Por felipe.martins

Rio - Em 1994, quando a internet começou a chegar à casa dos brasileiros, o estudante Pedro Tessarolo saia da maternidade. Expressões como banda larga, Google, Facebook e Twitter nunca foram estranhas ao seu vocabulário. E foi por meio de uma delas que ele conseguiu fechar um “negócio da china” ao comprar um tênis da Nike, que saiu de R$ 299 por R$215.

A compra foi feita no dia 9, por meio do Twitter, onde Tessarolo convocou duas lojas, a Netshoes e a Centauro, para duelarem pelo cliente. As empresas embarcaram na proposta e a Netshoes, que ofereceu o maior desconto, de 28%, fechou a venda. “Nem chorando muito eu conseguiria esse desconto em uma loja física. Não me dariam nem 10%”, comemora Tessarolo.

Hiperconectada%2C geração digital cresce no mercado de consumo e dita novas regras no varejo Arte O Dia

Além de aliviar o bolso do estudante, o duelo fez propaganda espontânea para as marcas envolvidas. A experiência mostra como pode ser benefício para os setores de comércio e serviços entender e se conectar com os “nativos digitais”, aqueles que nasceram e cresceram em meio à tecnologia e chegam agora na faixa dos 20 anos.

Esse público crescente, que será maioria em algumas décadas, está no radar do varejo e tem despertado mudanças no setor, que aumenta presença no e-commerce e nas redes sociais.
Por ora, o desafio é atrair e cativar esses jovens sem deixar de dar atenção à clientela mais antiga, os chamados imigrantes digitais, que ainda são a geração que detém maior poder aquisitivo.

“Vivemos um momento de transição do físico para o online, que acontecerá até se chegar ao equilíbrio entre os dois”, afirma Bruno Maletta, sócio da Consumoteca.

Segundo ele, a prevalência da marca no mundo virtual ou real vai depender do segmento onde atua. Na moda, por exemplo, a loja física é importante, pois são produtos que precisam ser experimentados. Mesmo assim, consumidores não abrem mão da internet na hora de pesquisar, como a administradora Luana Dias, 24 anos.

“Curto páginas de moda no Facebook e acompanho as tendências no Instagram. Antes de ir às compras, escolho a roupa ou sapato no site da loja e já chego sabendo o que eu quero”, conta.

O imigrante digital recorre a manuais de instruções para aprender a usar os dispositivosArte%3A O Dia

Segundo o consultor da Nielsen/Ibope José Calazans, comportamentos como o de Luana exigem que os profissionais das lojas estejam mais preparados. “O consumidor jovem chega à loja munido de mais informações”, afirma.

Pioneira na inserção digital, a rede de livrarias Saraiva tem uma loja virtual desde 1998 e aposta na integração entre mundos on e offline para fidelizar a clientela.

“Promovemos eventos nas lojas físicas, mas ao mesmo tempo transmitimos na internet. Outro exemplo é que o cliente pode comprar online e fazer a retirada na loja, ou, se está na loja e o produto está em falta, solicitar pela internet na hora”, afirma o diretor de e-commerce da marca, Guilherme Farinelli.

Para estudantes de moda, a melhor vitrine é a rede

Enquanto muitas consumidoras fazem questão de passar pelo provador e conferir se a peça tem caimento impecável na hora de comprar a roupa, esse hábito está se tornando dispensável para a nova geração.
As estudantes de moda Mariah Freitas, 20 anos, e Laís Vasconcelos, 17, são parte de um grupo que faz tudo virtualmente, desde a pesquisa de tendências até a comparação de preços e o fechamento da compra.

“Antes de comprar, a gente tira as medidas e confere o tamanho no site”, explica Mariah. Segundo as amigas, a internet tem mais variedades de preços, modelos e ainda é permite comprar em lojas internacionais que não chegaram ao Brasil ou que só vendem pela rede mesmo.

“Na semana passada, comprei três peças pela internet”, conta Laís. “Uma delas foi um sapato que procurei em várias lojas, só encontrei à venda na web”, diz a estudante.

Laís também usa a rede ao comprar acessórios para celular e componentes para sua câmera fotográfica.
“Na loja física, a vantagem é que você não se engana, pois pode conferir o produto. Mas a internet tem mais variedade e melhor preço”, avalia.

Duelo de preços no Twitter surpreendeu comprador

Usuário do Twitter desde 2009, o estudante de sistemas de informação Pedro Tessarolo não imaginava como a Centauro e a Netshoes responderiam ao seu pedido de desconto. “Fiquei surpreso quando eles responderam”, diz.

O estudante Pedro Tessarolo%3A barganha pelo Twitter deu resultados na compra de um tênis que ele tanto queriaCarlo Wrede / Agência O Dia

Morador de Paranavaí, no interior do Paraná, ele diz que a internet é uma aliada nas compras. “Compro calçados, camisetas, relógios, óculos...”, enumera. Tessarolo afirma que sua mãe ainda desconfia das compras online, mas está aderindo ao sistema. Já a avó, não é adepta. “Ela diz: você é louco de passar o número do cartão para esses sites”, conta, rindo.

Tio avô, tio e sobrinho têm hábitos diferentes na hora de comprar

Fã de jogos de videogame, o estudante Marcos Vasconcelos, 13 anos, nasceu junto com o XBox, o console da Microsoft. Ele costuma procurar as novidades do segmento na internet para comprar.
Em vez de percorrer lojas, navega por fóruns, blogs e sites especializados para saber o que há de novo no mercado e em suas empresas favoritas, Apple e Sony. Na internet, encontra produtos mais baratos. “O problema é que às vezes demora a chegar”, diz.

O tio dele, Sérgio Carvalho, 42, pertence à geração anterior, dos “imigrantes digitais”. Por causa de sua profissão, na área de Tecnologia da Informação, Sérgio é um imigrante bem adaptado a esse universo. Passagens aéreas, livros e eletrodomésticos estão em seu carrinho de compras online. “Ainda tenho o hábito de ir a lojas, mas faço isso cada vez menos”, diz ele.

Ao contrário de muitos de sua geração, que têm medo de efetuar pagamentos por meio da rede, Carvalho afirma que confia na segurança destas transações. “Existe um risco, mas eu conheço bem os mecanismos de segurança”, argumenta ele.

Já Mário Roberto Logullo, tio de Sérgio, é da turma dos analógicos e não quer saber de internet. “É mais por preguiça”, confessa. Ele admite, no entanto, que já fez compras na rede, por meio de intermediários da família.

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