem ser reaproveitadas para fazer brinquedos. Basta pedir para os pequenos usarem a imaginação. Além disso, os pais devem ensinar os filhos a separar o lixo reciclável antes de descartá-lo. A criança reproduzirá essa ação no futuro.