Por felipe.martins

Brasília - A renúncia de Maria das Graças Foster da presidência da Petrobras e de outros cinco diretores da estatal alimentou as especulações no mercado financeiro ontem. O dólar atingiu o maior valor desde 2005, cotado a R$2,7420, com alta de 1,78%. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa de São Paulo, subiu 0,69%, aos 49.301 pontos, com ligeira elevação nos papéis da petrolífera.

Esta quinta-feira será um dia de incertezas no mercado, que voltará a pressionar para que o Conselho de Administração escolha amanhã nomes bem vistos pelos investidores. O objetivo é que o cargo mais importante da empresa seja entregue a alguém com experiência na iniciativa privada, em vez de um funcionário de carreira, como era Graça Foster. As ações preferenciais da Petrobras fecharam com alta de 0,2%, a R$ 10,02, enquanto as ordinárias subiram 1,12%, a R$ 9,90.

Também deixaram nesta quarta-feira o comando da estatal os diretores Almir Barbassa (Finanças), José Carlos Cosenza (Abastecimento), José Miranda Formigli (Exploração e Produção), José Alcides Santoro (Gás e Energia) e José Antônio Figueiredo (Engenharia, Tecnologia e Materiais). Os únicos que permaneceram foram João Elek Junior, recentemente empossado para a nova diretoria de Governança, e o petista José Eduardo Dutra, diretor Corporativo e de Serviços e ex-presidente da estatal no governo Lula.

Hoje será um dia de incertezas no mercado, que voltará a pressionar para que o Conselho de Administração escolha amanhã nomes bem vistos pelos investidoresWilson Dias / ABR

Entre os mais cotados para o cargo de presidente estão Henrique Meirelles (ex-presidente do Banco Central), Rodolfo Landim (ex-presidente da BR Distribuidora e ex-presidente da OGX) e Roger Agnelli (ex-presidente da Vale), Murilo Ferreira (atual presidente da mineradora), além de Eduarda La Rocque, ex-secretária municipal da Fazenda do Rio e atual presidenta do Instituto Pereira Passos. Também foram citados Alexandre Tombini, atual presidente do Banco Central; Luciano Coutinho, presidente do BNDES.

Para o economista da Simplific Pavarini e professor de Economia do Ibmec-RJ, Alexandre Espírito Santo, a mudança fez-se necessária, mas o mercado vai exigir um nome de credibilidade. “Ouvi comentários sobre o Luciano Coutinho, mas acho difícil alguém do governo ser bem recebido. Meirelles é um nome muito bom, Murilo também. Mas tem uma pessoa que o Joaquim Levy (ministro da Fazenda) gosta muito, que é a Eduarda La Rocque. O mercado daria um voto de confiança a esses nomes com boa vontade”, avalia.

Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) e representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da estatal, Silvio Sinedino lamentou os nomes sugeridos para assumir a presidência. “A escolha deveria ser feita por mérito, não por indicação política. O que não falta é gente competente dentro da própria Petrobras”, diz.

Segundo Espírito Santo, nada impede que funcionários de carreira sejam escolhidos para ocupar cargos de diretores, “mas para a presidência tem que ser um nome que impressione”. Nos bastidores especula-se que o próprio Levy vai colaborar para a estatal encaixar o prejuízo com corrupção em seu balanço.

Sem dados concretos sobre fraudes, futuro da estatal ainda é incerto

As mudanças na cúpula da Petrobras, contudo, não são suficientes para resolver todos os problemas. Novos dirigentes devem apresentar as informações que não foram divulgadas na gestão anterior, como as baixas contábeis relacionadas à corrupção apontada pela Operação Lava Jato.

A oposição conseguiu ontem o número necessário de assinaturas para criar mais uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados para investigar denúncias de desvio de dinheiro na companhia. São necessárias 171 assinaturas para criar uma CPI, e houve 182 adesões.
Novo líder do PT, deputado Sibá Machado (AC) afirmou ontem que o partido, como maior legenda da Câmara, reivindicará a presidência ou a relatoria da CPI sobre a estatal.

A Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) também aprovou ontem o inquérito que investiga as perdas econômicas do estado com a estatal.

Para Alexandre Espírito Santo, não há como prever o futuro da companhia. “Ninguém sabe qual o preço da Petrobras hoje, não tem balanço. Quem compra ações agora age como especulador, não como investidor”, avalia.

Novo protesto na Petrobras

Operários da Alumini, empresa que atua no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, fizeram manifestação em frente a sede da Petrobras, no Centro do Rio, na tarde de ontem. Protestando contra atraso salarial, este foi o segundo ato em duas semanas.

Além de completar um mês que 2,5 mil funcionários estão sem pagamento, nesta quinta vence o salário de janeiro. Às 14h, ocorre uma audiência de conciliação na Justiça do Trabalho, no Centro do Rio. No protesto, a Avenida Chile, sentido Praça XV, chegou a ser fechada por alguns minutos. Os operários levaram cartazes e um caixão com um boneco vestido com uniforme de operário.

Depois da demissão, na sexta-feira, de 400 funcionários do Consórcio Integra (Mendes Junior e OSX) que trabalhavam no Porto do Açu, em São João da Barra, os funcionários decidiram entrar na Justiça. Definiram ainda pauta de reivindicações, que inclui protesto na BR 101 na próxima semana.

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