Por bferreira

Rio - Menos de 24 horas após o resultado do primeiro turno da eleição presidencial, a Bolsa de Valores reagiu imediatamente de forma positiva, muito por conta do desempenho do candidato de oposição Aécio Neves (PSDB), que foi para o segundo turno. O Ibovespa, principal indicador da bolsa, fechou em forte alta, de 4,72%, aos 57.115 pontos. O índice foi puxado pela disparada das ações da Petrobras e do Banco do Brasil. Já o dólar apresentou queda de 1,43%, cotado a R$ 2,427, em relação ao valor da última sexta-feira.

A alta da bolsa de ontem foi a maior desde 9 agosto de 2011, quando avançou 5,10%. Mas em 27 de julho de 2012, o índice fechou com a mesma variação de 4,72%.

O Ibovespa chegou a bater quase 8% de alta pela manhã. O ritmo diminuiu nas horas seguintes. As ações da Petrobras tiveram valorização de 11%, e do Banco do Brasil, de 13%.

“Essa alta foi boa. Já era esperada, mas foi maior ainda diante da menor diferença obtida por Aécio Neves, segundo colocado, que cresceu mais do que as pesquisas apontavam, refletindo o destaque positivo do último debate”, destaca Claudio Duhauo, analista da Ativa Corretora.

De acordo com o especialista, agora o mercado tentará precificar os rumos do segundo turno, partindo até mesmo do possível apoio ou não de Marina Silva (PSB) ao candidato tucano. “A bolsa manterá a volatilidade nos próximos dias. Ainda é um movimento especulativo, basicamente refletindo a eleição”, explica Duhau, acrescentando que as ações dos candidatos impacta na cotação das empresas públicas — o “kit eleição” —, como Petrobras e bancos do governo.

O economista lembra que também os setores regulados como energia e construção serão impactados com o as próximas pesquisas.

“Se algum candidato avançar mais, o mercado deve se ajustar”, afirma.

Os profissionais do mercado financeiro têm mostrado descontentamento com a política econômica do atual governo e com o que consideram intervencionismo em estatais. Já Aécio tem a preferência do setor, pois o PSDB tem posição historicamente mais liberal em questões econômicas. O candidato tucano já anunciou que, caso eleito, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga será o ministro da Fazenda de seu governo.

“A oposição mostra mais clareza para a condução da economia, tendo já escolhido até o ministro da Fazenda. É possível que, agora, o governo atual tenha que dar mais indicação do que deve fazer nesta área”, destaca o economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall, que foi secretário do Tesouro Nacional no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Professor de Finanças do Ibmec-RJ, Nelson de Souza lembra que há um descrédito muito grande com o atual governo. “Apesar do discurso eleitoral, que não é muito garantido, não parece que o atual governo está disposto a mudar o rumo da economia. O que se vê é uma falta de credibilidade”, afirma.

Para o economista, os investidores vão continuar precificando tanto a bolsa quanto o dólar conforme as expectativas das pesquisas. “Se tiver notícia ruim, os preços da bolsa caem e é hora de comprar. Se for bom, será de venda”, diz.

Estimativa de inflação fica abaixo do teto da meta

Pela terceira vez nas últimas semanas, analistas do mercado financeiro, conforme o boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central, elevaram a estimativa de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país. A nova expectativa para 2014 passou de 6,31% para 6,32%.

Para o crescimento da economia, o pessimismo permanece e o setor projeta o PIB (Produto Interno Bruto) a 0,24% e não mais 0,29% como no levantamento anterior, com a produção industrial negativa e em queda de 2,14%.

Houve elevação também na projeção do câmbio, que passou de R$ 2,35 para R$ 2,40 para este ano. Para 2015, a estimativa também subiu, a R$ 2,50 sobre R$ 2,45.

Os economistas das instituições financeiras elevaram pela segunda vez seguida a projeção para a taxa básica de juros — a Selic — em 2015, para 11,88% na mediana das estimativas, contra 11,38%. Para este ano, a perspectiva da Selic permaneceu nos atuais 11%.

Para Nelson de Souza, independentemente de quem vença a eleição presidencial, em 2015 não será muito diferente do que este ano, “pois os números da economia são muito negativos”.

Segundo ele, o mercado está mais favorável a Aécio Neves e deverá dar um crédito de, pelo menos, seis meses, caso o candidato do PSDB vença.

Se a presidenta Dilma Rousseff confirmar a vitória, a pressão para mudanças será muito mais forte e desde do início, diz o professor do Ibmec-RJ.

“Os índices pioram ou melhoram inversamente ao desempenho de Dilma nas pesquisas”, aponta Souza.

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