Rio - Para o economista e professor Alexandre Espírito Santo, o momento é de cautela. Em entrevista ao DIA, ele alerta para os movimentos da Bolsa de Valores e do dólar e para posição que defende desde antes do 1º turno. Consultor da Simplific Pavarini e professor do Ibmec-RJ, Espírito Santo aconselha que até o resultado final da eleição, o investidor mantenha prudência, pois o sobe e desce do mercado ainda é especulativo. Para o consumidor comum, recomenda evitar gastos, como viagens ao exterior, por conta do dólar alto, ou endividar-se com o crédito fácil.

O DIA: A Bolsa de Valores tira proveito da acirrda disputa nestas eleições?
ALEXANDRE: – O comportamento atual da bolsa tem, sim, um conteúdo especulativo em torno do momento eleitoral. Claro que alguns investidores se aproveitam dos momentos políticos, ainda mais com uma disputa tão acirrada como essa agora. Então, há pessoas tentando se aproveitar. Naturalmente, teve o impacto das pesquisas e as pessoas tentando se antecipar aos resultados e fazendo suas posições.
Como o investidor deve se comportar neste momento?
Os investidores têm que olhar a longo prazo e não uma tendência de momento. Depois da eleição, com o quadro definido e sabendo quais serão as políticas, teremos uma visão mais clara de como ficará a economia e o comportamento mais estável da bolsa.
As pesquisas influenciaram o movimento?
Lá atrás houve uma alta, quando a Marina (Silva) estava em alta e com a ascensão da Dilma (Rousseff), chegou a ter queda. Mas, observando-se mais atentamente, vemos que a bolsa está com os valores de 2009, ou seja, praticamente igual há de cinco anos.
A bolsa continuará a subir?
Acredito que a bolsa vai voltar a crescer. Temos que torcer para isso, que a bolsa vai subir. Mas diria para o investidor que agora não é o momento de fazer posições. É interessante comprar para o longo prazo. Não comprar para um ou dois anos.
O que mais pode afetar a bolsa no próximo ano?
Além disso, o investidor também tem que ficar atento à mudança da política econômica e monetária nos Estados Unidos. E isso independe de quem será vencedor as eleições aqui no Brasil e as ações que irá comprar. Quando o Banco Central de lá aumentar os juros, isso vai refletir em todo o mundo, inclusive aqui em nosso país. O que deve ocorrer em breve.
O que mais pode acontecer?
Além disso, também é importante observar os preços controlados, que estão defasados, como os combustíveis e energia, por exemplo. Esses preços terão que ficar mais realistas. Assim, se isso ocorrer no próximo ano, seria interessante investir na Petrobras e Eletrobras.
E por que o dólar teve alta antes do 1º turno?
Em relação ao dólar, a taxa de câmbio está errada há algum tempo. Estamos com um déficit muito grande nas contas correntes, que chega a 3,5% , 3,6% do PIB. Esse déficit é alto. O dólar está valorizado no mundo inteiro, e é essa a tendência de desvalorização do real nesse momento com a saída do Banco Central. De uma forma indireta, com as operações de swap, o BC segurou a alta do dólar, que já era para ter subido, por um bom tempo.
Mas não subiu demais?
Aqui na Simplific Pavarini fizemos os estudos há três meses e a taxa de equilíbrio era de R$ 2,55, R$ 2,60. Esse é um bom preço para ter uma estabilização. E é o que está ocorrendo, está indo na direção certa.
Pode afetar a inflação?
Então, com essa valorização abrupta, o dólar está indo para essa taxa de equilíbrio. Porém, com a taxa de câmbio indo para um patamar mais adequado vai pressionar mais a inflação.
O que pode ocorrer se a Dilma não se reeleger?
Também temos que observar que, se a presidenta Dilma não for reeleita, assumindo o outro candidato poderá ocorrer uma entrada maior de investidores. E aí pode haver um retorno para baixo na faixa do R$ 2,40, R$ 2,45. Mas também seria temporário, pois preço é preço, e foi o que ocorreu quando o BC saiu das operações.
E como fica o crédito?
Há um impacto da inflação sobre o crescimento do PIB. Com a inflação alta as pessoas consomem menos. Então, só liberar crédito não vai adiantar.
O governo deve liberar ainda mais o crédito?
As pessoas já estão endividadas mais do que deveriam, devido à política de liberação de crédito anterior. Liberar mais crédito agora não é a solução, pois as pessoas estão endividadas. Ninguém, que é responsável, vai ficar tomando mais crédito. Não acho que seja prudente.
O que deve ocorrer após a eleição?
Como a economia está parada, pode ocorrer após as eleição, principalmente se a Dilma for reeleita, a adoção de algumas medidas mais populistas para melhorar o crescimento da economia. Porém, com uma política de aumento de juros de um lado e aumento de crédito no outro, é um contrassenso. Eu sugiro que as pessoas não tomem mais crédito nesse momento para não se endividar mais ainda.
Como o consumidor deve se comportar?
Assim, as viagens para o exterior devem ser evitadas, principalmente com o dólar alto. Esse é um momento de prudência, até o cenário ficar mais claro.