Rio - Na pátria das chuteiras, como dizia Nelson Rodrigues, jogador de futebol é rei. E, de fato, os salários e cachês pagos a esses atletas são dignos da realeza. Mas apesar de Neymar ocupar o trono futebolístico brasileiro atualmente, na publicidade internacional, o patrício Cristiano Ronaldo ainda sai na frente: o jogador português tem um salário quase três vezes maior que o do brasileiro e ganha praticamente o dobro com aparições em propagandas.
A explicação não está no desempenho dos craques em campo. Até porque, Neymar já fez a mesma quantidade de gols (dois) nesta Copa que Cristiano Ronaldo em todos os três mundiais que disputou. O carisma e a identificação com o público também são características de ambos. Portanto, talvez a diferença tenha relação com critérios mais, digamos, subjetivos.
“O eleitorado feminino acha o Cristiano Ronaldo mais bonito que o Neymar”, brinca Antônio Carlos Morim, coordenador da pós-graduação da ESPM e especialista em marketing esportivo.
Para ele, brincadeiras à parte, é apenas uma questão de tempo até o atacante da seleção brasileira alcançar os mesmos cifrões que o capitão do time de Portugal.
“Os dois são mais que grandes jogadores. A performance é apenas um rastro que os colocou na Copa. Eles têm aura própria, são sua própria marca. Em Portugal, Cristiano é endeusado. Não se via um jogador assim desde Eusébio. Aqui, Neymar está se tornando um bom embaixador, como o Pelé foi e ainda é.
Além disso, teve origem humilde e passa a imagem do garoto que deu certo. Por isso é uma escolha óbvia da maioria das marcas”, avalia Morim.
Para o publicitário Marcio Oliveira, presidente da agência Lew’Lara\TBWA, a união de duas marcas (o jogador e o produto) pode trazer muito sucesso para uma estratégia de campanha. “A situação ideal é quando a gente analisa as necessidades da marca: percepção, preferência, opinião, intenção de compra e cruza com as qualidades deste jogador que pode ser analisado também como uma marca que inspira confiança, alegria, carisma, seriedade”, explica.
Foi o caso da campanha da operadora de telefonia móvel Claro com Neymar, em que os movimentos do jogador são acompanhados pela descrição do cronista Nelson Rodrigues sobre um verdadeiro craque.
“E que sorte a nossa termos um craque assim. Genial e garoto”, diz o comercial.
Em momento algum o nome da empresa é citado, mas o vídeo gerou grande repercussão nas redes sociais. “Algumas marcas estão perto do consumidor, mas são frias. Por isso precisam passar emoção”, diz Morim.
Usar a imagem dos jogadores em campanhas de roupa íntima masculina também é um recurso comum. Não é à toa que Cristiano Ronaldo lançou a grife CR7 e Neymar já tem sua própria linha nas coleções da Lupo.
A Copa impulsionou propagandas com outros jogadores da Seleção, como David Luiz e Thiago Silva. Mas nada comparado à disputa entre Neymar e Cristiano Ronaldo, que vai permanecer mesmo depois do Mundial. “Voltamos a ter grandes jogadores. Não dá para comparar craques”, conclui Antônio Carlos Morim.