Por adriano.araujo

Rio - Em uma negociação que demandou dois anos de discussões, o grupo de países conhecidos como Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ganhou, enfim, um banco para chamar de seu. O acordo anunciado na terça-feira é considerado o passo mais ousado desde que o bloco das nações emergentes começou a se reunir formalmente, em 2009. Mas, para especialistas, a assinatura do acordo é só o começo de um caminho pedregoso a ser percorrido.

A principal dificuldade na operação da instituição será definir as prioridades na destinação de recursos, que terá aporte inicial de US$ 50 bilhões (R$ 110 bilhões). “Você tem no mesmo bloco o maior país do mundo, países menores, democracias, ditaduras e problemas internos distintos”, analisa Diogo Costa, professor de ciência política do Ibmec-MG. “Logo logo, a Rússia vai querer colocar sua zona de influência lá dentro. Já o Brasil vai querer beneficiar o Mercosul”, afirma.

Chefes de Estado se reuniram na 6ª Cúpula dos Brics%2C no CearáReuters

Para o professor Lier Pires, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), outra questão que vai provocar debates é sobre as áreas que serão beneficiadas. “O banco vai financiar projetos de Educação, infraestrutura, estabilização econômica? Isso tudo é um grande ponto de interrogação neste momento”, alega. “Mas somente o fato de o processo estar em marcha é uma sinalização muito importante”, diz.

Segundo João Nogueira, professor da PUC-Rio e pesquisador do Brics Policy Center, centro de estudos dedicado ao bloco, as primeiras pistas vão começar a aparecer somente quando forem definidos o corpo técnico e o conselho que irá gerir a instituição. “Vai ser um processo longo, que envolverá muita negociação política”, avalia.

O banco dos Brics terá sede em Xangai, na China, e a presidência será rotativa, começando pela Índia. A previsão é de que ele comece a operar a partir de 2016, pois o acordo ainda tem que ser ratificado pelo parlamento de cada país.

O consenso é que a instituição dará mais autonomia para os países que, até então, dependiam do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). “É instrumento concreto para as nações emergentes buscarem um espaço concreto de manobra político-econômica no cenário internacional”, destaca Pires.

?Petróleo vai atrair a China

O petróleo localizado nas bacias fluminenses é o maior chamariz do Rio de Janeiro para a atrair investimentos dos Brics. Com 80% das reservas do produto do país, o estado pode se beneficiar da aproximação entre o bloco, principalmente da relação com a China, que já está investindo no Campo de Libra.

As enormes jazidas de petróleo no pré-sal%2C localizadas nas bacias fluminenses%2C são um atrativo econômico para os países emergentesAFP

Durante encontro com a presidenta Dilma Rousseff, na quinta-feira, o presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que o país quer “seguir estimulando o investimento no setor do petróleo, energia elétrica e siderurgia”. O país asiático é um dos integrantes do consórcio vencedor do leilão para a exploração do pré-sal no Campo de Libra. No negócio, as estatais chinesas CNPC e CNOOC têm participação de 10% cada uma e investimento de US$ 1,5 bilhão. “Encontros como este são importantes para alavancar investimentos. É difícil precisar o que vai sair dele, mas a China tem interesse em aumentar sua presença no Brasil”, afirma Kevin Tang, diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. “O leilão do campo de Libra foi um salto significativo e o Rio tende a se beneficiar com a consolidação dos Brics”, completa João Nogueira, da PUC-Rio. Professor de Relações Internacionais do Iuperj, Lier Pires afirma que o potencial do estado não se esgota no setor de energia. Ele destaca a área de tecnologia e a automotiva como setores em que a região poderia captar investimentos. “A fábrica da Lada pode vir para o Brasil e o polo Sul Fluminense é uma possibilidade de sede”, diz.

Entenda o que são os Brics

O termo Bric foi cunhado em 2001, em um estudo do economista Jim O’Neil, do banco Goldman Sachs. Ele se referia às quatro economias emergentes do mundo. A partir de 2009, chefes de estado dos países começaram a se reunir para aprofundar relações políticas e econômicas (junto com a África do Sul).

Visto com desconfiança por especialistas, o grupo dos Brics costuma ser criticado por ser apenas “um aglomerado de letras”, daí a importância da criação do banco. Foi a primeira vez que o grupo se institucionalizou.

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