Aumento de gastos públicos e baixo crescimento do PIB marcaram o ano. Não houve recessão, ao contrário das previsões mais pessimistas
Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Para a economia brasileira, 2014 não vai deixar saudades. O ano foi de baixo crescimento e dificuldades no controle dos gastos públicos. Mesmo assim, a presidenta Dilma Rousseff recebeu o aval de 54,5 milhões de brasileiros para governar por mais quatro anos, embalada por uma baixa taxa de desemprego — que perdurou por todo o ano — e pela manutenção de programas de transferência de renda.
Mantega%3A o ministro mais longevo do período democrático se despede de forma melancólicaMurillo Constantino / Agência O Dia
Segundo analistas, a gestão das contas públicas foi o maior fiasco do ano na economia. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central na segunda-feira, até novembro, as contas do governo federal tiveram déficit de R$ 18,3 bilhões. Os dados são os piores desde o início da série histórica, em 1997. Somente em novembro, a diferença entre as despesas e as receitas ficou em R$ 6,7 bilhões. Com esses dados, a meta do governo de poupar R$ 10 bilhões ficou distante. “O governo gastou demais e acabou tendo que fazer acordos políticos para cumprir a Lei de Diretrizes Orçamentárias”, afirma o economista Marco Antônio Andrade, professor da Universidade Mackenzie.
A inflação também foi uma pedra no sapato do governo (e no bolso do cidadão) durante o ano. O índice ultrapassou o teto da meta de 6,5% nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro, mas contrariando as previsões mais pessimistas, deve fechar o ano dentro do limite definido pelo governo. A última pesquisa semanal Focus, feita pelo Banco Central com economistas, indica que o índice ficará em 6,38% ao final do ano. Para manter os preços sob controle, o governo aumentou a taxa de juros básicos da economia (Selic), que chega ao fim do ano em 11,75%, maior patamar desde 2001.
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Para Andrade, a combinação destes fatores gerou receios no setor produtivo e um Produto Interno Bruto (PIB) fraco. “O governo não conseguiu passar credibilidade e isso fez com que o PIB não crescesse. Ele apostou no consumo, com desonerações, mas com a inflação alta essas medidas acabaram não surtindo tanto efeito”, avalia. No fim do ano passado, a previsão de crescimento do PIB era de 2%, segundo especialistas ouvidos pela Focus. O governo trabalhava com uma meta de 2,5%, mas em novembro, sucessivas revisões do Banco Central chegaram ao patamar de 0,2% de expansão.
TROCA NA FAZENDA
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As tensões na área econômica desaguaram na demissão de Guido Mantega, o ministro da Fazenda mais longevo no Brasil no período democrático. Apesar de ter conduzido o barco com relativa tranquilidade no governo Lula, durante as turbulências da crise mundial de 2008, ele foi acusado de ter abandonado o tripé macroeconômico formado pelo câmbio flutuante, metas fiscais e de inflação durante o governo Dilma. Esse fato resultou em uma derrocada de sua credibilidade diante do mercado. “Ele passou a não ser respeitado a ponto de a revista Economist pedir sua cabeça no meio do mandato. Ele era considerado um ministro regente, e não um ministro efetivo”, afirma o professor de Finanças do Ibmec Gilberto Braga, se referindo à falta de autonomia de Mantega no final do primeiro mandato de Dilma.
Os ventos de 2015 trouxeram os esperados novos nomes da equipe econômica que irá assumir a batuta no segundo mandato. Ex-secretário da Fazenda do Rio, Joaquim Levy foi anunciado para o lugar de Mantega. Nelson Barbosa, que já tinha integrado o governo petista, voltou para assumir o Ministério do Planejamento.
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Já Alexandre Tombini continuará à frente do Banco Central. O trio teve boa receptividade no mercado. A nomeação foi vista como uma disposição de Dilma de efetuar mudanças na política econômica, com menos interferências e gestores mais ortodoxos. Com o apelido de “mãos de tesoura”, Levy chega em 2015 com a missão de conduzir um necessário ajuste fiscal. Em entrevista recente, afirmou que o ajuste irá elevar a meta de superávit de R$ 10 bilhões em 2014 para R$ 66 bilhões em 2015.
ALTOS E BAIXOS
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SELIC A taxa Selic, principal referência para os juros da economia, irá fechar o ano em 11,75%. A alta da taxa auxilia o governo a combater a inflação, pois desacelera a oferta de crédito no mercado. O lado ruim é que o setor produtivo é afetado. Para 2015, economistas preveem um aumento da taxa para 12,5%.
DÓLAR A moeda valorizou de forma acelerada nos últimos meses do ano e vai fechar 2014 cotada a cerca de R$ 2,65. O resultado favorece as exportações e o equilíbrio das contas externas no país. O efeito colateral é a pressão sobre a inflação, pois os insumos importados pelas empresas encarecem os produtos finais.
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DESEMPREGO A variável econômica mais positiva da gestão de Dilma foi o índice de desemprego, que se manteve baixo durante o ano. Em novembro, a taxa ficou em 4,8% na média das seis principais regiões metropolitanas do país. O índice permaneceu estável em relação a 2013, mesmo com a desaceleração econômica.
PIB No fim de 2013, analistas previam que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teria expansão de 2% neste ano. Com um mercado enfraquecido, a projeção atual dos especialistas ouvidos pela Focus está em um crescimento de 0,14%, próximo de zero. Já o governo, que tinha previsão de crescimento de 2,5% no início do ano, revisou o índice para 0,2% em dezembro, de acordo com estimativa do Banco Central.
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CONTAS PÚBLICAS O déficit das contas do governo acumulado até novembro é de R$ 18,3 bilhões.
PERSPECTIVAS PARA 2015
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6,1% Previsão do Banco Central da inflação em 2015. Para 2016, a autoridade monetária estima que o índice fique em 5%.
0,8%
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Estimativa do Ministério do Planejamento para o crescimento do Produto Interno Bruto no ano que vem.
R$ 2,80
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Previsão de economistas para o valor do dólar em 2015. Para o mercado, a moeda continuará a encarecer.
1,2%
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Segundo o futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a meta de superávit para 2015 é de 1,2% do PIB.