Por felipe.martins

Rio - Categorias importantes dos trabalhadores do Rio correm o risco de ficar sem a referência do piso salarial regional. Além de prejudicar as empregadas domésticas, com a redução das faixas salariais de nove para seis, a mensagem do governo do estado propondo o reajuste de 7%, omite as atividades dos comerciários, da construção civil, metalúrgicos e da indústria têxtil, entre outros.

O alerta foi feito pelo líder da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT), deputado André Ceciliano, criticando a omissão. “A ausência de categorias profissionais enfraquece a luta dos trabalhadores na hora de discutir os dissídios com a classe patronal. O piso regional serve como referência nessa discussão”, aponta o parlamentar.

Alertado pelo DIA, que a mensagem prejudicava as domésticas, proporcionando uma correção de apenas 1,75% para a categoria, o secretário da Casa Civil, Leonardo Espíndola, disse ontem que o texto será corrigido durante reunião de líderes de deputados na Alerj, “consertando eventuais equívocos ou distorções”.

Proposta encaminhada à Alerj ”apaga” das faixas salariais profissionais da indústria têxtil%2C do comércio e da construção civil%2C entre outros. Governo promete corrigir equErnestto Carriço

Sobre o índice de 7%, o secretário reconhece a importância dos trabalhadores fluminenses, mas diz que deve-se evitar qualquer “ação que possa gerar desemprego ou dificuldade de empregabilidade no estado.”
Presidente da Alerj, Jorge Picciani informou que fará um reunião com todos os interessados no tema: trabalhadores, patrões e representantes do Conselho Estadual de Trabalho e Renda. Porém, isso só ocorrerá após o Carnaval.

De efetivo, apenas a vontade dos trabalhadores de brigar por um índice maior que os 7% que constam da proposta. O percentual é levemente acima da inflação oficial de 2014 — IPCA de 6,41% — e do INPC de 6,23%, índice que mede a inflação das famílias que ganham de um a cinco salários mínimos (R$ 788 a R$ 3.940).

O percentual, porém, é menor que os 8,8% que reajustou o mínimo nacional este ano. Vale lembrar que a inflação no Estado do Rio, de 7,7%, foi a mais alta do país no ano passado. “Queremos falar com o governador, mas até o momento ele não respondeu nossa solicitação de reunião”, reclama Indalécio Wanderley, representante da CUT no Conselho Estadual.

Junto com outros sindicalistas, Indalécio percorreu ontem os corredores da Alerj tentando convencer os parlamentares a melhorar a proposta do governo. Ele lembra que o Estado de São Paulo, por exemplo, reajustou o piso regional dos trabalhadores paulistas em 11,75%. “Os deputados reconheceram que essa mensagem é um equívoco”, afirma.

OUTRO LADO

Gerente de Economia da Fecomércio-RJ, Christian Travassos alerta que de 2007 a 2014, o reajuste do piso atingiu 136,8% contra uma inflação de 59% no mesmo período e a correção do mínimo nacional ficou em 106,9%. Segundo ele, toda a classe empresarial passa por um cenário de pressão adversa com uma economia hesitante, ajustes nas contas públicas e juros altos. “A conjuntura é desfavorável. É preciso bom senso para evitar medidas mais desagradáveis. O percentual é um impacto forte, não podendo haver um índice maior”, alerta.

Para o gerente de Economia e Estatística do Sistema Firjan, Guilherme Mercês, o índice proposto na mensagem do governo é bastante ousado, já que possui ganho real para os trabalhadores num momento em que a economia fluminense apresentou o pior quadro de geração de empregos nos últimos 14 anos. “No ano passado, a indústria demitiu dois mil trabalhadores, mesmo número na construção civil”, cita Mercês. Para ele, qualquer reajuste maior pode agravar a situação e gerar novas demissões.

Presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio, Rodolfo Tavares cita que o valor nominal de R$ 890,04 proposto para a faixa 1 (trabalhadores rurais), com a correção de 7% é, na verdade, de 12,9% em relação ao salário mínimo nacional, hoje de R$ 788. “É uma proposta equilibrada. Mas diante do que deve ocorrer na economia esse ano, pode afetar a competitividade do estado”, afirma o dirigente.


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