Por bferreira

Rio - Com a previsão de investimentos no país de cerca de US$ 55 bilhões (R$ 123 bilhões) por ano nas próximas duas décadas para exploração de óleo e gás, o Estado do Rio, que detém as maiores reservas do país, deve absorver 80% desses recursos. Para a consolidação dos investimentos, porém, é necessário melhorar a competitividade da indústria nacional, principalmente do setor naval.

A avaliação é do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Julio Bueno, ao participar do seminário 3º Balanço do Setor Naval e Offshore do Rio de Janeiro, ontem na sede da Federação das Indústrias do Rio (Firjan). O debate, envolvendo todo o segmento do estado, incluindo empresários, trabalhadores e governo, confirmou a recuperação da Indústria Naval brasileira e fluminense, principalmente, a partir da adoção de políticas públicas voltadas para o segmento no início dos anos 2000.

Na Firjan%2C empresários%2C trabalhadores e governo discutiram os rumos da indústria naval fluminenseJoão Laet / Agência O Dia

Nesse sentido, a implantação, por parte do governo federal, dos programas de Modernização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural Natural (Prominp) e de Expansão e Modernização da Frota (Promef), capitaneados pela Petrobras, foi fundamental para a recuperação da indústria fluminense. A implantação da política de conteúdo nacional — uso de peças e equipamentos na montagem de navios e plataformas — também contribuiu para esse renascimento da Indústria Naval.

“O setor teve um processo de recuperação que foi excelente, desde 2003, quando a Petrobras voltou a encomendar navios e plataformas no Brasil. Saímos de sete mil empregos no país e quatro mil no Rio para 78 mil postos de trabalho, sendo 30 mil apenas em nosso estado”, comemorou Bueno.

Promovido pela Firjan e pelo Sindicato Nacional da Indústria Naval e Offshore (Sinaval), o seminário teve a parceria do Fórum dos Trabalhadores do setor e o apoio do Grupo Ejesa, que edita os jornais O DIA e ‘Brasil Econômico’. Participando da abertura, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) destacou que a Indústria Naval é a cara do Rio, já que aqui encontra-se a maior parte dos estaleiros, há um forte polo metal-mecânico, além de deter boa parte da mão de obra qualificada, e centros de pesquisa.

“Estamos cada vez mais apoiando esse segmento, seja por meio de incentivos tributários, como a capacitação da mão de obra. Na comunidade da Maré, por exemplo, vamos implantar um Centro Vocacional Técnico voltado para o segmento, preparando os trabalhadores. Outros cursos profissionalizantes na área naval serão implantados também em Manguinhos, no Jacarezinho e no Complexo do Alemão para atender à demanda da mão de obra. Hoje, essa indústria possui uma média salarial acima dos outros segmentos na Região Metropolitana”, destacou o governador.

Presidente do Fórum dos Trabalhadores da Construção Naval e Offshore, Joacir Pedro relembrou que a classe trabalhadora esteve à frente na luta pela retomada da Indústria Naval no país e no Rio, mas cobrou uma política mais ampla de conteúdo nacional, aumentando a carteira de produção dos estaleiros e da indústria de fornecedores de peças e equipamentos.

Segmento de navipeças deve ser inserido no contexto internacional

Para Julio Bueno, secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio, é necessário estabelecer uma “nova visão” sobre a exigência do conteúdo nacional para Indústria Naval brasileira, voltada ao setor de óleo e gás.

Segundo ele, é preciso garantir a continuidade das encomendas nos estaleiros e junto aos fornecedores nacionais, mas também é necessário que esse segmento seja inserido no contexto internacional, para que os fabricantes possam ser competitivos e ganhem escala de mercado. “Temos que alavancar a indústria de navipeças para que produza produtos com valor adicionado. Para isso, é necessário financiamento, podendo ser até mesmo de investimento estrangeiro que queira se estabelecer aqui”, acrescentou o secretário Julio Bueno.

Presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira lembrou, na abertura do seminário, que a luta pela recuperação da Indústria Naval no país e no estado começou em junho de 2002, quando a entidade publicou na imprensa nota oficial criticando o então governo federal por contratar um estaleiro estrangeiro para fazer a adaptação da P-50.

A partir da nota, políticos nacionais começaram a se mobilizar em defesa do setor nacional e o governo reviu sua posição, dando início à retomada dos estaleiros e encomendas de navios produzidos aqui.

De acordo com dados da Petrobras, apresentados pelo Sinaval durante o seminário, até 2020 a estatal prevê a entrada em operação de 38 plataformas de produção e exploração de petróleo, 49 navios-tanques, 28 sondas e 207 embarcações especiais e de apoio.

Em 2013, foram entregues seis plataformas de produção; dois navios do Programa de Expansão e Modernização da Frota (Promef); 21 navios de apoio marítimo; dez rebocadores portuários; 44 barcaças de transporte fluvial.

Abimaq quer isonomia tributária para crescer mais

O presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso Dias Cardoso, criticou a política de conteúdo nacional, apontando que só os estaleiros se beneficiaram. Isso ocorreu em detrimento do segmento dos fornecedores de navipeças, que enfrentam a concorrência da importação de produtos por parte da indústria naval.

Ele foi taxativo ao afirmar “que não existe política de conteúdo local”. “Os 78 mil empregos criados devem ser aplaudidos, mas poderiam ser multiplicados por quatro, caso tivéssemos o mesmo tratamento. Queremos isonomia tributária para poder desenvolver”, disse.

Vice-presidente do Sinaval, Franco Papini concordou que deve haver desoneração de impostos para o setor, mas rebateu afirmado que o segmento precisa ser mais competitivo.

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