Por bferreira

Rio - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a chamada taxa Selic em 0,5 ponto percentual ontem. A taxa, que é usada como referência para os juros praticados no país, subiu para 12,75%.

A decisão já era esperada pelo mercado, que contava com a medida como forma de frear a inflação, mas provocou reações do setor produtivo. Em nota, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) criticou a forma como a questão está sendo conduzida. “O ajuste fiscal deve privilegiar a diminuição dos gastos públicos de natureza corrente, inclusive criando regras explícitas que limitem o seu crescimento”, informou nota oficial da entidade.

Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou para a possibilidade de queda no nível de emprego. “O aumento dificultará ainda mais a recuperação da economia e colocará em risco o emprego.”

Dólar

O dólar superou a fronteira dos R$ 3 ontem, durante o pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Ao final da sessão, a moeda a vista terminou com alta de 1,81%, cotada a R$ 2,9804 para venda, no maior patamar desde 2004. A divisa subiu com o clima de instabilidade política. Na noite de terça-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entregou ao Supremo Tribunal Federal os pedidos de abertura de inquérito contra 54 políticos suspeitos de participar do esquema de propina envolvendo a Petrobras. No Senado, o clima de tensão na base aliada provocou a rejeição da medida provisória que trata de desonerações tributárias, o que dificulta o ajuste nas contas públicas planejado pelo governo.

Nas casas de câmbio, a moeda gravitou entre R$ 3,05 e R$ 3,20 e compradores colocaram o pé no freio. O analista de sistemas Vinícius Monken, 36 anos, desistiu de uma viagem que faria em julho aos Estados Unidos por conta da alta do dólar. “Tudo fica mais caro, desde o táxi na saída do aeroporto até o jantar em um restaurante. O jeito vai ser viajar pelo Brasil. Terei que adiar o meu sonho de conhecer Nova Iorque”, afirma.

A alta preocupa agências de turismo, que já veem queda no movimento. Além do encarecimento do dólar, há preocupação com o aperto no orçamento das famílias, provocado pelo conjunto inflação alta e baixa atividade econômica. Agências maiores, com mais poder de barganha, estão oferecendo a conversão a câmbio mais atrativo. Ontem, a CVC estava ofertando pacotes com o dólar a R$ 2,55. “Pelo fato de a CVC fazer reservas em grandes volumes junto aos seus fornecedores, a operadora consegue manter seus preços estáveis e reverter promoções de câmbio reduzindo preços aos consumidores”, informou a empresa.

Para o professor de Economia Internacional da Faculdade Santa Marcelina, Waldemar Hazoff Junior, quem pensar em adiar sua viagem para o exterior deve estar disposto a esperar um tempo generoso, pois não há perspectiva para que a moeda caia no curto prazo. “O Brasil está construindo um ambiente recessivo para colher os benefícios lá para 2017. Não vejo tendência de queda no dólar durante este período”.

Hazzoff lembra que apesar de desagradar aos turistas, o dólar alto é interessante para o setor produtivo, pois estimula exportações e ajuda a equilibrar a balança comercial brasileira , que está deficitária.

Bacalhau e vinho mais caros na Páscoa

O bacalhau, um dos principais produtos da Páscoa, vai sair mais caro neste ano, devido à alta do dólar. Proprietário do Empório Quintana, misto de delicatessen e restaurante no Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara (Cadeg), Rodrigo Quintana afirma que o produto subiu 50% entre março do ano passado para o mesmo período deste ano. “Eu comprava a R$28 e estou pagando R$ 42. Por enquanto, estou diminuindo minha margem de lucro, mas na Páscoa terei que repassar o aumento”, afirma.

Trabalhando com cerca de 60% de produtos importados, o empresário ainda sofreu um baque com a mudança na forma de tributação dos vinhos, que começou a vigorar no fim do ano passado. “Estou com medo da Páscoa, porque vendo supérfluos e esta é a primeira coisa que as pessoas cortam quando estão sem dinheiro”, lamenta.

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